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Denunciante do Facebook: empresa prefere "investir milhões em jogos" em vez de tornar plataformas seguras

Frances Haugen, ex-funcionária do Facebook, era o nome mais esperado na cerimónia de arranque da Web Summit. A denunciante sugere que talvez seja tempo de outra pessoa tomar as rédeas do império das redes sociais.

Frances Haugen, a denunciante do Facebook na Web Summit 2021. Web Summit
01 de Novembro de 2021 às 20:19
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Não gosta de ser o centro das atenções, mas era uma das presenças mais aguardadas na Web Summit deste ano, depois de ter revelado documentos internos sobre o negócio do Facebook. Frances Haugen, ex-funcionária da tecnológica norte-americana, responsável pela área dos trabalhos ligados ao combate à desinformação na plataforma, fez a primeira aparição num evento público na Web Summit, em Lisboa.

A antiga gestora de produto do Facebook revelou em documentos fornecidos ao Wall Street Journal, e mais tarde ao Consórcio de Jornalistas, que a rede social deu prioridade aos lucros, deixando para segundo plano o tema da desinformação. 

Na Web Summit, revelou que o ponto de viragem para perceber que era tempo de bater com a porta foi a "delicada dança" entre aquilo que é possível saber sobre uma companhia e as consequências que têm na realidade. "Descobri coisas que colocam a vida de pessoas em risco", sublinhou Haugen, dando como exemplo países onde os sistemas de verificação de conteúdos não estão totalmente desenvolvidos. 

"Quando a base de segurança é feita desenvolvendo tecnologia idioma a idioma", explicou Haugen, referindo-se aos sistemas de inteligência artificial das empresas que analisam conteúdos, algumas regiões do mundo onde estes sistemas não estão ainda desenvolvidos estarão a deixar parte da população vulnerável. Deu como exemplo a Etiópia, "onde está a decorrer um genocídio" e onde "há seis idiomas". 

Frances Haugen referiu que o Facebook - agora com o nome Meta - está a criar "falsas escolhas" na questão de optar entre ter "discurso livre ou censura" na plataforma. "As pessoas más e ideias más não são a questão, mas sim quem é que tem o maior megafone", clarificou Haugen. 

De acordo com esta denunciante, o algoritmo do Facebook está a aumentar as posições mais extremistas que estão disponíveis nas redes sociais, ampliando o número de pessoas às quais os conteúdos mais polarizados podem chegar. 

"O Facebook escolhe expandir-se para novas áreas em vez de acertar a aterragem naquilo que já está a fazer. Em vez de investir para garantir que as plataformas são seguras, prefere investir milhões em jogos", sublinhou, referindo-se ao anúncio de que a empresa pretende mudar de nome para Meta, com o objetivo de focar-se no desenvolvimento do metaverso, um universo digital. 

Facebook "seria mais forte" com alguém que estivesse disposto a focar-se na segurança
Em várias ocasiões da conversa no palco da Web Summit Frances Haugen frisou que não gosta de ser o centro das atenções e que falar perante os milhares de participantes da conferência era um motivo de preocupação. 

Questionada sobre se alguma vez sentiu medo, uma vez que revelou documentos de uma empresa cujos serviços são utilizados por mais de 2 mil milhões de pessoas, Haugen explicou que foram as pessoas que motivaram a decisão. "Acho que todas as pessoas razoáveis que tenham a oportunidade de salvar uma pessoa e ter consequências para si mesmas vão escolher salvar a vida de outra pessoa".

"Estava muito assustada antes de sair do Facebook, mas quando saí acreditei genuinamente que há milhões de vidas em risco e, comparando com isso, as consequências não parecem assim tão más", explicou. 

Quando questionada diretamente sobre se o Facebook - ou Meta, a partir de agora - ficaria melhor ou pior caso Mark Zuckerberg abandonasse a liderança da empresa, Haugen refere que "os acionistas devem ter o direito de escolher o CEO", assumindo que "é pouco provável que a empresa mude se ele continuar como CEO". 

"Acho que o Facebook seria mais forte com alguém que estivesse disposto a focar-se na segurança", concluiu a ex-gestora de produto da rede social.

A Web Summit regressa este ano ao formato presencial, depois de uma edição totalmente digital em 2020 devido à pandemia de covid-19. São esperadas 40 mil pessoas no Parque das Nações, que terão de apresentar um certificado digital à entrada ou um teste negativo à covid-19 para aceder ao evento. 

Facebook classifica comparação como "absurda"
Em declarações enviadas ao Negócios, a empresa comenta as declarações da ex-funcionária na Web Summit, referindo que o argumento feito é "uma falsa escolha".

"Esta é uma comparação absurda e uma falsa escolha. Não é como se uma companhia conseguisse apenas desenvolver nova tecnologia ou investir em manter as pessoas seguras. Obviamente podemos fazer ambas as coisas ao mesmo tempo - e estamos a fazê-lo", indica um porta-voz da companhia. 

(notícia atualizada às 10h30 de dia 2 de novembro)
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