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Analistas: Aproximação entre PS e BE afunda acções da banca nacional
A possibilidade de formação de um governo à esquerda penalizou os títulos da banca nacional, devido à incerteza dos investidores perante as medidas que poderão ser implementadas caso esse cenário se concretize.
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Foi uma segunda-feira de fortes perdas para a banca nacional. Nesta primeira sessão da semana os títulos do sector financeiro português afundaram em bolsa, penalizando o desempenho do principal índice português, o PSI-20, que encerrou com uma desvalorização de 3,05%.
A liderar as perdas esteve o BCP, que afundou 9,38% para 5,7 cêntimos, enquanto o BPI desvalorizou 7,29% para 1,068 euros. Estas foram as maiores descidas desde 29 de Junho, sessão em que o banco liderado por Nuno Amado caiu 11,15% e a instituição dirigida por Fernando Ulrich recuou 8,45%. Já o Banif cedeu 2,63% para 0,4 cêntimos, o valor mais baixo de sempre.
Esta segunda-feira, as perdas do sector agravaram-se por volta das 14 horas, num movimento que coincidiu com as declarações de António Costa e Catarina Martins na sequência da reunião entre o Partido Socialista e o Bloco de Esquerda. O líder socialista assinalou que há margem para aproximar posições" com o BE e Catarina Martins afirmou que estão criadas as condições para um governo liderado pelo PS e apoiado pelo BE.
Além de um movimento de correcção – visto que o BCP subiu quase 40% nas últimas duas semanas, e o BPI mais de 26% - a queda das acções da banca justifica-se pela incerteza que envolve a eventual formação de um governo à esquerda, segundo os analistas consultados pelo Negócios.
"Após as fortes subidas, a banca nacional está a entrar numa fase de correcção, agravada por um possível governo de esquerda. Toda a bolsa nacional agravou as perdas, a partir do momento em que foi vinculada a notícia de que é possível que o PS tente um governo à esquerda e que cancelou a reunião com a coligação amanhã", refere Pedro Lino, CEO da Dif Broker.
Na opinião de Albino Oliveira, analista da Fincor, a possibilidade de um governo formado por partidos "tradicionalmente considerados de ‘protesto’" configura um cenário de incerteza, que os mercados financeiros rejeitam. "Os mercados não gostam de incerteza, pelo que é usual incorporarem um maior prémio de risco nesta situação, consequência de um maior risco político devido à incerteza dos investidores perante as medidas que poderão ser implementadas se concretizado esse cenário", concretiza Albino Oliveira.
Apesar de considerar que a correcção do sector na sessão de hoje "não é surpreendente", depois das subidas significativas das últimas sessões, a equipa de research do BiG, defende que a formação de um governo à esquerda poderá ser "negativa" para a imagem externa de Portugal junto dos investidores internacionais.
"A redução da austeridade, o aumento do rendimento disponível das famílias e a reposição de feriados poderão deteriorar as condições de financiamento nos mercados de dívida pública, na medida em que os investidores interpretam tal recuo como prejudicial para a redução do défice e do endividamento, além da clara diminuição da competitividade empresarial do país a longo prazo", referem os analistas do Banco BiG. "Se a reeleição da coligação foi recebida com optimismo pelos investidores depois das eleições, é natural que o avanço das forças de esquerda nas negociações motive algum cariz pessimista".
Esse avanço poderá mesmo ser comparado com a ascenção das forças radicais na Grécia, que puseram em causa a austeridade e o processo de ajustamento do país, segundo Pedro Ricardo Santos, gestor da XTB Portugal. "As linhas programáticas dos partidos mais à esquerda do PS reavivam receios das "experiências" gregas dos últimos meses. Considerando a dependência da banca nacional da Zona Euro, qualquer sinal de aproximação com a esquerda radical assusta os investidores que começam a vender posições neste sector", defende o gestor.