Notícia
Há 41 fundos espanhóis apanhados na malha do Novo Banco
Até ao momento, 41 carteiras de obrigações, sob o comando de 15 sociedades gestoras, anunciaram ter sofrido com a decisão do Banco de Portugal que capitalizou o Novo Banco. Alguns fundos perdem mais de 10% do património.
O Negócios já tinha feito contas há uma semana: havia pelo menos 17 fundos de investimento espanhóis com dívida sénior que tinha sido retirada do Novo Banco, com base em comunicações feitas por sociedades gestoras de fundos. Contudo, as comunicações ao regulador continuam e, agora, há uma nova contabilização: o jornal espanhol Cinco Días fala em 41 fundos afectados.
Os gestores de fundos de investimento ou outro tipo de sociedades de investimento tiveram de informar o mercado, através do site do regulador espanhol do mercado de capitais, se foram afectados pela transferência de cinco séries de obrigações do Novo Banco para o BES "mau", onde as expectativas de reembolso são negativas dada a desequilibrada situação patrimonial do veículo, que vai agora para liquidação.
São 41 carteiras as que fizeram esta comunicação à CNMV até esta terça-feira, 19 de Janeiro, segundo a recente contabilização do Cinco Días, sendo que são 15 as sociedades gestoras de tais carteiras afectadas.
Há fundos de sociedades gestoras de grandes instituições financeiras, muitas delas com ligações a Portugal, entre os quais o Santander (presente no país com o Santander Totta), o Bankinter (que está a entrar em Portugal com a compra do retalho do Barclays) e o Caixabank (principal accionista do BPI). Os fundos mais atingidos pela decisão tomada pelo Banco de Portugal – da qual o Banco Central Europeu se desresponsabilizou e a que o Governo de António Costa assumiu ter-se oposto – são os do Novo Banco em Espanha.
Segundo os dados citados pelo Cinco Días com base nas comunicações ao regulador, há carteiras que sofrem uma perda superior a 10% no seu património total com a transferência de dívida – uma transição que ditou perdas nos títulos que são negociados em mercado e obriga ao reconhecimento destes impactos. Grande parte desses fundos são os do Novo Banco.
A transferência de dívida da instituição liderada por Eduardo Stock da Cunha foi a forma encontrada pelo Banco de Portugal para a sua recapitalização, em 1.985 milhões de euros, já que foi libertada da responsabilidade de assegurar estes reembolsos. O regulador seleccionou cinco das várias séries de obrigações do Novo Banco, as que, aquando da emissão, podiam ter sido subscritas apenas por um mínimo de 100 mil euros por título, o que o levou a crer que só afectaria investidores institucionais, como fundos de investimento.
Efectivamente, houve grandes investidores afectados – a gestora norte-americana Pimco tem feito disso nota, tendo anunciado a contestação à decisão do Banco de Portugal e escrevendo críticas a Portugal no Financial Times. Mas também particulares foram apanhados com estes títulos nas mãos, depois de os mesmos terem sido vendidos a balcões de bancos ou transaccionados em mercado secundário.
Citação "Estes títulos de dívida registaram uma descida significativa no seu valor, em consequência da decisão do Banco de Portugal em transferir uma série de obrigações sénior do balanço do Novo Banco para o Banco Espírito Santo
UBS AEm comunicado enviado à CNVM
Em Portugal só cinco fundos foram afectados
Estes são alguns dos investidores institucionais que o Banco de Portugal afectou com a decisão de retransmitir obrigações seniores avaliadas em 1.985 milhões de euros do Novo Banco para o BES, retirando a responsabilidade pelo reembolso do primeiro e, dessa forma, reforçando os seus rácios.
Em Portugal, os grandes bancos escaparam a perdas directamente, tal como a maior seguradora nacional, a Fidelidade. No campo dos fundos de investimento, três (de duas sociedades gestoras) foram afectados pela decisão, a par de outros dois fundos de pensões. Em todos os casos, a associação que representa os fundos (APFIPP) esclarece que o peso destas obrigações é reduzido face ao valor total das carteiras dos fundos.
A informação sobre os fundos portugueses foi revelada ao Negócios pela APFIPP, sendo que as entidades gestoras não fizeram até agora uma comunicação oficial ao mercado.