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Alexandre Fonseca, o apaga fogos da Altice

Focado, metódico e distante das pessoas com quem trabalha. É assim que antigos colegas da Geotur, Cabovisão e Oni definem o novo presidente executivo da Meo. Alexandre Fonseca, de 43 anos, é ainda destacado como "o homem Altice".

Miguel Baltazar/Negócios
Sara Ribeiro sararibeiro@negocios.pt 25 de Novembro de 2017 às 10:00

"O Alexandre tem toda a nossa confiança". As palavras são de Patrick Drahi, fundador e presidente da Altice, depois da empresa ter confirmado a nomeação de Alexandre Fonseca como presidente executivo da Meo. Uma escolha que não surpreendeu os actuais e antigos colegas do gestor ouvidos pelo Negócios, que o consideram o "homem Altice".

Licenciado em Engenharia Informática pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, Alexandre Fonseca integra a família Altice desde 2012, quando o grupo francês comprou a Cabovisão. Mas o seu percurso profissional começa bem antes, na área de consultoria.

É por volta do ano de 1999 que Pedro da Mata Fernandes se cruza pela primeira vez com Alexandre Fonseca na Geotur. Na altura , o novo CEO da Meo era consultor da PricewaterhouseCoopers (PwC) e estava a avaliar a compra da empresa de turismo pelo Grupo RAR. A primeira impressão? "Um óptimo profissional" com "excelentes capacidades de comunicação" e "muito metódico", contou ao Negócios Pedro da Mata Fernandes, actual IT "manager" da GeoStar. Aliás, o trabalho de Alexandre Fonseca causou tão boa impressão que acabaram por o convidar para gerir o projecto de turismo, como director de Tecnologias de Informação, que consistia na venda de viagens online, relatou.

Alexandre Fonseca, na altura recém-casado, era sempre dos primeiros a chegar ao escritório, mas também fazia questão de sair a horas. "Tinha um horário rígido", revelou Pedro da Mata Fernandes, acrescentando que quando tinham projectos em que era necessário trabalhar pela noite fora "ele acompanhava-nos".

Passado pouco mais de um ano, Alexandre Fonseca, nascido e criado em Lisboa, regressou à PwC como responsável de desenvolvimento de negócios, onde permaneceu até final de 2003, data a partir da qual ingressou na IBM como responsável de projecto. A experiência no campo da consultoria é apontada por alguns dos colegas como um dos factores-chave para o desenvolvimento da capacidade metódica do gestor. "Há três características essenciais no Alexandre: método, rigor e disciplina", apontou Gonçalo Araújo Barradas, antigo responsável na Cabovisão. "Tudo para ele gera um processo. Ele tem essa capacidade, talvez por ter sido consultor", comentou. "Todas as empresas têm orçamentos limitados, mas ele conseguia contornar 'budgets' de forma muito assertiva. É muito focado".

O homem Altice

São estes traços que levam todos os testemunhos ouvidos pelo Negócios, alguns dos quais preferiram não ser identificados, a não ter dúvidas que se trata de um "homem Altice". "Ele encaixa perfeitamente na família e metodologia Altice", "muito mais do que Cláudia Goya", a anterior CEO da Meo que ocupou o cargo por quatro meses, disse um dos ex-colegas da Cabovisão.

O facto de ser muito focado em objectivos, firme e, também, distante das pessoas com quem trabalha, são as principais características destacadas para o perfil de "homem da Altice", grupo com o qual se cruzou em 2012 na Cabovisão - operadora onde já trabalhava desde 2007 como director de sistemas e tecnologias de informação. Aliás, o perfil de Alexandre Fonseca parece também ter agradado de imediato a Patrick Drahi, tendo o gestor sido promovido a "Chief Technology Officer" (CTO) depois do grupo francês ter assumido os comandos.

Quando a Altice comprou a Cabovisão, a operadora já estava com alguns problemas a nível financeiro. O que obrigou a uma reestruturação da empresa, a qual levou à saída de mais de 100 trabalhadores. Este foi o primeiro processo complicado pelo qual Alexandre Fonseca passou, já integrando a família Altice. Mas os mais turbulentos foram já vividos dentro do universo PT.

"É uma pessoa muito estruturada, fria e até calculista", referiu um antigo colega. "É distante das pessoas com quem trabalha no dia-a-dia", acrescentou outro profissional da Cabovisão. Questionado sobre estas características de Alexandre Fonseca quando trabalhava nesta operadora, Gonçalo Araújo Barradas referiu que não sentiu "nada disso". "Ele estava sempre disponível. Ligávamos e estava sempre disposto a ajudar".

Na temporada que passou pela Geotur, "não era uma pessoa muito próxima de nós, sentíamos isso. Mas para a função que tinha fazia o seu sentido", sublinhou.

Outra das características apontadas é a roupa "singular" do gestor, nomeadamente a "brilhantina", os fios com cruzes – uma opção que poderá estar relacionada com o facto de ser católico – e as pulseiras. Uma "imagem de marca" conhecida desde os seus primeiros passos profissionais.

Da vida pessoal de Alexandre Fonseca pouco se sabe. Mesmo quem trabalhou com ele durante vários anos. A tecnologia é uma das suas grandes paixões e "o conhecimento aprofundado" sobre o tema é prova disso, reforçaram alguns dos testemunhos. Depois de ao longo da sua carreira ter trabalhado em vários países, entre os quais Brasil, Moçambique, Suíça, EUA, Canadá, Alemanha, França e Suécia, actualmente Alexandre Fonseca gosta de viajar com frequência pelo território nacional. E o automobilismo e a aviação são outras das suas paixões conhecidas.

O tempo que tem livre é passado em família, principalmente com a mulher e o filho.

O novo homem-forte da Meo

Depois de ter estado presente na reestruturação da Cabovisão, quando a Altice comprou a Oni, em 2013, Alexandre Fonseca foi nomeado presidente executivo da operadora direccionada para o segmento empresarial. Nesta função, foi responsável pela introdução da reestruturação levada a cabo pela Altice, que também implicou saídas de trabalhadores.

Mal o grupo francês fechou a compra da Meo, o gestor foi convidado para integrar o "board" como CTO. Paulo Neves foi o nome escolhido para CEO. Mas Alexandre Fonseca esteve sempre presente nos momentos cruciais da operadora. Além de ter sido o rosto da execução da expansão da rede da Meo de fibra óptica a 5,3 milhões de casas até 2020, foi também nomeado como responsável executivo da Altice Labs – a antiga PT Inovação, em Aveiro, que foi transformada no quartel-general de inovação do grupo francês.

Todos os principais dossiês passaram pelas mãos de Alexandre Fonseca, que deu a cara pela Meo nos bons mas também nos maus momentos. Depois das notícias de eventuais despedimentos e transferência de trabalhadores na Meo, a polémica em torno das alegadas falhas do SIRESP – rede da qual a PT é accionista e fornecedora – foi a mais recente dor de cabeça da Meo.

Mais uma vez, foi Alexandre Fonseca que falou em defesa da Altice. E todas as suas intervenções sobre o tema foram assertivas. "Falámos hoje, e só hoje, porque tivemos consciência de que era um dever para com o país. Mas também, sinceramente, porque quem define o nosso tempo somos nós. A pressa é inimiga da perfeição", respondeu Alexandre Fonseca em Agosto, quando questionado porque é que a PT só reagiu dois meses depois do incêndio em Pedrógão que originou várias queixas à rede SIRESP.

Na semana passada, assumiu os comandos da Meo, numa altura em que a Altice está a viver tempos de turbulência. Com os resultados do terceiro trimestre abaixo do esperado, e a dívida a continuar a engordar, o grupo tem estado sob pressão dos investidores.

Para tentar acalmar os ânimos, a Altice decidiu reorganizar a estrutura de gestão do grupo, o que levou à saída de Michel Combes, CEO do grupo, e ao regresso dos homens de confiança de Drahi aos cargos de topo. Em Portugal, a escolha do comandante para liderar as operações da Meo numa altura de incertezas para a Altice recaiu, mais uma vez, sobre Alexandre Fonseca.

 

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