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Uber: A aplicação que dá boleia à polémica
Os taxistas já estavam contra. Agora os jornalistas torcem o nariz ao “serviço de táxis” através da aplicação Uber. As polémicas têm-se sucedido.
Um encontro entre um executivo da Uber e vários jornalistas. Tudo normal, até ao momento em que Emil Michael define uma posição: a Uber está disposta a pagar a profissionais para desenterrar podres dos jornalistas mais críticos do serviço. Fazê-los "provar o seu próprio veneno", no fundo. A história, como seria de esperar, foi parar ao BuzzFeed.
No centro dos ataques, um nome: Sarah Lacy do "site" PandoDaily. A jornalista tinha-se mostrado contra uma campanha promocional da Uber em França, acusando a empresa de "sexismo e misoginia". Na origem da questão estava a opção da Uber em colocar acompanhantes de luxo como motoristas. Anunciou, por isso, que ia boicotar o serviço.
No mesmo jantar, Emil Michael afirmou que Lacy deveria ser "pessoalmente responsabilizada" por todas as mulheres que optassem por cancelar o serviço de táxis da Uber e acabassem sexualmente abusadas. A polémica explodiu "online", multiplicando-se os ataques às palavras do executivo. Michael ainda pediu desculpa, mas era tarde demais.
A desconfiança dos utilizadores foi levada ao extremo perante as histórias de alegadas violações de dados por parte da Uber que foram chegando à imprensa. Na terça-feira, a companhia admitiu que estava a investigar um alto executivo do seu escritório em Nova Iorque, Josh Mohrer, que terá monitorizado os percursos de um jornalista da BuzzFeed.
Outros terão sido alvo deste tipo de rastreio nos seus percursos através de um programa interno conhecido como God View [Visão de Deus, numa tradução à letra]. Na prática, o "software" permitia ter acesso a todas as localizações das viaturas da Uber e dos clientes que tinham recorrido ao serviço.
Nessa mesma terça-feira, a Uber tornou pública a sua política de privacidade nos dados, acrescentando que sempre tinha estado em vigor. A companhia admitiu aceder aos dados dos utilizadores mas apenas para "fins de negócios legítimos". Mais uma razão para explicar um movimento que apela agora um boicote ao serviço. Vários são os "sites", à semelhança do Marketwatch, a apresentar motivos para apagar a conta na Uber. É uma empresa que "precisa de crescer", tornar-se adulta, dizem.
A contestação à aplicação que permite chamar um motorista particular através do telemóvel não é nova. Das campanhas às alegadas falhas de segurança, os motivos têm sido variados. A Uber é acusada de concorrência desleal por parte dos principais rivais. Em Junho, os taxistas contestaram parando o trânsito em cidades como Londres, Paris, Madrid ou Milão. As questões de licenciamento para o transporte comercial de passageiros estão na origem da disputa.
Na Alemanha, chegou a ser proibido usar o serviço, arriscando-se a multas até aos 250 mil euros quem não cumprisse com o estabelecido. A proibição do tribunal de Frankfurt acabaria por ser levantada pouco tempo depois. Actualmente, em Espanha, o governo catalão ultima um decreto para impedir que os veículos da Uber continuem o serviço naquela comunidade autónoma. A confirmar-se a intenção, os motoristas interceptados terão de pagar até seis mil euros para recuperar os seus veículos. As sanções já estão em prática.
E em Portugal, o que se conta?
Chegou a Portugal em Julho deste ano. Até agora, não tem despoletado polémica, sobretudo por só estar disponível uma modalidade em Lisboa: o UberBLACK, serviço que permite alugar carros mais luxuosos conduzidos por motoristas profissionais.
A tarifa mínima é de oito euros. A tarifa base é de dois euros, acrescentando-se 30 cêntimos por cada minuto e 1,10 euros por quilómetro. Do preço final, o motorista arrecada 80% e a Uber uma comissão de 20%.
O que é a Uber?
A Uber é uma aplicação que permite solicitar um serviço de transporte através do telemóvel. Todo o processo – inclusive o pagamento - é tratado através do dispositivo. Com base na sua localização, a aplicação contacta, na sua base de dados, o veículo mais próximo registado na empresa. A identificação e detalhes da viatura ficam depois disponíveis no telemóvel do cliente.
O serviço foi criado em 2009 nos Estados Unidos e está agora presente em 140 cidades, distribuídas por 40 países. A Uber vale cerca de 17 mil milhões de dólares. Entre os seus financiadores contam-se a Google e o Goldman Sachs.