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Consumo de tabaco de contrabando diminui em Portugal, mas há cenário "alarmante" na UE
Estudo da KPMG estima que, no ano passado, tenham sido consumidos em Portugal 200 milhões de cigarros de origem ilícita, representando uma perda fiscal de 32 milhões de euros para o Estado.
O consumo de tabaco ilegal voltou a diminuir em Portugal no ano passado, correspondendo a 2,1% do total, em contraste com o cenário "alarmante" na União Europeia (UE), onde pesa quase 8%, revela o relatório anual da KPMG.
À luz das estimativas da consultora, ao todo, em 2022, o consumo total de cigarros em Portugal caiu 6%, passando de 9,2 mil milhões de cigarros para 8,6 mil milhões, dos quais 200 milhões eram de origem ilícita, representando uma perda fiscal de 32 milhões de euros para o Estado, contra os mais de 80 milhões calculados em 2021.
A descida do consumo de cigarros provenientes do comércio ilícito, à semelhança do que sucedeu em 2021, é atribuída aos "aumentos moderados de fiscalidade nos produtos de tabaco" e ao "trabalho conjunto das autoridades fiscalizadoras", refere o estudo que analisa o consumo ilícito de cigarros na UE, Reino Unido, Noruega, Suíça, Moldávia e Ucrânia.
"A elaboração de políticas eficazes, os calendários fiscais, as sanções dissuasoras e a aplicação eficaz da lei estão a permitir que vários Estados-membros da UE registem um declínio no consumo de cigarros ilícitos", diz o presidente da região da Europa da PMI, Massimo Andolina, citado na nota que acompanha o relatório, divulgado esta quarta-feira.
Esse não é, no entanto, o retrato europeu. Segundo o estudo, promovido pela Philip Morris International (PMI), que tem a Tabaqueira como subsidiária em Portugal, no ano passado foram consumidos 35,8 mil milhões de cigarros ilícitos apenas na UE, mais 0,7%, causando aos Estados-membros do bloco uma perda na ordem dos 11,3 mil milhões de euros em receitas fiscais em 2022 - um agravamento de 8,5% face a 2021.
O crescimento do mercado ilícito na UE - refere o estudo - foi "impulsionado pelo aumento contínuo do consumo de produtos contrafeitos que atingiu o nível mais elevado alguma vez registado", lê-se no relatório da KPMG que destaca, em particular, que a grande maioria dos cigarros contrafeitos (61,5%) foi consumida em França responsável agora por 47% do consumo total de cigarros ilícitos no bloco.
"Tornou-se verdadeiramente um problema 'made in UE'. uma vez que os cigarros falsos estão a ser fabricados, distribuídos, vendidos e consumidos em países da UE, prejudicando os esforços para reduzir e eliminar o consumo de cigarros – e os objetivos de saúde pública, em geral", afirma o vice-presidente para os Assuntos Externos da PMI, Gregoire Verdeaux, para quem "as políticas de controlo do tabaco tradicionais não são, simplesmente, suficientes".
"As políticas fiscais agressivas, as abordagens proibicionistas e a falta de dissuasão em países como a França e a Bélgica só estão a beneficiar os criminosos e a empurrar os fumadores adultos para o mercado negro", sustenta o mesmo responsável.
Com efeito, a KPMG dá conta de que, de acordo com entrevistas que conduziu junto de autoridades policiais, "a produção e distribuição de cigarros falsificados dentro das fronteiras da UE está a aumentar, com as organizações criminosas a centrarem as suas atividades nos Estados-Membros com impostos e preços mais elevados, e a obterem maiores lucros". E, neste contexto, refere, países como Bélgica, Dinamarca, França e Alemanha estão a assistir a um aumento das apreensões de cigarros e das rusgas a operações de fabrico clandestinas.
Apesar do aumento geral do consumo ilícito, a maioria dos membros da UE – 21 dos 27 – registou uma tendência de estabilidade ou redução do consumo ilícito de cigarros em 2022. Excluindo França, o consumo ilícito global nos restantes mercados da UE diminuiu 7,5%, em grande parte devido aos decréscimos em mercados como Grécia, Países Baixos, Portugal e Roménia.
Além disso, em países como Polónia e Roménia o consumo ilícito atingiu mesmo a incidência mais baixa de sempre desde que a KPMG começou a publicar este estudo anual, enfatiza a consultora.
Pela primeira vez o relatório inclui a Ucrânia, com os dados a colocarem-na como o segundo maior mercado da Europa para o consumo ilícito de tabaco, com 7,4 mil milhões de cigarros, atrás dos 16,9 mil milhões da França. E, segundo o estuddo, a quota de cigarros ilícitos tem, desde 2018, seguido uma tendência crescente: no ano passado um em cada cinco cigarros consumidos tinha origem no mercado ilícito. Já com 5,9 mil milhões de cigarros ilícitos, o Reino Unido surge como o terceiro maior mercado ilegal na Europa é o Reino Unido.
"O relatório da KPMG deve servir de alerta para que as entidades reguladoras e os responsáveis políticos da UE tenham em conta que milhões de consumidores estão a depender do mercado negro para continuar a fumar", adverte Massimo Andolina.