Fim dos trabalhos no primeiro dia "à séria" de Web Summit

O primeiro dia de evento já chegou ao fim, com o término da sessão da comediante norte-americana Amy Poehler no palco principal do evento. 

Terminado o primeiro dia de conferências nos palcos distribuídos pela FIL, fica já patente um número: Pela primeira vez na história do evento, a Web Summit tem este ano mais mulheres entre os participantes do que homens. Segundo os números divulgados pela organização, 50,5% dos 42.751 participantes este ano são mulheres. 

O dia fica marcado ainda por outro número redondo, especialmente para as startups. O Governo e o Banco Europeu de Investimento têm mais 100 milhões de euros para apoiar tecnológicas, num anúncio feito por Pedro Siza Vieira, ministro da Economia, e Ricardo Mourinho Félix, vice-presidente do Banco Europeu de Investimento, durante uma conferência de imprensa.

Esta quarta-feira, a presença do Facebook continuará vincada no evento, com conversas dedicadas à atividade da gigante tecnológica. Além de Frances Haugen, são esperadas também intervenções de outra "whistleblower", Brittany Kaiser, uma das delatoras do caso Cambridge Analytica. 

Covid-19 levou banca e fintech a um "fast forward" na transição digital

As fintech e o futuro da banca tradicional são um dos temas nas sessões da Web Summit desta terça-feira. Guillaume Pousaz, fundador e CEO da empresa de pagamentos Checkout.com, considera que a pandemia levou a um "fast forward" de alguns anos na transição digital. 

A pandemia de covid-19 foi "terrível, mas o que fez foi acelerar a transição e a mudança digital que vínhamos a assistir", afirmou Guillaume Pousaz no Palco Central da Web Summit, esta terça-feira. "Fizemos um 'fast forward' de 4 ou 5 anos", realçou.

"Boom" das SPAC continua longe da Europa

Numa conversa com Cleo Sham, da Stride, e Julian Rowe, da Latitude, o tema das SPAC (special purpose acquisition company) esteve em análise no palco Venture. 

De acordo com Julian Rowe, os números na Europa deste tipo de operações, que são alternativas aos IPO tradicionais e à colocação direta de negócios em bolsa, ainda estão longe do "boom" que é registado do outro lado do Atlântico. No espaço europeu, os exemplos são mais escassos, com a "startup" britânica Cazoo a fazer uma operação destas para entrar em bolsa nos Estados Unidos, após ter acordado a fusão com um SPAC. 

"O ponto de partida é perceber se entrar em bolsa através de uma SPAC é a opção certa para a empresa. A primeira questão é perceber se isto é uma forma razoável de transformar a base de acionistas", explicou Julian Rowe. 

Do ponto de vista de Cleo Sham, "as complexas questões regulatórias que estão associadas à realização de um IPO nos Estados Unidos tornam as SPAC uma oportunidade mais apelativa" para algumas companhias. 

Governo e BEI têm mais 100 milhões para apoiar tecnológicas

O Governo e o Banco Europeu de Investimento têm mais 100 milhões de euros para apoiar tecnológicas. A segunda fase do fundo Portugal Tech foi lançada esta terça-feira na Web Summit. 

O anúncio foi feito por Pedro Siza Vieira, ministro da Economia, e Ricardo Mourinho Félix, vice-presidente do Banco Europeu de Investimento, durante uma conferência de imprensa.

Siza Vieira afirmou que o fundo Portugal Tech já captou 273 milhões de euros de investimento privado para 30 empresas com grande potencial de crescimento. 

Nick Clegg refere esforços do Facebook na questão da desinformação em intervenção à distância

Nick Clegg, o vice-presidente de "global affairs" do Facebook era uma presença esperada neste segundo dia de Web Summit, numa altura em que a empresa atravessa um novo período de escrutínio após a revelação de documentos internos nos "Facebook Papers". 

Clegg era esperado presencialmente no evento, mas a intervenção foi feita à distância, através de videoconferência, após algumas mudanças de horário na agenda do evento. 

O tema do papel da rede social no combate à desinformação e discurso de ódio na plataforma era um tema incontornável, especialmente após a intervenção de Frances Haugen, denunciante do Facebook e ex-funcionária da empresa, feita ontem na cerimónia de abertura. 

Nick Clegg defende que a empresa "aloca recursos suficientes e pôs em prática medidas" para atacar o tema da desinfomação. "Acho que já fizemos progressos suficientes, temos equipas para diversos territórios, contratámos revisores de conteúdo e desenvolvemos novos idiomas", disse Clegg, reconhecendo que se "trata de uma jornada". 

Além disso, Clegg rejeitou a teoria de que os utilizadores do Facebook fazem um uso passivo dos serviços da empresa. "Acho que o que acontece nestes debates, quando são tão intensos, é de que alguma forma parecem caricaturas". "Milhares de milhões de pessoas utilizam estas ferramentas de forma gratuita - que são pagas por publicidade - para se expressarem e comunicar", defendeu.

Governo devia ter chegado a acordo para evitar greve do metro, diz Moedas

O primeiro dia "à séria" da Web Summit foi marcada por uma greve parcial dos trabalhadores do metro de Lisboa, que dificultou a chegada de muitos participantes ao evento. Carlos Moedas, presidente da Câmara de Lisboa, lamenta que o Governo não tenha chegado a acordo antes do arranque do evento.

"É realmente uma pena que o Governo não tenha conseguido resolver a situação antes da semana da Web Summit", disse Moedas aos jornalistas durante uma conferência de imprensa esta terça-feira, 2 de novembro, na Web Summit. 

"Estamos a fazer todos os esforços naquele que é o meu poder", através do reforço de autocarros, referiu, notando que este é um "direito absoluto dos trabalhadores".

"Há aqui um papel do Governo que era não deixar chegar a situação a este ponto", disse, salientando ainda que "a culpa é de quem não se entendeu e não conseguiu chegar a um acordo esta semana".

Pandemia foi "uma janela de oportunidade" para as startups europeias

Numa conversa focada no desenvolvimento do ecossistema de startups na Europa e como estas companhias têm conseguido atrair capital, a pandemia foi um tema incontornável. 

Reshma Sohoni, da Seedcamp e Jan Hammer, da Index Ventures, frisam que, após a pandemia, "as empresas são globais", já sem barreiras. 

"Acho que a pandemia foi uma janela de oportunidade que aparece uma vez em cem anos para as startups europeias. Acho que tudo aquilo que a Europa tinha como fragilidades - a questão de o talento estar mais fragmentado, por exemplo, resultou neste caso", afirma Reshma Sohoni, notando a questão da flexibilidade trazida pela pandemia, tanto no que toca ao trabalho à distância como às reuniões por Zoom. Especialmente no setor tecnológico, as empresas estão a apostar no trabalho remoto para conseguir responder à falta de recursos humanos, sendo possível recrutar alguém que nem está no mesmo país da empresa que contrata.

"Abrir a oportunidade ao talento foi uma grande mudança", reconhece Hammer. "Historicamente havia o conceito de um coração, um centro, Silicon Valley era onde estava o coração da inovação. E agora as empresas podem ser criadas em qualquer lado."

Na visão destes dois oradores, o facto de as empresas europeias terem conseguido atrair 75 mil milhões de dólares em financiamento, acima dos 45 mil milhões do ano passado, e a quantidade de postos de trabalho criados na indústria tecnológica europeia dão a "entender que já não é uma questão só das startups, esta é uma indústria mainstream".

O primeiro dia "à séria" de Web Summit

A Web Summit regressou esta segunda-feira a um formato presencial e com lotação esgotada, com um total de 40 mil participantes esperados na conferência de empreendedorismo e tecnologia. 

Depois da cerimónia de abertura, que contou com intervenções de Pedro Siza Vieira, Carlos Moedas ou da denunciante do Facebook, o primeiro dia "à séria" da conferência traz uma agenda cheia. 

A intervenção de Nick Clegg, do Facebook, é uma das conversas esperadas do dia, com o tema "o Facebook e a inovação na Europa". O antigo primeiro-ministro do Reino Unido é vice-presidente de "global affairs" da rede social e é já uma presença habitual no evento. 

Ainda no palco principal são esperadas intervenções sobre o ecossistema de inovação na Europa e capacidade de atrair investimento.