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Emigração para Andorra mantém-se na base da "montanha" da crise
O número de entradas de portugueses no principado continua 90% abaixo do fluxo registado há menos de uma década. O Governo local acena com novas oportunidades para os emigrantes, que Marcelo vai visitar em Setembro.
A emigração portuguesa para Andorra permaneceu estável no ano passado, no mesmo nível historicamente baixo para onde desceu devido sobretudo à crise no sector da construção e do imobiliário a partir de meados da última década. Os dados oficiais apontam para a entrada de 301 pessoas em 2016, menos duas do que no ano anterior e o equivalente a 9% do total de 3.362 estrangeiros que chegaram ao território.
Os números do Departament d'Estadística de Andorra mostram que, depois do pico atingido em 2005 – ano em que os 2.776 portugueses que entraram, um em cada cinco estrangeiros, constituem o valor mais elevado da série disponibilizada pelo organismo estatal –, a emigração para aquele destino "desceu abruptamente" durante nove exercícios consecutivos, até tocar o mínimo de 244 entradas registado em 2014.
O sublinhado é do Observatório da Emigração, que num destaque assinado pela investigadora Inês Vidigal cita os dados desta entidade de estatísticas. "Em 2008 verificou-se a maior queda na emigração portuguesa para Andorra (-54%), o que reflecte o carácter abrupto e profundo da crise do imobiliário em Espanha", sublinha a colaboradora deste observatório liderado por Rui Pena Pires.
Foram precisamente as dificuldades que assolaram o sector da construção, a que se juntou a "vontade de voltar à terra", que em 2011, na altura em que Portugal pedia o resgate da troika, levaram António e Rosinda Gomes a decidir o regresso a Ponte de Lima, depois de sete anos emigrados em Andorra. É que nesse ramo a que se dedicava o patriarca da família – a mulher trabalhava na secção de verduras de um supermercado –, os salários desceram para cerca de metade com o rebentamento da bolha.
O filho único, que emigrou meio ano depois do casal limiano, em Setembro de 2004, ainda continua a viver no principado, tendo furado por completo o plano gizado para ali permanecer "um ou dois anos". Paulo Gomes começou por trabalhar num restaurante "gourmet", mas os horários e a (falta de) motivação levaram-no a mudar de emprego para o departamento de electrónica de um centro comercial, onde está há dez anos e é responsável pela parte administrativa.
O jovem minhoto, 33 anos, é uma das 10.300 pessoas com nacionalidade portuguesa que residem em Andorra, compondo uma comunidade que ascende actualmente a 13% da população total. Os dados oficiais mostram que a quebra no "stock" de residentes de origem lusitana começou a sentir-se em 2009, depois do recorde de quase 13.800 portugueses, registado no ano anterior. Este movimento acompanhou a tendência de saída de moradores de outras nacionalidades, a tal ponto que o peso que os estrangeiros chegaram a ter no total da população baixou dez pontos em menos de uma década, para os actuais 54%.
"Nos últimos anos nota-se que chegam muito menos portugueses a Andorra, sobretudo porque o sector da construção continua num mau momento. Dos que chegam, grande parte são emigrantes que tinham voltado para Portugal ou que estavam noutros países, em particular na França", descreve Paulo Gomes ao Negócios. Notando que este é um "destino complicado" para os profissionais qualificados devido ao idioma e dando o exemplo das empresas públicas que "são muito exigentes com o nível de catalão" – um factor secundário nos ramos da construção ou na hotelaria.
Novas oportunidades e Marcelo depois das férias
Entre os portugueses que ainda vão chegando ao território, agora numa cadência anual que ronda as três centenas, destacam-se as famílias oriundas da região Norte que "procuram uma vida tranquila a nível social, familiar e financeiro porque isso ainda é possível em Andorra". E trabalho não falta, diz Paulo Gomes, sustentando a tese do ministro dos Assuntos Exteriores durante uma visita a Lisboa, em Fevereiro de 2016, onde garantiu haver "necessidade de mão-de-obra" e quotas de imigração de cerca de 600 a 700 pessoas por ano, além das temporárias para os trabalhos de Inverno.
Gilbert Saboya Sunyé recordou que "a crise de 2008 a 2012 tocou muito a construção e é verdade que uma parte importante dos emigrantes portugueses em Andorra estava nesse sector, que está agora estabilizado" e confiou que "seguramente podem surgir nesta área novas iniciativas, muito relacionadas (…) não tanto com a construção nova, mas com renovações no âmbito da eficiência energética". O ministro atestou ainda que nos últimos anos tem voltado a crescer também o sector do turismo, "no qual há uma criação de postos de trabalho".
A emigração será um dos focos da visita do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, agendada para os dias 7 e 8 de Setembro, em resposta a um convite de Antoni Martí, chefe do Executivo de Andorra, feito em Setembro do ano passado durante uma passagem pela vila de Ponte de Lima e pela cidade de Viana do Castelo, ambas localizadas no Alto Minho.
De acordo com a agenda já disponibilizada pelo Palácio de Belém, o chefe de Estado terá encontros com as mais altas autoridades políticas andorranas, participará nas festividades de Meritxell, a padroeira do principado, e encerra a viagem com encontros com a comunidade portuguesa radicada neste pequeno país dos Pirinéus.