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Governo não prevê regresso da emigração a níveis pré-crise

As cerca de 110 mil pessoas que saíram definitivamente do país em 2015 sugerem uma “estagnação” ou “ligeira descida” da emigração. Mas o número é historicamente elevado, comparável aos dos anos 60 ou 70. E o Governo não espera que recue para níveis pré-crise.

Bruno Simão
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Foram cerca de 110 mil os portugueses que emigraram ao longo do ano passado. O número que aponta para uma "estagnação" ou "ligeira descida" da emigração – consoante a série analisada – é historicamente elevado e ainda comparável com os fluxos dos anos 60 e 70. Apesar de relacionar a "explosão" registada nos últimos anos com a recessão, o Governo não espera que o fluxo volte ao normal. "É improvável, nos próximos anos, uma redução do volume da emigração para os níveis anteriores à crise", conclui o relatório do Observatório da Emigração relativo a 2015.

A falta de emprego e a precariedade são referidos como principais motivos para deixar o país. Mas as saídas permanentes não deverão reagir de forma automática a melhorias do mercado de trabalho, baixando para os 80 mil registados em 2008. O aumento da mobilidade e o facto de as novas comunidades funcionarem como factor de "atracção" são as explicações apresentadas.

"É preciso haver quase um cataclismo para a emigração explodir. Depois ela sustenta-se, até quando as assimetrias já não são tão grandes", porque foi criada uma nova rede de apoio, justificou esta quinta-feira em conferência de imprensa o coordenador do Observatório da Emigração. Rui Pena Pires reconheceu que os níveis de 2015, apurados através do que os institutos de estatística dos países de destino consideram "entradas permanentes", estão acima do previsto. "Eu esperava que a emigração estivesse a descer", ou a "descer um pouco mais", mas os níveis ainda são "historicamente elevados".




Ainda assim, o que distingue Portugal na Europa "não é ter uma grande emigração". É antes "não ter praticamente imigração". E é esse desequilíbrio entre os dois fluxos que gera o problema demográfico. "Nos últimos anos tem sido maior o número de portugueses que regressam do que o de estrangeiros a entrar em Portugal". Mesmo que o número de emigrantes que regressam não tenha grande expressão (abaixo de 10 mil por ano).

Os responsáveis destacaram o "surpreendente" aumento de mais de 30% na emigração para Angola, que em 2015 pode ainda não traduzir todos os efeitos da crise. O Reino Unido continuou a ser o principal destino, com 32 mil saídas. E o Brexit gera muitas incógnitas. Augusto Santos Silva referiu que os direitos se mantém até 2019 e que as alterações que serão negociadas não afectam os portugueses que entretanto conseguirem residência legal.

Portugal lidera em número de emigrantes

Os dados actualizados pelas Nações Unidas, também relativos a 2015, revelam que Portugal é agora o país da União Europeia (sem contar com o Chipre) com mais emigrantes em proporção da população residente: 2,3 milhões, 22% do total de portugueses. Neste indicador (que traduz o stock) Portugal está em 12.º lugar a nível mundial. França, Suíça ou Estados Unidos lideram como destinos.

Entre 2001 e 2011, a percentagem de licenciados quase duplicou (passou de 6% para 11%), uma evolução que Rui Pena Pires desvaloriza alegando que acompanha a recomposição das qualificações dos portugueses. O que existe é um problema de "sobrequalificação", sustenta: tem crescido mais o número de emigrantes qualificados do que o número de pessoas em profissões que exijam essas qualificações. O envelhecimento dos emigrantes em antigas comunidades de destino é outro factor de preocupação.

É preciso haver quase um cataclismo para a emigração explodir. Depois ela sustenta-se. Rui Pena pires
Coordenador do Observatório da Emigração




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