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WSJ: Eurofin envolvida no colapso do GES

Os reguladores acreditam que a Eurofin, sociedade suíça especializada em serviços financeiros, desempenhou um papel-chave no colapso do GES, avança o Wall Street Journal, que descreve as relações entre as duas partes e a criação de várias entidades que tinham como objectivo gerir a fortuna da família e realizar transacções. Em 2012, as transacções levantaram suspeitas no Société Générale.

Miguel Baltazar/Negócios
Negócios 13 de Agosto de 2014 às 11:25
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A Eurofin foi criada há 15 anos para ajudar na gestão de transacções financeiras da família Espírito Santo e das suas empresas, revela o Wall Street Journal, que acrescenta que, durante anos, esta sociedade foi parcialmente detida por uma empresa do grupo.

 

Segundo emails internos, registos de negociação e outros documentos a que o jornal teve acesso, a Eurofin desempenhou um papel de relevo no apoio às finanças dos Espírito Santo. O Wall Street Journal adianta que as informações que obteve tiveram também origem em antigos administradores e pessoas ligadas às empresas.

 

A Eurofin já tinha sido referida pelo governador do Banco de Portugal. Carlos Costa revelou, aquando do anúncio de resgate do BES, que foram identificadas duas operações suspeitas que deterioraram as contas do BES, antes do resgate da instituição financeira. Uma delas passou pela "colocação de títulos, envolvendo o Banco Espírito Santo, o Grupo Espírito Santo e a Eurofin Securities, que determinaram um registo de perdas nas contas do Banco Espírito Santo no valor total de 1.249 milhões de euros, com referência a 30 de Junho de 2014."

 

Entretanto a Eurofin desmentiu o seu envolvimento, a 5 de Agosto. E, de acordo com o WSJ, o presidente executivo da empresa, Alexandre Cadosch, afirmou, numa entrevista, que "acredita firmemente que somos o alvo errado".

 

O jornal adianta que, de acordo com uma fonte ligada às investigações ao BES, os reguladores portugueses suspeitam que a Eurofin desempenhou um papel central no GES.

 

A criação da Eurofin e o seu envolvimento com o GES

 

Em 1999, o crescimento da fortuna da família levou à constituição de uma empresa, a Eurofin Services, cuja criação teve como objectivo principal a gestão das finanças e das transacções do clã, segundo ex-administradores executivos da Eurofin. Esta empresa foi fundada por Alexandre Cadosch, actual presidente executivo, e que era na altura vice-presidente de uma empresa fiduciária do GES. O responsável foi alargando a prestação de serviços a outras famílias. Lançou também um serviço de negociação de diamantes e criou uma unidade no Reino Unido de banca de investimento direccionada para negociar com clubes de futebol ingleses. Mas, segundo o WSJ, a sua principal missão continuava a ser servir os Espírito Santo, de acordo com emails internos e outros documentos.

 

Os registos revelam que a Eurofin movimentou dinheiro entre entidades do Espírito Santo,

Na segunda metade de Julho, foram identificadas pelo auditor externo as seguintes operações: (…) a realização de operações de colocação de títulos, envolvendo o Banco Espírito Santo, o Grupo Espírito Santo e a Eurofin Securities, que determinaram um registo de perdas nas contas do Banco Espírito Santo no valor total de 1249 milhões de euros, com referência a 30 de Junho de 2014.


 
Carlos Costa

"muitas vezes de forma que era difícil pessoas que estavam de fora detectar". A mesma publicação adianta que alguns movimentos foram realizados no pico da crise financeira. Nessa altura, um veículo gerido pela Eurofin foi o único comprador de obrigações do BES, de acordo com os registos de negociação a que o WSJ teve acesso. Posteriormente, a Eurofin ajudou a "empacotar" montantes elevados de dívida de várias empresas do GES que foram vendidos a clientes do banco.

 

Um dos negócios terá feito soar os alarmes no departamento de supervisão de um grande banco francês, o que levou a que o banco parasse com estas transacções entre a Eurofin e o Espírito Santo, de acordo com uma pessoa próxima do processo. 

 

Em 2008, a Eurofin empregava cerca de 40 pessoas, com a família Espírito Santo a deter, através da Espírito Santo Resources, 23% da empresa. O segundo maior accionista, com 22%, era Nicolo di San Germano, promotor de corridas de barcos.

 

Neste mesmo ano, os responsáveis da Eurofin fizeram uma apresentação aos administradores do BES, onde defendiam que o banco devia comprar uma participação maioritária numa unidade da Eurofin. Segundo a apresentação, cujos slides o WSJ visualizou, a proposta apontava para que essa unidade ficasse com um nome associado ao Espírito Santo. A apresentação propunha também, "independentemente de qualquer compra, que a Eurofin ‘desenvolvesse uma série de produtos’ para os clientes do banco.

 

A Eurofin geriu uma série de fundos de investimento que foram vendidos a clientes do banco do GES na Suíça, Banque Privée, segundo documentos da empresa e um ex-executivo.

 

Em 2010, a Eurofin tinha sob gestão mais de 1,4 mil milhões de francos suíços (1,15 mil milhões de euros) em activos de empresas do GES, o que representava a maioria dos activos geridos pela empresa.

 

Contudo, a relação entre as duas empresas mereceu a desaprovação de um executivo de topo do BES. Antes de um encontro, em Outubro de 2009, entre responsáveis da Eurofin e do BES, um administrador da Eurofin enviou um email aos seus colegas avisando-os de que um executivo de topo do BES não era defensor da relação com a Eurofin devido ao seu papel de veículo financeiro. Nesse ano, a família Espírito Santo vendeu a sua participação na empresa, tendo Nicolo di San Germano ficado como accionista maioritário.

 

O WSJ revela ainda que, em 2009, o BES criou uma corretora, chamada Tulipa, que tinha como objectivo a venda de dívida emitida por várias empresas do GES aos clientes do banco. Nessa altura, o BES terá contactado o Eurofin para criar um "rasto" que demonstrasse "o envolvimento de uma terceira parte nas transacções com clientes", revela um memo da Eurofin.

 

A Eurofin terá também ajudado a gerir dois fundos sedeados nas Ilhas Virgem, o EG Premium e o Zyrcan. Sendo que a Eurofin garante que "actuou apenas como conselheiro de investimento".

 

De acordo com o mesmo jornal, no início de 2012, funcionários do Société Générale quiseram ter mais informação sobre as transacções que o banco francês estava a fazer entre a Eurofin e as empresas do GES. Depois de vários pedidos de esclarecimento, que não obtiveram resposta, o banco francês parou de servir de intermediário destas operações, de acordo com uma pessoa ligada ao processo. 

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