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Pedro Nuno Santos responde a Santos Silva e quer afirmação do PS à esquerda

Já com o Congresso do final do mês no horizonte, Pedro Nuno Santos defende que o sucesso do Governo e da actual maioria nada deve à terceira via e pede a afirmação do PS à esquerda. Foi uma resposta a Augusto Santos Silva que defendeu que os socialistas não devem enterrar a terceira via.

EPA
04 de Maio de 2018 às 12:38
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A julgar pela troca de argumentos feita entre dois elementos do Governo socialista, através de artigos de opinião publicados no jornal Público, o debate ideológico está de regresso ao PS e deverá assumir papel central no próximo Congresso do partido, agendado para o final deste mês, na Batalha.

 

Esta sexta-feira, num texto intitulado "a social-democracia para além da terceira via", Pedro Nuno Santos começa por considerar que o acordo parlamentar que deu origem à actual solução governativa "pode ter salvo o PS" do retrocesso verificado da social-democracia um pouco por toda a Europa. E numa crítica à ala direita do partido, o secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares garante que "teria sido bem diferente" se o PS tivesse viabilizado um Governo PSD-CDS.


O governante responsável por articular São Bento com a esquerda parlamentar direcciona depois o artigo numa resposta ao seu colega de partido e Executivo, Augusto Santos Silva, quando defende que "o sucesso deste Governo e desta maioria nada deve à terceira via".

É que há duas semanas, também no Público, o ministro dos Negócios Estrangeiros – muitas vezes apontado, entre outros por Jorge Coelho, como o "ideólogo" do Governo – argumentou que enterrar a "renovação e modernização" possibilitadas pela terceira via seria "fatal para a reafirmação de que precisamos".

"O futuro da esquerda democrática não está na radicalização política ou programática (…) O caminho não é, portanto, oscilarmos para os extremos, mas sim manter a autonomia do nosso posicionamento central", escreveu então Santos Silva. Ao que Pedro Nuno Santos reage defendendo que "não é preciso afastarmo-nos da esquerda". Onde Santos Silva quer um PS a afirmar-se "como esquerda europeísta e moderada", Nuno Santos quer que os socialistas "evitem "uma excessiva diluição das fronteiras com outros partidos".

 

Pese embora o lado teórico do artigo, Pedro Nuno Santos aponta o caminho com exemplos concretos. Mas antes de explicar o rumo a seguir sublinha o caminho que não deve ser seguido: o PS não pode fazer como a generalidade dos partidos sociais-democratas que são hoje forças "das classes médias mais qualificadas" e ignoram os "eleitores com baixas e médias-qualificações".

O PS deve afirmar-se sem temor de acusações de "radicalização programática" construindo um Estado capaz de "limitar os mercados, como nos serviços públicos universais de educação e saúde" ou através de "regulação inteligente". Ou ainda mediante a "construção de mercados através de políticas de inovação". O socialista recusa que esta seja uma agenda anticapitalista ou promotora do liberalismo económico, sendo sim uma "agenda social-democrata para o século XXI".

Em Fevereiro, Pedro Nuno Santos já tinha trocado - também em textos publicados no Público - argumentos com a deputada do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, sobre o que é social-democracia.

Congresso vai discutir ideologia e futuras alianças

A luta argumentativa entre estes dois socialistas é também uma antecâmara da discussão sobre a estratégia pós-legislativas que o PS deve adoptar no próximo ano. Uma questão deixada completamente em aberto na moção estratégica global que o secretário-geral socialista, António Costa, leva ao Congresso que decorre entre os dias 25 e 27 de Maio. 

Tudo indica que Pedro Nuno Santos vá, também ele, apresentar uma moção sectorial no conclave socialista, mas, segundo o que o Negócios conseguiu apurar, o documento do governante não vai conter elementos demasiado ideológicos. Contudo, as posições assumidas por Santos Silva e Pedro Nuno Santos representam desde já uma tentativa de condicionamento das alianças que o partido deve forjar depois das legislativas de 2019. 

Isto se o PS quiser, ou precisar, de alianças pós-eleitorais, do que poderá depender a conquista de uma maioria absoluta. Apesar de o primeiro-ministro recusar pedir explicitamente maioria absoluta e de ter garantido em diversas ocasiões que, independentemente do resultado das próximas eleições, é favorável à manutenção de acordos com BE, PCP e Verdes, porque em "equipa que ganha não se mexe", na moção com que se recandidata à liderança do partido Costa faz depender "da capacidade e da força do PS dependerá a concretização" dos desafios que Portugal vai enfrentar na próxima década.

Uma das curiosidades do próximo Congresso será perceber se António Costa vai pender para alguma das alas ou se vai assumir o papel de fiel da balança na contenda já em curso no seio do partido, mantendo em aberto todas as possibilidades para o ciclo eleitoral que em 2019 tem três eleições (europeias, legislativas e regionais na Madeira).

(Notícia actualizada às 15:25 com correcção porque Pedro Nuno Santos já não é presidente do PS-Aveiro)

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