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CGD, BCP e Novo Banco passam a ter mais de 70% da Inapa
Com a assembleia-geral desta quinta-feira, a banca perde o direito prioritário na recepção de dividendos da Inapa, que nunca aconteceu, mas asseguram o controlo accionista da distribuidora de papel. Mas há uma impugnação a caminho.
A Caixa Geral de Depósitos, o Banco Comercial Português e o Novo Banco passaram a deter mais de 70% da Inapa, com a decisão saída esta quinta-feira das assembleias-gerais da distribuidora de papel.
A assembleia-geral da empresa comandada por Diogo Rezende aprovou a proposta da Parcaixa, entidade detida totalmente pela CGD, de "conversão das acções preferenciais sem voto em acções ordinárias de forma a que a cada acção preferência corresponda a 1,25 acções ordinárias", segundo comunicou à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).
Com esta aprovação, acabam as acções preferenciais na estrutura accionista da Inapa. Estas acções, que davam direito a receber dividendos em primeiro lugar (o que acabou por nunca acontecer) foram subscritas pelos bancos em 2011, num aumento de capital da empresa e que resultou numa tentativa de redução da sua dívida bancária.
Só que estas acções preferenciais passavam a ter direito de voto caso não houvesse dividendos por dois anos seguidos, o que aconteceu. Desde 2014 que os bancos passaram a ter direitos de voto de modo significativo. As assembleias-gerais desta quinta-feira acabam por dar não só direitos de voto como também a propriedade do capital aos três bancos. A Inapa passa, efectivamente, a ser detida por bancos, que nada têm que ver com o negócio.
De acordo com os cálculos do Negócios, e com base no factor de conversão proposto pela Parcaixa (mais favorável para os bancos do que a troca de uma acção preferencial por 1,1 acções ordinárias que tinha sido avançada inicialmente pela administração), o banco público, através da Parcaixa, fica dono de cerca de 35% do capital da instituição financeira (superando os 33% que obrigariam a uma oferta pública de aquisição, mas sem que a tenha de lançar), seguido do grupo BCP, por via também do seu fundo de pensões, fica com 31%. O Novo Banco passa a deter mais de 6%.
A impugnação pela perda de forças
Como não tinha acções preferenciais, a Parpública perde peso no capital. A empresa estatal, que era a principal accionista da Inapa antes desta operação (e dona de 32,7% das acções ordinárias), fica apenas com 9% do capital após a conversão das acções preferenciais. A Nova Expressão, nas mesmas condições, vê a sua participação diminuída para menos de 4%.
Aliás, a Nova Expressão, presidida por Pedro Baltazar (na foto) e que tem 12,5% das acções ordinárias, admitiu já, antes mesmo do desfecho, que vai impugnar as decisões saídas das reuniões de accionistas. Está contra o rácio de conversão dos títulos preferenciais – queria que uma acção preferencial fosse trocada apenas por uma acção ordinária. Aliás, por considerar que os accionistas históricos (os que detêm acções ordinárias) eram prejudicados, Pedro Baltazar pede mesmo a demissão da gestão de Diogo Rezende.
Das reuniões saiu também a decisão de alterar os estatutos da Inapa para que nenhum accionista possa votar por mais de um terço dos direitos de voto - que a Nova Expressão também quer impugnar. Algo que já existia em 2014, como forma de impedir que a Caixa Geral de Depósitos, a Parcaixa e a Parpública tivessem, na altura, de lançar uma oferta pública de aquisição.
A compra na Alemanha
Entretanto, ficou também aprovado o aumento de capital da Inapa que permite a emissão de 15 milhões de euros em obrigações convertíveis que financia a compra da empresa alemã Papyrus Deutschland. Os títulos são entregues à OptiGroup, a dona da companhia germânica, que fica com a possibilidade de ficar com até 23% do capital da Inapa, podendo haver uma nova alteração accionista no futuro. Daí que a tenha de ser aprovado o aumento de capital da empresa, para configurar essa possibilidade.
Em bolsa, as acções da Inapa encerraram a sessão desta quinta-feira a cotar nos 10 cêntimos, uma valorização de 2% face ao fecho anterior. Ainda assim, no acumulado do ano, a distribuidora de papel, também presente na área de embalagem e comunicação visual, recua mais de 20%. A capitalização bolsista actual é de 15 milhões de euros - precisamente o valor da emissão de obrigações convertíveis que podem dar 23% do seu capital a um novo accionista.