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WSJ diz que está a formar-se uma "tempestade perfeita" na banca portuguesa

As maiores entidades financeiras portuguesas confrontam-se com uma série de problemas que poderão estar a dar forma a uma tempestade perfeita, alerta o jornal norte-americano, que analisa a CGD, Novo Banco, BPI e BCP.

Bruno Simão/Negócios
28 de Julho de 2016 às 20:33
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Amanhã, 29 de Julho, serão divulgados os resultados dos testes de stress – que medem a resiliência perante cenários adversos – realizados pelo BCE e pela Autoridade Bancária Europeia (EBA). Todas as entidades financeiras da União Europeia foram avaliadas, mas a EBA só revelará os resultados dos 51 maiores bancos da UE - que abrangem 70% do sector da banca no bloco europeu.  

 

Não constam, por isso, desta lista pública, bancos portugueses. No entanto, o BCP decidiu que iria divulgar voluntariamente a classificação recebida – tendo sido essa, aliás, a razão pela qual adiou a apresentação dos seus resultados trimestrais.

 

E é neste contexto que o The Wall Street Journal se debruça sobre a banca portuguesa. Diz o jornal que o facto de os resultados dos testes de stress dos bancos portugueses não serem divulgados "não significa que os investidores não devam estar preocupados".

 

"Uma série de problemas por parte das maiores entidades financeiras do país – desde as exigências de capital da Caixa Geral de Depósitos à difícil venda do 'banco bom' que resultou do desmoronamento do Banco Espírito Santo – suscitou receios de que Portugal possa vir a estar em breve, uma vez mais, em apuros", realça o artigo do jornal norte-americano, que está em destaque na sua página online.

 

O WSJ recorda o relatório da Moody’s, publicado na quarta-feira, 27 de Julho, em que a agência de notação financeira considera que o "stock" de activos problemáticos nos balanços dos bancos portugueses continua demasiado elevado e aumenta os riscos para a solvência da banca nacional. A agência alertou também para a baixa rentabilidade do sector e para os riscos que isso coloca à dívida soberana, tendo advertido ainda para a incerteza em torno da venda do Novo Banco e de uma injecção de capital na CGD.

 

O jornal refere que os problemas no sistema bancário português não são únicos nem surpreendentes: "em toda a Europa, os lucros da banca têm estado a ser desafiados pelas baixas taxas de juro e pela incerteza económica, bem como pelas novas tecnologias – que estão a tornar obsoleto o velho modelo bancário". No entanto, prossegue com a análise à banca em Portugal e sublinha que desde que o país foi resgatado em 2011 - no âmbito da ajuda financeira da troika no valor de 78 mil milhões de euros, num programa que se estendeu por três anos – dois bancos "colapsaram": o Banco Espírito Santo e o Banif. "Em ambos os casos, os reguladores concluíram que houve concessão de crédito com risco", frisa o WSJ.

 

Além disso, prossegue, o governo português está actualmente a negociar com a Comissão Europeia e com o BCE para injectar capital na CGD, "o maior banco do país, por activos". "Há analistas que dizem que o banco poderá precisar de mais de dois mil milhões de euros, e que, por ser o Estado que vai injectar esse dinheiro, a dívida pública – já perto dos 130% do PIB – aumentará ainda mais". E a Moodys já disse, recorda o jornal, que qualquer aumento adicional da dívida para financiar a recapitalização de bancos é negativo para a o ‘rating’ da dívida soberana – que está actualmente no "lixo" (categoria de investimento especulativo).

 

"Enquanto isso, o Novo Banco, o 'banco bom' criado após o desmoronamento do Banco Espírito Santo, está a colocar problemas", alerta o WSJ. "O NB recebeu uma injecção de capital no valor de 4,9 mil milhões de euros por parte do Estado e dos bancos nacionais quando foi criado, e deveria ter sido vendido rapidamente no ano passado por, pelo menos, esse montante".

 

Não foi o que aconteceu. "A venda, contudo, foi adiada depois de o banco central se debater para encontrar boas ofertas. O banco também precisou de mais capital e a sua carteira de crédito malparado acabou por se revelar maior do que aquilo que foi previamente pensado. Está em curso uma segunda tentativa de venda e quatro interessados apresentaram as suas ofertas no mês passado", salienta o jornal, recordando que o governo português já disse que espera recuperar pelo menos os 3,9 mil milhões de euros que injectou no NB, "o que significa que as prováveis perdas decorrentes da sua venda terão de ser repartidas pelos bancos nacionais – que se debatem para conseguirem ser rentáveis".

 

No início desta semana, Fernando Ulrich, CEO do BPI ("um dos bancos portugueses que está a sair-se melhor", segundo o jornal norte-americano), declarou que os bancos saudáveis estão a ser injustamente sobrecarregados com os erros dos outros. O BPI, recorda o WSJ, enfrenta um momento de viragem na sua vida, depois de o BCE ter dito em finais de 2014 que o banco tinha de proceder a um ‘proibitivo aumento de capital’ ou abrir mão da sua 'altamente rentável unidade angolana' devido ao facto de a sua exposição àquela ex-colónia exceder os limites regulatórios. "A questão está ainda por resolver".

 

O WSJ olha também para o BCP, notando que as suas acções já desvalorizaram mais de 60% desde o início do ano devido aos receios de que também venha a precisar de mais capital. "Segundo o Barclays, se o BCP melhorar o rácio de capital core tier 1 para 11% (estava em 10,1% no primeiro trimestre), se aumentar a cobertura do crédito malparado e se reembolsar o Estado nos 750 milhões de euros que ainda tem a pagar-lhe, poderá precisar de um aumento de capital de cerca de dois mil milhões de euros".

 

Com tudo isto, poderá estar a formar-se uma "tempestade perfeita" no sector da banca em Portugal, conclui o jornal, que espera agora pelos resultados que o BCP vai divulgar na análise da EBA à sua capacidade de resiliência.

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