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QE do BCE faz cinco anos. Já foi enterrado, mas ressuscitou

Em 2015, o BCE avançou com o quantitative easing, que se traduz maioritariamente na compra de dívida pública, um dos instrumentos mais poderosos à disposição dos bancos centrais. O programa foi interrompido por quase um ano, mas voltou no final de 2019.

Bloomberg
22 de Janeiro de 2020 às 20:00
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É uma das medidas mais polémicas do Banco Central Europeu (BCE), principalmente junto da opinião pública alemã, mas a confirmação da sua legalidade por parte dos tribunais europeus manteve-a em vigor. Foi descontinuado no final de 2018 por se achar que não seria mais necessária, mas regressou em novembro de 2019 face aos riscos na economia e inflação.

Chama-se quantitative easing (QE) e foi anunciado há cinco anos por Mario Draghi, então presidente do BCE, tendo engordado o balanço do banco central para mais de 40% do PIB da Zona Euro. Atualmente, o programa tem a dimensão acumulada de 2,6 biliões de euros. 

Apesar dos anticorpos na Alemanha, o BCE venceu a batalha judicial, a medida foi dada como decisiva para evitar a deflação na Zona Euro e colocou Draghi - a par da famosa expressão "whatever it takes" [o que for preciso para preservar o euro] - no patamar de "salvador do euro" para muitos. Sinal disso é que, até no país onde é mais criticado, terá direito à medalha de mérito, que será entregue a 31 de janeiro, segundo anunciou o gabinete do Presidente da Alemanha na terça-feira.

O anúncio a 22 de janeiro de 2015 concretizou-se no arranque das compras, em março desse ano, que se prolongaram até dezembro de 2018 com diferentes intensidades, entre os 80 mil milhões e os 15 mil milhões de euros por mês. 

Mas, afinal, como funciona o QE? Em termos simples, o ciclo começa com o BCE a comprar dívida soberana dos países da Zona Euro à banca comercial. O preço dessas obrigações sobe, diminuindo as taxas de juro (que servem de referência para o resto da economia), e os bancos ficam com maior liquidez, o que promove a concessão de crédito.

Os consumidores e as empresas podem assim ter acesso a financiamento mais barato, além de pagarem menos juros pelas dívidas existentes (aumentando o rendimento disponível). O objetivo é que o consumo e o investimento subam de forma a dar um impulso à criação de emprego e ao PIB, o que tende a criar pressões inflacionistas.

Compras têm de acelerar em janeiro. Procura por crédito baixa pela primeira vez desde 2013
Não são animadores os dados divulgados antes da primeira reunião de política monetária de 2020. O BCE tem como meta comprar 20 mil milhões de euros mensais e reinvestir os montantes amortizados que cheguem à maturidade. Mas, de acordo com uma análise do Danske Bank, citada pela Bloomberg, aos dados semanais divulgados na terça-feira, o banco central terá de comprar mais 22 mil milhões de euros até ao final do mês para atingir o seu objetivo.

A necessidade de acelerar as compras está relacionada com o elevado nível (31,6 mil milhões de euros) de obrigações que atingem a maturidade em janeiro, sendo que esse montante tem de ser reinvestido. Em termos líquidos (descontando as amortizações), as compras estão apenas nos 2,3 mil milhões de euros, de acordo com o banco dinamarquês. Quando o QE foi retomado em novembro, os analistas alertaram para a dificuldade do BCE de cumprir o objetivo dado que já estava perto dos limites autoimpostos da detenção de dívida pública dos Estados-membros.

No mesmo dia foram divulgados os dados sobre a concessão de crédito na Zona Euro e os números também desiludiram. De acordo com o inquérito do BCE, a procura das empresas por empréstimos diminuiu 8% no quarto trimestre de 2019, o que corresponde à primeira queda neste indicador desde o quarto trimestre de 2013.

A relutância das empresas em endividarem-se "refletiu a desaceleração da atividade económica que se tem observado desde 2018", justificou o BCE. O inquérito aponta para que a redução da concessão de crédito às empresas continue no primeiro trimestre de 2020. Já a procura por crédito à habitação e ao consumo continuou a aumentar.

Por outro lado, as atas da última reunião do BCE relatavam que, na opinião do banco central, os dados apontavam para a estabilização da economia e a recuperação da inflação. É este caldo de números que serve de base à discussão no Conselho do BCE, sendo que a expectativa do mercado para a reunião desta quinta-feira, 23 de janeiro, é que não haja mudanças e que seja apenas anunciada oficialmente a revisão da estratégia.

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