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Costa não fecha a porta a Governo de esquerda com apoio do PCP

No final da reunião entre o PS e o PCP, ficou claro que para o PCP "o PS só não governa se não quiser". Já António Costa continuará com o diálogo à esquerda para dar "expressão institucional àquilo que foi a vontade popular".

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07 de Outubro de 2015 às 19:53
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No final da reunião desta quarta-feira, 7 de Outubro, entre o PS e o PCP, só os comunistas se quiseram comprometer, voltando a anunciar a sua rejeição a um novo Governo entre o PSD e o CDS e garantindo apoio a um Executivo socialista, com o PS a preferir manter a porta aberta para novas rondas de diálogo com o partido liderado por Jerónimo de Sousa.

 

No final do encontro que decorreu na Soeiro Pereira Gomes (sede do PCP), em Lisboa, das palavras proferidas por António Costa ressalta uma expressão: "É prematuro". O secretário-geral socialista disse ser ainda cedo para avançar conclusões acerca do "diálogo muito franco" em que para além das divergências óbvias e "conhecidas" foi possível "identificar convergência importantes".

 

Todavia, Costa disse que "nos próximos dias" haverá oportunidade para "aprofundar estes pontos de convergência" entre os dois partidos de forma a "dar expressão ao voto popular pela mudança de políticas". O que parece indiciar que o PS não coloca de parte a possibilidade de constituição de um Executivo apoiado pela esquerda.

[É preciso] dar expressão ao voto popular pela mudança de políticas
António Costa

 

O líder socialista frisaria novamente a necessidade de corresponder ao voto dos portugueses no passado domingo, realçando a importância de assegurar uma "expressão institucional daquilo que foi a vontade dos portugueses". Como tal, anunciou que "há trabalho que vai prosseguir" nos próximos dias de forma a aprofundar os pontos comuns entre as duas forças.

 

Pelo seu lado, Jerónimo de Sousa tentou ser mais concreto, dizendo mesmo que o PCP está disponível para governar. O secretário-geral comunista começou por notar que as eleições permitiram criar "uma base [parlamentar] para outras soluções governativas" e, com o PS na mira, declarou que "seria incompreensível que se desperdiçasse essa oportunidade". Nesse sentido, Jerónimo garantiu que o PCP está preparado "para assumir todas as responsabilidades, inclusive governativas".

 

Quanto ao mais, o líder comunista reiterou que "o PCP rejeitará" a reedição de um Governo de coligação entre o PSD e o CDS, reforçando a disponibilidade do seu partido para contribuir no sentido de uma solução à esquerda que respeite "a aspiração da maioria do povo português por uma política alternativa".

 

Apesar da aparente aproximação entre os dois partidos, do lado comunista não cessaram os remoques aos socialistas cujo programa "não corresponde a uma ruptura com as políticas de direita". Mas apesar de Jerónimo dizer que está consciente das dificuldades para "encontrar uma convergência" com vista à formação de um Governo de esquerda, o líder comunista afiança que tal não implica que não seja encontrada uma alternativa à minoria parlamentar de direita. Para Jerónimo a conclusão é óbvia: "Nada impede o PS de formar Governo".

 

Nada impede o PS de formar Governo

Jerónimo de Sousa

Este nada inclui o Presidente da República. Cavaco Silva, que ainda ontem encarregou o Passos Coelho de negociar com o PS de forma a assegurar "uma solução governativa que assegure a estabilidade política e a governabilidade do país". A actuação de Cavaco é vista na Soeiro Pereira Gomes como "intolerável" até porque é feita "à margem das regras da Constituição portuguesa".

PS e PCP convergem no diagnóstico mas não na receita

Ficou claro ao longo da campanha eleitoral que tanto o PS como o PCP pretendem um "virar de página" no que às políticas de austeridade diz respeito. Mas também são sobejamente conhecidas as diferenças, designadamente em matérias relacionadas com a União Europeia e a Zona Euro. Já para não falar do papel que cada partido atribui àquele que deve ser o papel do Estado.

 

A importância disso mesmo foi hoje salientada por António Costa quando disse que "não estamos a negociar uma fusão dos partidos, mas a trabalhar sobre aquilo que nos divide. E trabalhar sobre aquilo que julgamos serem perspectivas comuns". Contudo, Costa não se compromete com nenhuma posição em relação ao debate que, nos últimos dias, vem sendo feito sobre o grau de legitimidade de um hipotético Governo formado pela esquerda, isto tendo em conta a vitória da coligação PSD/CDS no domingo passado.

 

A conversa não se centrou sobre os modelos institucionais, mas sobre as alternativas de políticas e é sobre essas que importa trabalhar
António Costa

"A conversa não se centrou sobre os modelos institucionais, mas sobre as alternativas de políticas e é sobre essas que importa trabalhar", resumiu o secretário-geral do PS.

 

Só que para o PCP o cenário é evidente. No domingo houve "uma clara condenação do Governo e da sua política", mas Jerónimo admite que "não é apenas da composição do Governo que se trata, mas de uma resposta aos anseios do povo".

 

Jerónimo de Sousa foi, inclusivamente, um pouco mais longe, ao sustentar que "o PS só não governa se não quiser, porque enjeitaremos qualquer moção de rejeição" vinda da direita.

 

O périplo de António Costa e da sua equipa, que inclui nomes como o de Mário Centeno, coordenador do cenário macroeconómico socialista, ou de Pedro Nuno Santos, deputado do PS, prossegue já esta quinta-feira, 8 de Outubro. Os socialistas vão reunir-se com o BE para uma provável tentativa de busca de pontos de convergência e posterior aprofundamento. Para sexta-feira de manhã está reservado um encontro entre Costa e Passos.

 

Resta saber se quando António Costa se encontrar com o ainda primeiro-ministro apostará em explicar que, como afirmou no passado domingo, "a coligação tem de perceber que há um novo quadro e não pode continuar a governar como se nada tivesse acontecido", ou se, pelo contrário, levará na bagagem o objectivo de se apoiar na esquerda para impor um Governo protagonizado pelos socialistas.

(Notícia actualizada pela última vez às 21h)

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