Notícia
Perceba as medidas anunciadas pelo BCE
O Banco Central Europeu anunciou esta quinta-feira, 3 de Dezembro, um corte na taxa de depósitos, bem como a expansão e prolongamento do programa de compra de activos. Um conjunto de medidas que têm como objectivo impulsionar a inflação para o objectivo de “perto mas abaixo de 2%”. Conheça as medidas e os seus impactos.
Corte na taxa de depósitos para -0,30%
Após a conclusão de mais uma reunião de política monetária, o BCE divulgou um comunicado relativamente às taxas de juro para a Zona Euro. Manteve a taxa de referência e de cedência de liquidez nos actuais mínimos históricos – 0,05% e 0,30%, respectivamente -, mas cortou a taxa de depósitos para de -0,20% para -0,30%.
Esta medida já era aguardada pelos economistas, que previam um corte para até -0,40%. A dúvida quanto a uma redução tão aprofundado prendia-se com o facto de que seria sempre uma medida inédita, que alguns temiam que pudesse causar disrupções no mercado monetário. Em cima da mesa, segundo avançou a Reuters há uma semana, esteve também a possibilidade de a taxa passar a ter dois níveis, o que penalizaria mais os bancos que efectuassem grandes depósitos.
De qualquer forma, tendo como objectivo último aumentar e acentuar a inflação na Zona Euro, esta é uma das medidas com maior relevo actualmente. Isto porque, com a taxa de depósitos ainda mais negativa, o BCE está a desincentivar os bancos a depositarem o dinheiro na instituição monetária, uma vez que estão agora sujeitos a uma taxa de -0,30%.
Desta forma, pretende a instituição liderada por Mario Draghi, os bancos da Zona Euro irão depositar menos dinheiro, utilizando a diferença para conceder crédito a famílias e empresas da união monetária. Algo que, a acontecer, automaticamente aumentará a procura por bens e serviços e, assim, criará uma pressão inflacionista. O mandato do BCE prevê uma taxa de inflação no médio prazo "perto mas abaixo de 2%". Actualmente, esta está em 0,1%.
Compras de activos até Março de 2017
O programa de compra de activos do BCE, anunciado em Janeiro e que arrancou dois meses depois, tem decorrido a um ritmo de 60 mil milhões de euros por mês e, até agora, estava previsto durar até Setembro de 2016. Mas os responsáveis pela política monetária na Zona Euro decidiram esta quinta-feira prolongar o programa até Março de 2017. E Mario Draghi salientou que poderá continuar além desta data, caso seja necessário.
Desta forma, o BCE continuará a injectar liquidez na economia por mais seis meses do que o previsto. Feitas as contas, a instituição monetária comprará mais 360 mil milhões de euros em activos, de modo a impulsionar directamente a inflação. Além da vertente monetária desta medida, o banco central consegue influenciar indirectamente o desempenho orçamental dos países. Isto porque as compras de dívida soberana, especificamente, pressionam as respectivas taxas de juro, melhorando os custos de financiamento dos Estados.
Maior leque de activos e reinvestimento
Além das anteriores medidas, o BCE decidiu também aumentar os activos elegíveis para as compras. Desta feita, Mario Draghi anunciou que as obrigações de governos locais e regionais sediados na Zona Euro passaram a ser adquiridos pela instituição monetária. Esta decisão não é nova, já que o programa foi por uma vez alargado, passando a incluir dívida de empresa estatais não-financeiras. Além destes activos, o BCE compra dívida soberana, de agências públicas, de bancos de desenvolvimento multilaterais e de organizações internacionais, bem como instrumentos de dívida titularizados e "covered bonds".
Mas Mario Draghi respondeu também à pergunta que pairava no ar desde o início do programa. O que fará o BCE aos títulos que chegarem à maturidade? A solução encontrada nesta reunião é que os bancos centrais nacionais, entre os quais o Banco de Portugal, e o BCE reinvistam os reembolsos das obrigações, adquirindo novos títulos de dívida. Desta forma, as instituições estarão a prolongar o efeito de apoio à inflação, além de Março de 2017.