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Economistas acreditam que meta da inflação do BCE vai mudar

A maioria dos economistas inquiridos pelo Financial Times consideram que o mais provável é o Banco Central Europeu (BCE) mudar o objetivo da inflação. Vítor Constâncio e Benoît Cœuré seguem a mesma linha.

Reuters
23 de Dezembro de 2019 às 10:47
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A revisão da estratégia do Banco Central Europeu (BCE) vai começar em janeiro, mas a discussão sobre quais serão as mudanças já decorre. Há uma alteração cada vez mais consensual: a mudança do objetivo de inflação que atualmente se define por uma inflação "abaixo, mas próxima de 2%". 

Esta é a conclusão de um inquérito feito pelo Financial Times a 34 economistas cujos resultados foram divulgados esta segunda-feira, 23 de dezembro. Mais de metade desses economistas esperam que o BCE "emende" a quantificação do seu objetivo central, a estabilidade dos preços.

A concretizar-se, esta será a primeira mudança da meta de inflação em mais de 16 anos dado que a última revisão da estratégia ocorreu em 2003, nos primeiros anos da vida do BCE. Nessa ocasião, o objetivo passou de uma inflação entre 0 e 2% para uma inflação "abaixo, mas próxima de 2%", sendo que o objetivo era proteger a Zona Euro contra o risco de deflação.

Contudo, mais de uma década depois, o banco central da área do euro tem tido dificuldades em impulsionar a evolução dos preços para valores próximos do seu objetivo, abrindo a porta a uma mudança da própria meta e dos instrumentos que serão necessários para a alcançar. Esta revisão da estratégia arrancará em janeiro e terminará antes do final de 2020.

A presidente do BCE, Christine Lagarde - que prometeu "mente aberta" e "análise" neste processo -, disse na sua primeira reunião de política monetária que a interpretação do mandato da estabilidade dos preços será uma prioridade "central e fundamental" da revisão da estratégia do BCE, mas deixou totalmente em aberto em que direção deverão ir as mudanças. 

A maior parte dos economistas consultados pelo FT prevê que o BCE abandone a definição atual e simplifique-a, apontando para uma inflação de médio-prazo de 2%, semelhante à definição de estabilidade de preços da Reserva Federal norte-americana e do Banco de Inglaterra. Esta mudança neste momento daria mais espaço ao banco central para manter a política monetária acomodatícia dado que aumenta o patamar a partir do qual poderá começar a subir os juros outra vez. 

Esta é também a preferência de alguns "pesos pesados" do BCE. É o caso do ex-vice-presidente, Vítor Constâncio, que já demonstrou a sua preferência no Twitter por um objetivo de inflação de 2%. A mesma preferência tem Benoît Cœuré, atual membro do conselho executivo do BCE, cargo que abandona no final deste ano. 

Mas as mudanças não acabam aí. Além da simplificação do objetivo para os 2%, os economistas consultados pelo FT consideram que o banco central deveria adotar um objetivo simétrico. Tal significa que o BCE passaria a estar tão preocupado com a inflação ser muito baixa como ser muito alta.

Além disso, um objetivo simétrico - que também está a ser considerado nos Estados Unidos - pode servir para deixar a inflação ser mais alta do que o objetivo para compensar um longo período de inflação baixa sem provocar uma subida dos juros. Na fase final do mandato de Mario Draghi, ex-presidente do BCE, esta filosofia já vinha sendo adotada nos discursos. 

No entanto, os economistas inquiridos pelo FT não estão convencidos de que a revisão da estratégia irá trazer muitos resultados. Estes temem que a divisão que existe no Conselho do BCE, que foi colocada a nú na reunião de setembro com a introdução de um novo pacote de estímulos, possa limitar o espaço para consensos.  

No inquérito também surgem respostas, em menor número, de economistas que acham que o objetivo será mudado para um intervalo entre 1,5% e 2,5%, uma mudança mais "hawkish" (de aperto monetário), que permitia subir os juros mais cedo do que no paradigma atual. Apenas dois economistas antecipam que o BCE desça efetivamente a meta de inflação.
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