Notícia
Autor do estudo encomendado pelo FMI desmente Carlos Costa
Se Carlos Costa não gostou da avaliação encomendada pelo FMI a Nicolas Véron, o investigador do Bruegel também não ficou contente com a resposta dada em carta pelo governador do Banco de Portugal. Véron diz que entrevistou funcionários seniores do BdP antes de publicar o relatório.
Ontem, o Independente Evaluation Office (IEO) do Fundo Monetário Internacional (FMI) publicou um relatório de avaliação da actuação do FMI durante o programa de ajustamento português. Um dos papers incluídos é assinado por Nicolas Véron e apresenta várias críticas ao comportamento do Banco de Portugal, entre as quais ter recusado uma avaliação independente dos balanços dos bancos e ter descansado as autoridades europeias e o próprio Governo sobre a saúde do BES. Essas críticas foram refutadas por Carlos Costa, numa carta que é anexada no relatório, onde acusa Véron de parcialidade e falta de rigor.
Em entrevista ao Negócios, Nicolas Véron defende a avaliação que faz no seu paper e desmente Carlos Costa quando este diz que o Banco de Portugal não foi contactado para dar opinião. Se é verdade que não foi solicitada uma resposta oficial, o relatório inclui mais do que uma entrevista com funcionários do BdP, alguns deles bastante seniores, revela Véron.
(A entrevista completa a Nicolas Véron - que inclui a opinião deste sobre porque não ficaram resolvidos os problemas da banca no programa de ajustamento - será publicada na edição em papel do Jornal de Negócios de segunda-feira.)
O governador do banco de Portugal diz que o seu relatório tem erros factuais graves e inclui alegações parciais. Como responde a esses comentários?
Obviamente que defendo os factos e avaliação que fiz no relatório. Se há algum problema [do governador] com um facto ou uma avaliação, então tem de referir do que está a falar especificamente.
Diria que é normal este tipo de interacção entre os autores dos estudos para o Independente Evaluation Office (IEO) e as autoridades nacionais?
Não tenho ideia de que haja precedente de uma carta desta natureza ser anexado a um paper de contexto numa avaliação do IEO. Mas o IEO é uma instituição relativamente recente [foi criado em 2001] e acho que é totalmente legítimo para as autoridades portuguesas insistirem em publicar um documento em conjunto com a avaliação. A carta [do governador], pelo que sei, foi incluída no meu paper a pedido das autoridades portuguesas. E não acho que isso seja problemático. O documento é suposto ser discutido publicamente.
O governador argumenta que o Banco de Portugal não foi contactado por si antes de publicar o estudo.
A frase [do governador] diz "a visão institucional do Banco de Portugal não foi solicitada antes". Eu acho esta frase problemática e, para ser franco, questionável. Porque eu contactei pessoas do Banco de Portugal, em diferentes posições de senioridade, incluindo algumas com posições muito seniores, embora não o sr. Costa. Portanto, não sei o que ele quer dizer quando diz que a perspectiva institucional do Banco de Portugal não foi solicitada, porque eu acho que fiz exactamente isso. Dito isto, pelos princípios do IEO, não posso dizer os nomes de pessoas que entrevistei.
Incomodou-o a linguagem forte utilizada pelo governador? Carlos Costa refere que tem erros factuais, é altamente especulativo e é parcial.
Obviamente, não concordo com a avaliação feita na carta. Mas não quero comentar a escolha de palavras.
Quantas pessoas entrevistou para fazer este relatório?
Posso dizer que tentei ser o mais abrangente possível. Entrevistei não só pessoas do Banco de Portugal, como do Governo português… Já agora, importa dizer que todas as entrevistas que fiz em Portugal foram realizadas antes da mudança de Governo. Entrevistei antigos funcionários do Governo, antigos funcionários do Banco de Portugal, empresários, observadores externos, como académicos… Portanto, tentei obter vários pontos de vista. Acho importante sublinhar que tudo o que está no meu relatório está lá para avaliar o FMI. Não é uma avaliação do Banco de Portugal. Se comento a actuação do Banco de Portugal é porque acho que isso é necessário para avaliar correctamente o desempenho do FMI.
Talvez fosse importante dizer mesmo quantas entrevistas fez.
Não posso dizer quantas fiz em específico sobre Portugal, porque algumas entrevistas cobriram vários países. Posso dizer que, no total, foram mais de 130 pessoas entrevistadas, algumas delas mais do que uma vez. E isto são apenas as que fiz para o meu paper, não incluem aquelas que outros membros da equipa da avaliação fizeram para outras partes do relatório. De referir, que as entrevistas foram feitas entre o início de 2015 e o momento actual.