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Carla Ribeiro: "Levei a sebenta de bioquímica para estudar nos Jogos Olímpicos"
A convidada do 7.º episódio de Campeões nos Negócios é uma das poucas atletas portuguesas de tiro. Carla Ribeiro começou a praticar a modalidade com apenas 13 anos. Esteve nos Jogos Olímpicos de Barcelona (1992) e de Atlanta (1996). Formou-se em farmácia quando ainda estava na alta competição e confessa que levou os livros para estudar na aldeia olímpica. Fez carreira como coordenadora de projetos de investigação científica na área das neurociências e é proprietária de uma escola de treino de cães com o marido - a Niki Ladra.
Diz o provérbio popular que "filho de peixe sabe nadar". A frase aplica-se na perfeição a Carla Ribeiro. A atleta de tiro, que representou Portugal nos Jogos Olímpicos de Barcelona (1992) e de Atlanta (1996), é filha de Mário Ribeiro, que também foi um atirador com um currículo invejável e esteve nos Jogos Olímpicos de Munique em 1972.
Desde muito cedo que Carla acompanhava o pai nas competições. E, aos 13 anos, pediu-lhe para experimentar a modalidade. Ele arranjou-lhe um tripé para pôr a carabina e começou a treiná-la.
Carla sabia que o seu futuro dependia dos estudos. E o pai avisou-a que o curso estava primeiro. "Não era o tiro que me ia pôr comida na mesa".
Na faculdade, quando dizia aos colegas que era atleta olímpica de tiro, ficavam surpeendidos. "És um Rambo!", chegou a ouvir. Na altura, estavam em voga os filmes de ação protagonizados pelo ator Sylvester Stallone.
O tiro ainda é um desporto visto como masculino, admite. Havia e há poucas mulheres a praticá-lo. Mas o facto é que a comitiva olímpica portuguesa no tiro já teve só mulheres. Em Barcelona, Carla foi a única atleta a representar o país nesta modalidade. E, em Atlanta, foram duas mulheres – Carla Ribeiro e Sara Antunes. Os homens não conseguiram apurar-se.
"O tiro é um desporto mental", diz. Está tudo na cabeça. É preciso "estar o mais quieto possível, alinhar a mira com o alvo e saber quando disparar".
Carla manteve-se na alta competição quando começou a trabalhar na indústria farmacêutica. Fez carreira como gestora de projetos de ensaios clínicos na área das neurociências. Sempre que tinha provas, metia férias.
Há mais de vinte anos, a mentalidade era que não se podia fazer as duas coisas ao mesmo tempo – ter uma carreira profissional e desportiva. "As empresas não estavam assim tão abertas e tive muita sorte de ter dois diretores médicos fabulosos, que me deixaram ir às provas internacionais", diz.
Deixou a alta competição em 2005, quando tinha 34 anos. Nessa altura, há muito que tinha outra paixão - os cães.
Em 2013, nasceu a Niki Ladra, uma escola de treino de cães, que adquiriu em sociedade com o marido. Sérgio é multicampeão de agility e Carla é multicampeã de obediência, as duas valências que ensinam na escola.
Tornar-se empresária foi uma casualidade, conta. O dono da Academia do Cão emigrou para a Inglaterra, ia fechar a escola e Carla e o marido decidiram ficar com o negócio. Este é um mercado que está a crescer porque as pessoas cada vez mais têm cuidado com os seus animais. "O cão vem do criador com oito, dez, doze semanas, e vai logo para a escola, o que é ótimo. Quanto mais cedo, menos problemas" terão, diz.
O tiro deu-lhe várias ferramentas úteis para o mundo dos negócios. Acima de tudo, ganhou "capacidade de organização". Sobretudo, quando se tornou atleta olímpica. "Estava num curso superior e tinha que conseguir organizar-me entre aulas teóricas, aulas práticas, laboratórios, treinos, e outros desportos que fazia".
Por outro lado, deu-lhe "muita resiliência". Se um atleta olímpico não souber gerir a frustração, não vai conseguir superá-la, nem melhorar, porque está sempre a ser puxado para baixo", avisa. "Ele próprio puxa-se para baixo". Isto também é válido nos negócios e na vida.