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EDP de "olhos em bico" com namoro espanhol, francês e italiano

A eléctrica portuguesa é uma das mais atractivas num mercado energético europeu a acelerar as fusões. Com a Gas Natural Fenosa, a Enel e agora a Engie na lista de interessados, os chineses reforçam a participação na EDP.

Miguel Baltazar/Negócios
09 de Abril de 2018 às 13:07
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De Espanha, de França ou de Itália. Sucedem-se as abordagens e as propostas de "namoro" à EDP, catapultando a empresa eléctrica portuguesa como um dos activos mais atractivos e que está a despertar maior interesse no mercado energético europeu em ebulição.

 

Os franceses da Engie são apenas os últimos a surgir como interessados em comprar a empresa nacional, que entretanto já veio desmentir "quaisquer negociações" ou contactos "com vista a operações de consolidação". Uma televisão de França noticiou esta segunda-feira, 9 de Abril, contactos preliminares "de alto nível" e até encontros entre António Mexia e a homóloga Isabelle Kocher.

 

Apresentados como o segundo maior grupo energético a nível mundial, com receitas próximas de 66,6 mil milhões de euros em 2016, presença em 70 países e mais de 150 mil trabalhadores, os franceses – que em Portugal já detêm uma participação de 50% na produtora TrustEnergy –, entram num palco em que o cenário mais usado até agora tinha sido o de uma eventual fusão ibérica e que daria origem à quarta maior companhia de gás e electricidade na Europa.

 

Essa operação a juntar a EDP e a Gas Natural Fenosa (GNF), que em Julho de 2017 a Reuters avaliou em 35 mil milhões de euros, resultaria do interesse dos espanhóis no negócio das energias renováveis em falta no seu portefólio, mais focado na produção de electricidade a partir de gás natural e de carvão. Em termos de mercados, além da forte presença na Península Ibérica, aproxima-as a aposta no continente americano: a GNF está no Chile e no México; a EDP no Brasil e nos EUA, onde é uma das maiores no segmento eólico.

 

No arranque de 2018 houve um recrudescimento mediático no tema, depois de o jornal El Confidencial escrever que o presidente da eléctrica espanhola, Isidre Fainé, estaria disponível para ceder à EDP o seu lugar numa empresa que resultasse da junção das duas empresas ibéricas. Citando fontes próximas das conversações, a publicação do país vizinho falava numa reunião entre o gestor e o primeiro-ministro António Costa para tentar convencer o Governo de Lisboa a aceitar uma fusão desta escala. E já com algum histórico, bastando lembrar o rumor surgido no já longínquo ano de 2006, era Manuel Pinho ministro da Economia de José Sócrates.

 

Esta operação tem sido a mais falada, por criar um campeão ibérico da energia para competir com grandes empresas europeias. É o caso da espanhola Iberdrola ou das francesas EDF e… da Engie, que agora surge como interessada. Mas também da italiana Enel, que em Novembro de 2017 surgiu, numa notícia avançada pelo Expansión, como tendo a EDP como um dos alvos potenciais com vista à sua aquisição. Para realizar essa compra podia usar as empresas que detém em Espanha (Enel Iberia e a Endesa), embora a eléctrica transalpina esteja presente no mercado nacional através da Endesa Portugal, que produz electricidade e também comercializa electricidade e gás natural.

 

Avanço alemão e acompanhamento chinês

 

É no meio de tantos "namoros", dos quais poderá resultar um lucrativo casamento para os accionistas, que os chineses aparecem a reforçar a sua participação no capital da EDP para um total de 28,25%. O Estado chinês, que através da China Three Gorges detém 23,27% da companhia, comprou mais 1,96% no final do ano passado através da empresa pública CNIC, que passou a deter 4,98% da eléctrica portuguesa. Nas contas feitas pelo Expresso, esta operação terá custado perto de 200 milhões de euros aos cofres de Pequim.

 

E a nível europeu, o contexto é de consolidação no sector eléctrico. Depois de muito falado nos últimos tempos, parece finalmente ter arrancado com o anúncio de fusão entre as eléctricas alemãs EON e RWE, anunciado a 13 de Março. O negócio total, avaliado em 60 mil milhões de euros, implica a compra da Innogy (produtora de energia renovável da RWE) pela EON.

 

Quando a operação estiver concluída, as duas empresas vão continuar a existir, mas com áreas de negócio separadas: a EON fica com o transporte e comercialização de energia, enquanto a RWE vai ficar com a produção de electricidade, incluindo as renováveis. Este negócio alemão, como o Negócios escreveu na altura, pode servir de modelo para outros negócios no sector energético europeu, no sentido de que diferentes actividades de negócio ficam separadas por empresas.

 

Dificilmente teremos uma vaga de fusões transfronteiriças que tenham como consequência a perda do poder de decisão local. Nuno Marques, gestor de acções nacionais da IMGA

 

E será que a onda de fusões na energia pode chegar ao mercado nacional? "Apesar do sentido económico e estratégico que as fusões neste sector têm, por serem consideradas activos de interesse nacional e estratégico, sou da opinião que dificilmente teremos uma vaga de fusões transfronteiriças que tenham como consequência a perda do poder de decisão local", respondeu Nuno Marques, da IMGA.

 

Na ressaca desse mega negócio entre as eléctricas alemãs, o gestor de acções nacionais preferiu realçar ao Negócios que "as 'utilities' nacionais a transaccionar no mercado accionista já estiveram ambas envolvidas em processos de consolidação relacionados com os activos referidos: a EDP com a venda da sua distribuição de gás em Espanha e Portugal, esta última adquirida pela REN, e a compra de minoritários da EDP Renováveis no seguimento destas vendas".

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