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PSI-20 afunda 11,5% em semana negra com medo do coronavírus. Cotadas perdem 7,5 mil milhões
O valor de mercado das cotadas do PSI-20 encolheu 7,5 mil milhões de euros e o índice afundou 11,5% numa semana negra para os mercados bolsistas a nível global, com os investidores já a descontarem os piores cenários do impacto económico do coronavírus.
Na semana em que o BES foi alvo de uma resolução que ditou o fim da instituição financeira histórica em Portugal (início de agosto de 2014), o PSI-20 sofreu uma violenta queda de dois dígitos (-10,11%).
Antes disso o principal índice português (na altura constituído por 20 cotadas) já tinha sofrido quedas semanais idênticas ou até de maior dimensão. Em agosto de 2011 o PSI-20 recuou 9,37%, em maio de 2010 desceu 10,58% e em novembro de 2008 afundou 10,97% numa só semana.
Estes desempenhos semanais negativos foram agora superados. Nas cinco sessões que terminaram hoje o índice português afundou 11,53%, um comportamento que replica o desempenho dos principais índices bolsistas mundiais na semana em que o medo com o impacto do coronavírus se instalou em força nos mercados.
Para encontrar uma queda semanal mais forte é preciso recuar a outubro de 2008, quando o PSI-20 desceu 18,59% numa semana pouco tempo depois do na altura impensável colapso do Lehman Brothers e que deu origem a uma crise financeira à escala global sem precedentes.
Na semana que agora termina os principais índices mundiais também sofreram perdas de dois dígitos e as quedas mais violentas desde a crise financeira. A diferença entre o PSI-20 e grande parte dos índices mundiais é que estes atingiram máximos históricos na semana passada e o recorde recente da bolsa portuguesa era apenas de 2018.
Como habitual em períodos de "sell off" nas bolsas, a queda foi generalizada entre as cotadas portuguesas. Na avaliação relativa, a Mota-Engil foi a mais castigada do PSI-20 (-18,02%), sendo que foram 12 as cotadas que desceram mais de 10%. Dito por outras palavras, dois terços das cotadas do índice da bolsa portuguesa sofreram perdas de dois dígitos na semana. A Ibersol, com uma queda de 4,91%, conseguiu o melhor desempenho. As cotadas de maior dimensão, como o BCP, Galp Energia, Nos, Sonae e EDP marcaram perdas em torno de 13%.
Medo domina mercados
Os analistas explicam esta queda acentuada das bolsas mundiais com os receios de um forte impacto económico relacionado com a propagação do coronavírus fora da China, sobretudo em países como Coreia do Sul e Itália.
"Muito investidores estão a recear a incerteza quanto à duração e severidade de uma potencial pandemia, o que tem levado a um acelerar da fuga para ativos de refúgio", disse Ricardo Evangelista, analista sénior da ActivTrades, num comentário enviado ao Negócios.
John Lau, analista de investimentos da SEI Investments na Ásia, disse à Reuters que "os investidores estão a precificar já o pior dos cenários e, nesta altura, o maior risco é perceber o que acontece nos Estados Unidos e noutros grandes países asiáticos".
"O medo de uma recessão económica global, desencadeada pela crise do coronavírus, aumenta à medida que surgem cada vez mais casos em novos países", sublinha Ricardo Evangelista.
"O medo do desconhecido está a fazer com que os traders percam a paciência e se afastem das ações", diz David Madden, da CMC Markets.
De acordo com as agências internacionais, os mercados acionistas globais perderam mais de 5 biliões de dólares nesta semana. Uma ínfima parcela diz respeito ao mercado português.
Cotadas portuguesas perdem 7,5 mil milhões de euros
As contas do Negócios com base nos dados da Bloomberg mostram que as cotadas portuguesas do PSI-20 acumularam uma perda de valor de 7,53 mil milhões de euros durante esta semana negra.
A EDP, que é de longe a cotada mais valiosa da praça portuguesa, foi a que sofreu a maior perda em valor. A capitalização bolsista baixou 2,4 mil milhões de euros, mas permanece acima dos 15 mil milhões de euros já que a elétrica tinha atingido máximos desde 2008 na semana anterior.
A Galp Energia foi a segunda que mais perdeu (1.596 milhões de euros), seguindo-se a Jerónimo Martins, EDP Renováveis e BCP, tal como pode ser constatado na tabela em baixo.