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Seedrs: A start-up que ajuda a financiar outras
Carlos Silva juntou-se a Jeff Lynn para lançar a Seedrs, a primeira plataforma de "equity crowdfunding" na Europa. O novo modelo, que pomete revolucionar o financiamento de start-ups, está a servir de base para a nova regulação do sector no Reino Unido.
"O problema clássico da maioria dos empreendedores na fase inicial é como levantar dinheiro, quando o que se tem é pouco mais do que uma ideia". Foi a busca por uma resposta para esta questão que levou Carlos Silva (na foto) a criar a Seedrs, uma plataforma de investimento em start-ups, inspirada no "crowdfunding", que democratiza o acesso dos investidores a estas empresas.
A ideia surgiu em 2009 quando Carlos Silva, engenheiro informático formado no Técnico, estava a terminar o MBA na Universidade de Oxford, no Reino Unido. As capitais de risco e mesmo os "business angels" não investem numa fase tão inicial e com valores tão baixos. "A maioria dos investidores estão limitados a ter um familiar rico, um amigo que lhes dá dinheiro ou terem a sorte de encontrar alguém que aposte neles pessoalmente". A solução foi construir uma plataforma com base no modelo de financiamento colectivo, o "crowdfunding". Em Julho de 2012 germinava em Londres a Seedrs, um ponto de encontro entre start-ups à procura de capital e investidores em busca do próximo WhatsApp ou Facebook.
A empresa já ajudou 66 empresas a conseguirem capital e tem 34 mil investidores registados. Recebe diariamente duas dezenas de propostas de empreendedores em busca dos primeiros milhares. O ano passado venceu o prémio de melhor start-up na London Web Summit, com o júri a salientar a esperança de que o novo modelo possa representar uma revolução no financiamento dos empreendedores. Na Seedrs, bastam dez libras para ser accionista de uma start-up.
Conseguir capital para arrancar com o negócio foi também um desafio para Carlos Silva . "Infelizmente não havia a Seedrs na altura", diz entre risos. "Felizmente tive a sorte de encontrar alguém que apostou pessoalmente em nós". Quando se mudou para Oxford alugou a casa através de uma agência. Meses mais tarde recebeu uma carta do senhorio solicitando um encontro para avaliar as condições da casa. Uma pesquisa no Linkedin revelou que era também um "business angel". Foi ele o primeiro investidor no Seedrs.
Se o desenvolvimento da plataforma tecnológica não era um problema para o engenheiro informático, o projecto encerrava um enorme desafio legal: "Como fazer isto funcionar dentro da regulação para os mercados financeiros existente?" Razão porque, ainda durante o MBA em Oxford, Carlos Silva foi ter com o colega Jeff Lynn, o outro fundador do Seedrs, especialista em direito de fusões e aquisições e CEO da empresa.
O pioneirismo da Seedrs – foi a primeira plataforma a conseguir a aprovação de um regulador financeiro em todo o mundo – obrigou a britânica Financial Conduct Authority (FCA) a um processo de aprendizagem. "Foi um processo longo e burocrático, mas eles foram muito directos e admitiram que estavam a tentar perceber como é que este modelo podia funcionar noutras empresas", conta Carlos Silva. A experiência com a Seedrs está a servir de base para a nova regulação do "crowdfunding" que está a ser preparada pela FCA.
A maioria das start-ups que procuram a plataforma são tecnológicas. Mas pela Seedrs já passou desde um produtor de queijo azul da Irlanda do Norte a produções de peças de teatro do West End. A Shareight, uma aplicação inovadora para compras online, bateu recentemente o recorde: angariou 350 mil libras de 95 investidores em 17 horas. O maior negócio foi protagonizado pela própria Seedrs, que em Janeiro levantou 2,5 milhões de libras de mais de 900 investidores.
Qualquer start-up europeia pode recorrer ao Seedr. Mas nem todas vêem a sua "candidatura" aprovada. "A maior parte são descartadas, porque são apenas tentativas para perceber como funciona o processo, não têm substância", explica Carlos Silva.
As que passam na selecção são escrutinadas pela equipa da Seedrs. "Nós aprovamos as campanhas que aparecem no 'site', como se de um prospecto se tratasse. A informação tem de ser factual, verídica e comprovável", diz o COO. Para conseguir o financiamento, a start- -up tem de conseguir, pelo menos, 100% do capital pretendido. Caso contrário o dinheiro é devolvido aos investidores. Por motivos legais, é constituída uma empresa de direito britânico, que fica com o capital levantado. Esta, por sua vez, adquire uma participação na "start-up" do país de origem.
O Seedrs cobra uma comissão de 7,5% sobre o montante angariado, desde que a empresa consiga os 100%. No "site", Seedrs.com, está à disposição um guia para empreendedores.
Democratizar o acesso a start-ups é um dos objectivos da Seedrs. "Pelo capital que exige, o mundo dos 'business angels' está limitado a 0,5% da população. Não estamos a dizer que 100% da população deveria ter acesso a isto, mas se falarmos de 20%, estamos a falar de uma 'pool' de capital muito maior", assinala Carlos Silva. Basta fazer um registo e 10 libras para investir numa start-up através da plataforma, mas o ideal é construir uma carteira diversificada de pelos menos 50 empresas.
Um estudo da BBAA, divulgado em 2009, demonstra que os resultados do investimento são muito díspares. "Tanto se perde todo o dinheiro, como se pode ganhar 100 vezes o capital investido", relata Carlos Silva. O retorno médio, tendo em conta as operações realizadas entre 1998 e 2008 no Reino Unido, é de 2,2 vezes o dinheiro aplicado, num prazo de 3,6 anos. O Seedrs actua como representante legal dos investidores, o que permite defender os seus interesses perante a empresa. É cobrada uma comissão de 7,5% sobre os lucros dos investidores.