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Turismo queixa-se: "Não há trabalhadores suficientes. E como não há flexibilidade, temos a rapaziada na precariedade”
Pela primeira vez, os operadores hoteleiros e da restauração em Portugal apontam "a escassez de recursos humanos como constrangimento ao crescimento do negócio". Não falta apenas pessoal qualificado. Faltam trabalhadores.
A conclusão de um inquérito levado a cabo pela Associação de Hotelaria de Portugal (AHP) foi trazida pela presidente executiva da organização ao 14.º Fórum Internacional de Turismo, que está a decorrer durante esta terça-feira, 26 de março, em Vila Nova de Gaia. "Não há recursos humanos suficientes para trabalhar na hotelaria", alertou Cristina Siza Vieira.
Já o vice-presidente da Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP) tocou no ponto nevrálgico em matéria de recursos humanos: os salários. "Se crescemos assim tanto, se o negócio do turismo está a dar assim tanto dinheiro, porque é que se reclama tanto que os profissionais da hotelaria não estão a ganhar aquilo que deviam?", questionou Joaquim Ribeiro.
A resposta estará nos empréstimos ao financiamento da atividade realizados em época de crise. "Há uma tendência para esquecer que muitos destes negócios que cresceram ao longo de cinco anos ainda estão a pagar as dívidas que fizeram", respondeu o representante da AHRESP.
Recorde-se que, no dia anterior, trabalhadores do setor manifestaram-se no Porto, reclamando aumentos de 4%, num mínimo de 40 euros, e um salário mínimo de 650 euros.
Joaquim Ribeiro concorda com a falta de recursos humanos na hotelaria e alertou para a tendência futura para encontrar resposta na imigração. "Este é um dos problemas mais graves que temos", afirmou, para acrescentar que "temos que dignificar as carreiras, pagar melhor". O vice-presidente da AHRESP sublinhou, ainda, o "défice de competências" e falta de pessoal também na área da restauração. "Tem que haver um trabalho profundo entre as associações, sindicatos e Governo", defendeu, "para que este negócio seja sustentável".
Convidado a participar num painel sobre "O Negócio do Turismo: Onde estamos e para onde vamos?", o presidente da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo apelou a uma maior "liberdade económica" no setor. Pedro Costa Ferreira acredita "enquanto não houver menor dependência dos subsídios por parte dos empresários, menos impostos e mais flexibilidade laboral, não haverá melhor investimento e não haverá melhor e mais turismo".
O representante das agências de viagens não acredita que maior flexibilidade laboral leve a uma maior precariedade. "Não se compreende como não se pode fazer contratos sem termo, mas plurianuais e apenas para um período do ano", lançou. A solução, acredita Pedro Costa Ferreira, "resolvia o problema de muitos hotéis e o problema de imensos trabalhadores que iam receber salários melhores nos hotéis de maio a outubro e no resto do ano iam trabalhar, por exemplo, para um cruzeiro".
"Como não há flexibilidade, temos a rapaziada na precariedade", sentenciou.