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Lucros dos CTT afundam 42,9% para 16,7 milhões de euros em 2020
As contas dos CTT foram penalizadas pelo impacto da pandemia. Ainda assim, em 2020, as receitas da empresa subiram 0,7%.
Os CTT fecharam o exercício de 2020 com lucros de 16,7 milhões de euros, menos 42,9% % face aos 29 milhões registados no ano anterior, comunicou esta terça-feira a empresa à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).
O impacto da pandemia nas receitas foi sentido sobretudo no primeiro semestre, sendo que no final do ano a empresa conseguiu recuperar, devido "também a fatores sazonais". No quarto trimestre de 2020 as receitas aumentaram 10,2%, o que contribuiu para que os CTT fechassem 2020 com uma subida das receitas de 0,7% para 745,2 milhões de euros. Já o EBITDA recuou 10,8% para 90,5 milhões de euros no total do ano, apesar de também ter registado uma subida, de 4,6%, no último trimestre para os 32,8 milhões de euros, naquele que foi "o maior resultado trimestral" desde o primeiro trimestre de 2016.
A unidade do correio, que é a principal área de negócio dos CTT, manteve a trajetória de quebra que já vinha registado em anos anteriores, e que em 2020 foi agravada pela pandemia, que acelerou a digitalização. Recuou 10,3% para 422 milhões de euros, "devido fundamentalmente à queda dos rendimentos do correio transacional", que baixou 11,7%, e do correio publicitário, que caiu 19,9%. Estes valores só foram atenuados pelo crescimento de 54,8% dos rendimentos das soluções empresariais. A empresa sublinha que "excluindo o efeito do tráfego relacionado com as eleições legislativas em setembro de 2019, o decréscimo dos rendimentos no ano teria sido de 9,2%.
Os CTT destacam que a pandemia "influenciou também negativamente o tráfego do correio internacional", que caiu 28,1%. Também o negócio do correio publicitário "foi bastante afetado com a crise pandémica a levar a um desinvestimento dos clientes, em alguns casos com suspensão integral dos envios e campanhas". O tráfego de correio publicitário não endereçado recuou 20,9%.
Em sentido inverso surge o segmento Expresso e Encomendas, classificado pela empresa como uma das "alavancas de crescimento" da empresa, a par do Banco CTT. A unidade de encomendas registou "rendimentos recorde" no último trimestre de 2020, de 61,5 milhões de euros, mais 45% face ao mesmo período do ano anterior. No total do ano, o aumento foi de 26,6%, para 193 milhões de euros, ajudando a compensar "o acentuado decréscimo dos rendimentos no Correio e Outros" e dos Serviços Financeiros e Retalho, que recuaram 7,1%.
"A contribuir para este recorde de atividade está o forte impulso do e-commerce, com um crescimento muito relevante nos setores da alimentação, desporto e lazer, educação e cultura e eletrónica de consumo", destacam os CTT. No último trimestre de 2020, o tráfego de objetos atingiu os oito milhões, o que significa um "máximo histórico diário de 270 mil objetos". No conjunto do ano, o tráfego de objetos totalizou os 25,9 milhões, mais 35,7% em comparação com 2019.
Neste segmento, os CTT destacam a pareceria firmada com a Sonae no marketplace Dott, que tinha no final de dezembro cerca de 200 mil utilizadores registados, mais 15% face a setembro, "evidenciando o forte crescimento e aceleração da digitalização e do e-commerce no período de confinamento".
Banco CTT com lucros pela primeira vez
Em 2020, uma das alavancas do negócio dos CTT foi o negócio bancário. O Banco CTT atingiu pela primeira vez, no ano passado, um resultado líquido consolidado positivo, de 0,2 milhões de euros. O banco conta com 600 mil clientes, tendo ganho 56 mil contas no ano passado.
O banco gerou rendimentos de 82,1 milhões de euros, um aumento de 30,5% face ao ano anterior. Deste montante, 12,9 milhões de euros são provinientes da 321 Crédito, adquirida em maio de 2019. A margem financeira aumentou 52,3% para 44,6 milhões de euros. As comissões aumentaram 52,9% "sobretudo pelo aumento na transacionalidade dos clientes (+14,6%), do crédito à habitação (+64,4%) e das contas e cartões (+607,0%)" sendo que este último foi "impulsionado a partir do início no mês de abril de 2020 pela introdução de um modelo de comissionamento do cartão de débito".
O banco registou 9,3 milhões de euros de imparidade e provisões em 2020, 5,8 milhões dos quais no segundo trimestre, "refletindo o efeito da evolução da carteira de crédito". Também "em consequência da degradação da situação económica, as imparidades e provisões da 321 Crédito atingiram 8,3 milhões em 2020, dos quais 5,5 milhões no segundo trimestre".
Nos trimestres seguintes, refere o banco, "assistiu-se a uma redução significativa das imparidades", tendo o quarto trimestre registado 0,4 milhões de euros.
No final de 2020, "os pedidos de moratórias formalizados atingiram uma exposição total" de 40,4 milhões de euros, 31,1 milhões dos quais relativos a moratórias de crédito à habitação, 6,4 milhões de crédito automóvel e 2,9 milhões de outros créditos.
Os rendimentos dos serviços financeiros e retalho recuaram 7,1% para 44 milhões de euros em 2020. A empresa justifica a quebra com a forte influência das medidas restritivas do estado de emergência do segundo trimestre, "designadamente o efeito que gerou na preferência pela liquidez e consequente menor apetite por investimentos financeiros a médio/longo prazo, mas também pela limitação do acesso à rede de retalho dos CTT e pelas reduções de horários de atendimento das lojas".
A empresa chegou ao final do ano com 12 234 trabalhadores, menos 121 face ao final de 2019. Os CTT explicam que "a partir de 2020 foi alterada a metodologia de contagem dos efetivos deixando de ser considerados os efetivos com acordos de suspensão, cujo impacto no período em análise é de -136 trabalhadores. Expurgando este efeito, a redução dos efetivos teria sido de 76".
O investimento no exercício foi de 33,4 milhões de euros, menos 26,4% face ao homólogo.
No que toca a perspetivas para o futuro, os CTT ressalvam que "em virtude de um novo confinamento geral, a partir da segunda quinzena de janeiro de 2021, antecipa-se um impacto negativo a nível económico e social, que irá afetar a sociedade em geral e os negócios do Grupo, o que poderá impactar as atuais estimativas elaboradas".
Em 2021, a empresa espera "apresentar um crescimento de um dígito elevado no que se refere aos rendimentos operacionais, EBITDA a crescer dois dígitos, EBIT superior a 50 milhões de euros e investimento de 35 milhões, dos quais 15 milhões referentes a investimento em crescimento".