Notícia
Grandes marcas "desertaram" da Rússia, mas é fácil encontrar os seus produtos
Um ano depois da guerra na Ucrânia e da saída progressiva de grandes multinacionais da Rússia, os produtos de grandes marcas, como a Coca-Cola ou a Zara, continuam a estar acessíveis para os consumidores russos, embora possam ter que esperar e pagar mais por eles.
Camiões carregados de garrafas ou latas de Coca-Cola atravessam a fronteira, turistas regressados do estrangeiro transportam peças das última coleção da Zara e as plataformas de vendas online vendem os stocks das mobílias da Ikea. As grandes marcas podem ter "desertado" da Rússia, mas os seus produtos não, diz a Reuters, numa reportagem no país, um ano depois do início da guerra.
O impacto da saída das grandes marcas ocidentais, do têxtil ao alimentar, junto dos consumidores russos acaba por ser mínimo, embora os tempos de entrega possam ser mais demorados e haja bens mais caros, assinala a Reuters, apontando que a principal mudança está nas rotas de abastecimento, mas os produtos continuam disponíveis tanto nas lojas físicas como online. Os consumidores - sublinha - só têm de saber onde procurar.
A maioria dos bens não se encontra sujeita a sanções, além de que este tipo de fluxos na fronteira, como explica a agência de notícias, nada têm de ilegal.
O gigante da moda espanhol Inditex, dono de marcas como a Zara ou Massimo Dutti, fechou as suas 502 lojas na Rússia depois de Moscovo ter enviado tropas para a Ucrânia e vendeu-as ao Daher Group, com sede nos Emirados Árabes Unidos. Não obstante, importações de pequena escala e via vendedores online mantêm a marca acessível, assinala a Reuters, após passar em revista a oferta de seis grandes 'marketplaces' e de conversas com dezenas de compradores e vendedores.
E no caso da Inditex há uma questão adicional, já que não deixou a Bielorússia, ao contrário de outras grandes marcas ocidentais que saíram ao mesmo tempo daquele país por ser um aliado de Moscovo.
Há também redes de vendedores informais, digamos assim, com a Reuters a dar conta do relato de uma mulher que comprou peças de roupa em Paris e no Dubai desse modo. "Há páginas no Instagram, no Telegram. Conheço raparigas que foram para a Europa, Istambul ou Dubai que recolhem pedidos, por exemplo, em Istambul, cobram 15 a 30% (de comissão) que entregam aqui e nós pagamos pela entrega". E, neste particular, um rublo forte no ano passado contra uma lira turca enfraquecida jogou a favor dos consumidores russos, como destaca a agência de notícias.
Com a rutura das cadeias de abastecimento, a Rússia legalizou as chamadas importações paralelas, permitindo aos comerciantes adquirir produtos do estrangeiro sem autorização da marca registada. Com efeito, os 'sites' de comércio eletrónico vendem uma série de produtos importados, com os vendendores a anunciar com frequência que estão a trazer bems do estrangeiro. O Wildberries, líder do mercado vende stock antigo das marcas da Inditex, tendo quase 17 mil produtos no seu catálogo da Zara, diz a Reuters, explicando que, segundo fonte próxima da Inditex, eram restos da liquidação que estava na Rússia quando suspendeu a atividade no país.
Outro produto característico do Ocidente presente na Rússia é a Coca-Cola, anunciada também não raras vezes como sendo importada. A Coca-Cola deixou de produzir e de vender na Rússia no ano passado, mas outros continuaram a importar a bebida, com rótulos nas garrafas e nas latas que mostram que chegaram da Europa, Cazaquistão, Uzbequistão ou até China. E os preços variam consoante a origem. Num supermercado em Moscovo três latas estavam à venda por três valores diferentes, importadas da Dinamarca, Polónia e Reino Unido, de acordo com a reportagem da Reuters.
Já a sueca Ikea vendeu o seu stock à divisão de comércio eletrónico do Yandex Market quando deixou a Rússia, por valor não divulgado.
Os países "amigos" da Rússia que não lhe impuseram sanções viram as vendas a Moscovo disparar no ano passado. O comércio bilateral entre a China e a Rússia atingiu um recorde de 1,28 biliões de yuan (186 mil milhões de dólares ou 174,4 mil milhões de euros, ao câmbio atual), enquanto as vendas da Turquia à Rússia escalaram 61,8% e as do Cazaquistão deram um pulo superior a 25%, segundo a agência de notícias.