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Agricultura sobe rendimento mas não alimenta o país

Apesar do ano "globalmente positivo" descrito pelo INE, a balança comercial tem défice de 3,2 mil milhões de euros e o grau de auto-aprovisionamento é insuficiente nos principais produtos agrícolas e agro-alimentares.

Correio da Manhã
05 de Setembro de 2016 às 14:59
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A campanha 2014/2015 resultou num ano "globalmente positivo" para a agricultura portuguesa, tendo aumentado a produção em várias culturas e também o rendimento da actividade agrícola face ao ano anterior. No entanto, a balança comercial dos produtos agrícolas e agro-alimentares continua a ser fortemente deficitária, mostra a publicação Estatísticas Agrícolas - 2015, divulgada esta segunda-feira, 5 de Setembro, pelo INE.

 

Segundo a estimativa das Contas Económicas da Agricultura para 2015, baseada nos dados disponíveis até ao final de Janeiro deste ano, o rendimento da actividade agrícola, por unidade de trabalho ano (UTA), registou um acréscimo de 3,1% em termos reais, em relação a 2014. A UTA é a unidade de medida equivalente ao trabalho de uma pessoa a tempo completo realizado num ano medido em horas (1 UTA = 240 dias de trabalho a 8 horas por dia).

 

"A evolução estimada reflecte o efeito conjugado do aumento nominal do Valor Acrescentado bruto (VAB) a preços de base (+4,5%), da diminuição dos subsídios (-7,4%) e do decréscimo do volume de mão-de-obra agrícola (-3,7%). A evolução nominal positiva do VAB traduz o acréscimo da produção do ramo agrícola (+2,2%) superior ao aumento do consumo intermédio (+0,8%)", explica o INE na edição de 2016 deste documento, que apresenta como um retrato actual e o mais abrangente possível da agricultura nacional.

 

Num ano agrícola 2014/2015 em que, por exemplo, subiu a produção de vinho, foram batidos recordes no azeite e prosseguiu a caminhada de sucesso do tomate para a indústria, um dos maiores destaques vai para ao aumento de 5% na produção de carne. Uma "tendência generalizada" para todas as espécies pecuárias que melhorou o grau de aprovisionamento do país e baixou as importações. Ainda assim, Portugal só produziu três quartos da quantidade necessária para satisfazer as necessidades nacionais de consumo. Em média, cada residente comeu 111 quilos de carne, mais três do que no ano anterior.

 

A produção de carne de bovino cresceu 11% após três descidas anuais consecutivas, as "contínuas promoções" dos supermercados e "alguma recuperação no poder de compra das famílias" contribuíram para um aumento de 4,9% na carne de suíno e as carnes de animais de capoeira subiram 4,3%, com o contributo "decisivo" da produção de frango. A produção de carne de ovino (1,9%) e de caprino (4,5%) também progrediu face a 2014.

 

A produção de carne em Portugal aumentou 5% em 2015, crescendo em todas as espécies pecuárias. Em média, cada português comeu 111 quilos de carne, mais três do que no ano anterior.
A produção de carne em Portugal aumentou 5% em 2015, crescendo em todas as espécies pecuárias. Em média, cada português comeu 111 quilos de carne, mais três do que no ano anterior.

 

Ainda no sector pecuário, além da carne também aumentou quase 10% a produção bruta de ovos de galinha e a de leite acabou igualmente por ter uma variação positiva, embora mais ligeira (0,6%). "A estabilidade dos preços das rações e o escoamento pela indústria (cooperativa e privada) de todo o leite produzido explicam em grande parte este acréscimo, não obstante ter-se assistido, sobretudo a partir do segundo semestre, a um maior controle da produção, em parte consequência do estabelecimento de contratos entre compradores de leite e produtores", detalha o INE. No ano passado, o grau de auto-aprovisionamento para o conjunto dos produtos lácteos manteve-se praticamente inalterado em 96%.

 

No que toca ao consumo em 2015, face a 2014, cada residente em Portugal consumiu em média 71 litros de leite (menos 8 litros), 45 quilos de produtos lácteos (mais meio quilo), 128,5 quilos de cereais (menos meio quilo), a mesma quantidade de arroz (16 quilos) e ainda 104 quilos de frutos (menos 0,7 quilos). Nos cereais, o país continua a ter o grau de auto-aprovisionamento "tradicionalmente baixo" (26,8%) e confirma-se que também não é auto-suficiente nos frutos, embora tenha atingido na última campanha o maior valor dos últimos 23 anos: produziu 85,8% do total da fruta consumida.

 

Angola e Brasil encolhem compras

 

A balança comercial dos produtos agrícolas e agro-alimentares melhorou 27 milhões de euros relativamente ao período homólogo – em resultado do aumento superior das exportações face às importações –, mas continua a ser fortemente deficitária, a rondar os 3,2 mil milhões de euros. O maior défice continua a registar-se nas transacções de "carnes e miudezas, comestíveis", sendo o maior excedente nacional na categoria "preparações de produtos hortícolas, de frutas e de outras partes de plantas".

 

Espanha é o maior fornecedor de produtos agrícolas e agro-alimentares consumidos pelos portugueses, com uma quota de 48,1%, seguindo-se a França (9,3%), os Países Baixos (5,1%) e a Alemanha (5,0%). E é também do outro lado da fronteira que está o principal cliente, com um peso de 36,6% na totalidade das compras.

 

Angola mantém-se como o segundo maior comprador, agora com quota de 9,4%, escapando por pouco à ultrapassagem da França (9,2%) depois de ter afundado 16,2% ao comprar menos 69 milhões de euros deste tipo de produtos. Num registo macro que mostra o cenário de risco para as exportações já evidenciado pelos vinhos do Alentejo, como o Negócios noticiou a 16 de Agosto, também o Brasil encolheu 8,9% as encomendas a Portugal, baixando da quarta para a quinta posição no ranking dos melhores clientes.

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