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Mudanças na lei do tabaco podem propiciar "comércio ilícito", alerta Tabaqueira
Maior operador da indústria do tabaco em Portugal considera que ""matérias que proponham mudanças de fundo, de pendor restritivo, devem ser alvo de consulta prévia, debate alargado e diálogo participado com todas as partes impactadas".
A Tabaqueira, subsidiária da Philip Morris International (PMI) em Portugal, considera que as mudanças à lei do tabaco, aprovadas esta quinta-feira pelo Governo em Conselho de Ministros, de "fundo" e com "pendor restritivo", devem ser sujeitas "a consulta prévia" e alerta para o potencial "cenário propício ao comércio ilícito".
"No que decorre da informação que é pública, há que considerar as potenciais consequências negativas decorrentes de medidas com um alcance bastante vasto nas dimensões económicas e sociais, ainda não quantificadas, e que podem criar um cenário propício ao comércio ilícito", afirmou fonte oficial da Tabaqueira em resposta ao Negócios.
Embora sem se alargar no comentário, por não ser conhecido ainda o diploma, mas apenas os principais contornos, o maior operador económico do setor no país considera desde logo que "matérias que proponham mudanças de fundo, de pendor restritivo, devem ser alvo de consulta prévia, debate alargado e diálogo participado com todas as partes impactadas". E, neste sentido, "estamos, como sempre estivemos, totalmente disponíveis para participar ativamente neste processo", reforça.
O diploma prevê uma série de mexidas ao atual regime, equiparando cigarros eletrónicos ao tabaco normal e criando restrições à venda e consumo, num pacote que inclui ainda a proibição de venda de tabaco aquecido com aromas.
"A proposta de lei não tem em consideração e antecipa-se ao processo de revisão da diretiva europeia de produtos de tabaco e respetiva consulta pública, em curso, desencadeado pela Comissão Europeia, que procede à avaliação do quadro legislativo para o controlo do tabagismo – incluindo a regulamentação dos produtos, a publicidade, a promoção e o patrocínio, no contexto mais vasto das políticas associadas ao controlo do tabagismo", critica a Tabaqueira.
Fundada há 96 anos e privatizada há 26, a Tabaqueira tem centrado a aposta nas alternativas aos cigarros convencionais que, em Portugal, já valem sensivelmente um terço das receitas. E segundo apontou há um ano, ao Negócios, o diretor-geral, Marcelo Nico, a expectativa da Tabaqueira é a de que, ao cumprir um século de vida, o tabaco sem combustão pese mais de 50%, em linha com a meta delineada pelo grupo já para 2025.
A indústria tabaqueira em Portugal encontra-se, desde a segunda metade do século XX, concentrada em três grupos empresariais - que incluem, além da Tabaqueira, a Fábrica de Tabaco Micaelense (a mais antiga do país, com mais de 155 anos) e a Empresa Madeirense de Tabacos, que dispõem de um total de quatro unidades produtivas em Portugal continental e nas ilhas.
Em conjunto, os três são "responsáveis pela quinta produção mais relevante para as vendas da indústria nacional" - e considerando o investimento que durante o ano de 2021 o setor fez, por via do pagamento a fornecedores nacionais, ao Estado e aos trabalhadores, por cada 1 euro gasto por estes grupos empresariais foram gerados 1,40 na economia portuguesa, de acordo com um estudo sobre o impacto social e económico da indústria de tabaco em Portugal, apresentado em março, levado a cabo pelo ISCTE Executive Education a pedido da Tabaqueira.