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Candidato da esquerda francesa vem a Portugal estudar a "geringonça"

Benoît Hamon vem tomar contacto com a "brinquebalante" - a "geringonça" - e deverá reunir-se com António Costa. Pelo meio, tem a tarefa de tentar unir a esquerda em França, ainda sem acesso à segunda volta das presidenciais.

Reuters
17 de Fevereiro de 2017 às 11:58
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"Um governo que tira os seus cidadãos da austeridade e aplica o seu programa à letra ao mesmo tempo que reduz ao défice e a dívida" e um país em que socialistas governam "com apoio da esquerda radical e dos comunistas".


É este, segundo o jornal francês Libération, o cenário que Benoît Hamon, o socialista vencedor das primárias à esquerda e candidato às presidenciais francesas, vai encontrar esta sexta-feira e sábado, dias em que estará em Portugal para "estudar" a "geringonça".


Esta será a primeira deslocação internacional de Hamon, que passará 36 horas em Lisboa, nota o periódico. O candidato terá encontros com a líder do Bloco de Esquerda, Catarina Martins (hoje às 17:15) e com a UGT (às 19:00), da agenda que até agora é conhecida. 


A análise à "brinquebalante" (designação em francês de uma "estrutura oscilante" e que é aplicada ao termo "geringonça", por que vem sendo designada a solução governativa à esquerda) deverá incluir um encontro este sábado à tarde com António Costa (o canal parlamentar francês refere que ocorrerá às 16:00), o "muito popular primeiro-ministro" (a expressão é mais uma vez do Libération).


A vinda a Lisboa é vista pela imprensa gaulesa como um segundo fôlego para a campanha socialista, numa altura em que as mais recentes sondagens colocam Hamon com fracas possibilidades de chegar ao Eliseu e se discute a união à esquerda.

O estudo de opinião divulgado pelo económico Les Echos esta sexta-feira dá o candidato com 16% na primeira volta, em quarto lugar e sem hipóteses, para já, de passar a um segundo turno, que seria disputado por Marine Le Pen, da extrema-direita, e por um dos outros dois candidatos: François Fillon, indicado pela direita, ou o centrista Emmanuel Macron.

A Radio France Inter refere que o objectivo da visita a Lisboa é "juntar a esquerda" em França, onde o outro candidato desta área política, Jean-Luc Mélenchon, recolheria 13% dos votos na sondagem do Les Echos.

Mercados torcem o nariz à união

Esta sexta-feira, em entrevista à rádio France Info, Hamon confirmou a existência de conversações entre as máquinas dos dois candidatos, apesar de Mélenchon já ter garantido que não desistirá em favor de Benoît. "Estamos a debater e vamos continuar a ter conversações. (…) Falámos e voltaremos hoje a falar outra vez," afirmou Hamon, citado pela Reuters. Yannick Jadot, o candidato ecologista, também poderia ser chamado à solução presidencial única.

Mélenchon reivindicou para si entretanto a paternidade da aproximação, e renovou as condições para uma solução única: afastar qualquer acordo com Macron, fazer uma ruptura com os cinco anos de mandato de François Hollande; garantir a saída do país da NATO; regresso da semana de 35 horas de trabalho, reforma aos 60 anos com 40 de descontos; fim da política dos tratados orçamentais e dos semestres europeus; travagem da aplicação da directiva dos serviços e consulta pública sobre o tratado comercial entre União Europeia e Canadá (CETA). 

Depois de ser conhecido este potencial cenário de proximidade entre os candidatos, nota a Bloomberg, os juros associados às obrigações francesas em mercado secundário agravaram três pontos base para 1,05% (maturidade a dez anos) e o prémio de risco alcançou o valor mais elevado numa semana.

Este cenário "aumenta as possibilidades de uma vitória de [Marine] Le Pen, com as obrigações francesas a serem já muito vulneráveis a riscos políticos. É muito cedo para perceber se isto muda o cenário uma vez que não sabemos quão sérias estas negociações são, mas isto é certamente algo de que os mercados não estão à espera," disse Kim Liu, do ABN Amro Bank, à agência noticiosa.

Portugal é "fonte de inspiração"

"Em Portugal, onde a esquerda estava desunida, encontrou-se um compromisso, sobretudo em torno das políticas de austeridade e a orientação da Europa. É evidentemente uma fonte de inspiração de conhecer um país onde a esquerda foi dada como derrotada e finalmente se encontra agora em situação de governar," afirmou Alexis Bachelay, porta-voz de Hamon, à iTele.

"Os franceses olham para Portugal mas o inverso também é verdade: os portugueses querem a vitória de Hamon em Maio, isso interessa-lhes localmente e também à escala europeia," diz o também porta-voz socialista Pascal Cherki ao Libération.

A meio da tarde, Hamon publicou no Twitter uma imagem à chegada a Lisboa onde diz que a visita se destina a falar da Europa "mas também da coligação das esquerdas que permitiu acabar com a austeridade."

Além de António Costa, Catarina Martins e da UGT, Hamon deverá encontrar-se com o embaixador de França, visitar o Liceu Francês e estabelecer contactos com empresários e com a comunidade francesa, com quem se reunirá num almoço este sábado, refere o Libération.

E não só a geringonça estará debaixo de olho do candidato socialista: também a despenalização do consumo de drogas leves, testada em Portugal, será analisada pelo candidato que defende a legalização do consumo de cannabis com "controlo" da sua distribuição.

(Notícia actualizada às 14:01 com mais informação)

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