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Portugal e França fecham acordo para acelerar produção de biometano
Esta parceria, que será formalizada na sexta-feira, insere-se no conjunto de acordos bilaterais que assinados durante a visita ao Porto do Presidente francês, Emmanuel Macron, reforçando a cooperação entre Portugal e França no domínio da transição energética.
A Floene e a GRDF, as maiores operadoras da rede de distribuição de gás em Portugal e França, vão reforçar a parceria estratégica para o desenvolvimento de gases renováveis, um passo que pode acelerar a produção de biometano em Portugal.
Esta parceria, que será formalizada na sexta-feira, insere-se no conjunto de acordos bilaterais que assinados durante a visita ao Porto do Presidente francês, Emmanuel Macron, reforçando a cooperação entre Portugal e França no domínio da transição energética.
A França tem sido apontada como um dos mercados com melhores resultados na implementação do biometano, com a Gaz Réseau Distribution France (GRDF) a ligar cerca de três novas unidades de biometano por semana à sua rede de distribuição.
O responsável da Floene considera que na base destes resultados não está apenas a "tecnologia" implementada pela congénere. "O sucesso passa muito pelas soluções regulatórias que acabam por ser favoráveis a este tipo de projetos", acrescenta, lamentando que em Portugal não aconteça o mesmo.
"Tivemos o Plano de Ação para o Biometano, que foi aprovado há um ano, e está agora a haver a nomeação dos grupos de coordenação para que as medidas sejam estudadas, desenvolvidas e implementadas. Temos de fazer isto mais depressa. A roda está inventada, deveríamos ser capazes de aproveitar e fazer em pouco tempo aquilo que outros países demoraram sete a oito anos", alertou.
Para Laurence Poirier-Dietz, presidente executiva da GRDF, este acordo é "uma forma de partilha de experiências e conhecimentos para ajudar os parceiros a desenvolver o que foi feito há anos no mercado francês".
Apesar de admitirem que França acaba por assumir mais o papel de professor e Portugal o de aluno, os responsáveis das duas empresas defendem que o grupo francês também acaba por vir beber conhecimento das experiências que estão a ser desenvolvidas em território nacional, nomeadamente na área do hidrogénio.
Questionada sobre que medidas poderiam ser replicadas em Portugal para acelerar a transição para o gás verde, Laurence Poirier-Dietz diz não ter qualquer dúvida que o sucesso de França passou pela introdução de tarifas garantidas ('feed in tariff'), que "permitiu reduzir custos de investimento para o produtor de biometano e trouxe benefícios em termos de previsibilidade de receitas".
O Plano de Ação para o Biometano estabelece o objetivo de substituir quase 10% do gás natural por biometano até 2030 em Potugal, uma meta que o CEO da Floene diz "não ser impossível de alcançar".
Aliás, segundo Gabriel Sousa, o país "tem um potencial que pode ir para além de 60% do consumo de gás ser substituído por biometano".
O responsável da empresa que gere nove das onze empresas de distribuição de gás em Portugal sublinha ainda que o que está em causa são projetos de "economia circular" que transformam resíduos do setor agropecuário ou do segmento de sólidos urbanos em energia limpa.
Como o biometano é uma molécula igual à do gás natural, a atual rede está apta para este gás renovável, e o mesmo se aplica ao hidrogénio se for consumido em mistura e não a 100%, explicou, dando como exemplo o projeto-piloto que estão a desenvolver no Seixal com uma mistura de cerca de 15%.
Para atingir as metas estabelecidas Portugal vai "precisar de todos os setores", advertiu, destacando o potencial de produção deste gás ‘verde’ no setor agropecuário e no segmento dos resíduos sólidos.
Atualmente, Portugal tem uma unidade piloto de produção de biometano em Mirandela. Já a GRDF tem mais de 600 centrais a injetar na rede.
Pedidos de injeção de biometano na rede de gás mais que triplicam em 2024
A Floene, que gere nove das onze concessões de gás em Portugal, já recebeu cerca de 230 pedidos de injeção de gases renováveis na rede, dos quais 33% para biometano.
Enquanto antes os pedidos incidiam mais para a injeção de hidrogénio renovável, durante o ano de 2024 houve "um crescimento significativo nos pedidos referentes ao biometano", tendo estes mais do que triplicado, disse à Lusa o presidente executivo da Floene, Gabriel Sousa.
"Do nosso lado, temos vindo a assistir a um crescimento de pedidos de injeção. Agora, para que esses projetos entrem em funcionamento, é crucial termos uma definição de legislação e de regulação", apontou.
O Plano de Ação para o Biometano, aprovado em Conselho de Ministros em 15 de março de 2024, estabelece o objetivo de substituir quase 10% do gás natural por este gás verde até 2030. Mas um ano depois, ainda está a ser feita "a nomeação dos grupos de coordenação para que as medidas sejam estudadas, desenvolvidas e implementadas", acrescentou.
"Temos de fazer isto mais depressa. A roda está inventada, deveríamos ser capazes de aproveitar e fazer em pouco tempo aquilo que outros países demoraram sete a oito anos", defendeu o responsável da Floene, que detém mais de 13,5 mil quilómetros de rede de distribuição de gás natural.
"Os investidores precisam de confiança e de previsibilidade", comentou, salientando que precisam de saber como serão os moldes do mecanismo de injeção.
"Por um lado, vemos com muita satisfação estes pedidos de injeção, mas que depois tardam em traduzir-se em projetos concretos porque os investidores estão à espera que essas regras estejam completamente definidas", referiu.
Um cenário contrário ao do mercado francês. "Em França as regras são muito claras. O apoio do regulador e do Governo são fortíssimos", explicou o CEO da Floene que esta sexta-feira vai reforçar a parceria estratégica para o desenvolvimento de gases renováveis com a GRDF, maior distribuidora de França.
Além disso, como destaca, em causa estão projetos "de elevada descentralização. Não são só em Lisboa ou no Porto, mas sim nas diversas regiões do país".
A produção de biometano pode ser feita através de resíduos do setor agropecuário ou, por exemplo, de resíduos urbanos.
"Acho que temos de ter uma definição, uma orientação da política energética, para acelerarmos o mais depressa possível a descarbonização do sistema de gás", alerta.
"Felizmente, temos vindo a assistir a um desenvolvimento muito significativo da eletricidade verde em Portugal. Mas não é sustentável e razoável um país depender de uma única solução. Precisamos de gás verde", referiu.
O responsável destaca ainda que as quantidades estão disponíveis. Na sua visão, Portugal agora precisa é de começar esta corrida o mais rápido possível.
Esta semana, a REN - Redes Energéticas Nacionais divulgou que os vencedores do primeiro leilão de biometano e hidrogénio renovável, financiado através do Fundo Ambiental, comprometeram-se com um prazo máximo de 36 meses para avançar com a injeção de gás renovável no sistema nacional de gás.
O leilão, no valor de 140 milhões de euros, permite contratos de longo prazo para a injeção de hidrogénio renovável na rede pública de gás.
As quantidades de gases renováveis fixadas neste leilão serão compradas pelo comercializador de último recurso grossista para injeção nas redes de transporte e distribuição, operadas pela REN e pela Floene, respetivamente.
Em cada zona geográfica existe um comercializador de último recurso que garante o fornecimento de gás natural aos consumidores economicamente vulneráveis ou em áreas ou segmentos de mercado onde não existam propostas no mercado livre.