Notícia
Lagarde deixou a sua marca na 1.ª reunião no BCE. Economia estabiliza e inflação recupera
As atas da primeira reunião da nova presidente do BCE já mostram o "cunho" de Lagarde. A mensagem geral é que a economia está a estabilizar e a inflação subjacente a recuperar. Mas há pormenores nas entrelinhas.
Após entrar no Banco Central Europeu (BCE) no início de novembro, Christine Lagarde realizou a sua primeira reunião de política monetária a 12 de dezembro. Esta quinta-feira, 16 de janeiro, foram divulgadas as atas desse reunião: mostram a impressão digital da nova presidente e assumem que a economia está a estabilizar e a inflação subjacente a recuperar.
É com otimismo moderado que as atas descrevem o estado da economia europeia e da inflação. Após um período de travagem, o crescimento económico deverá "continuar fraco mas estável". "Os membros [do Conselho do BCE] concordaram em geral que os dados económicos recentes, ainda que se mantenham fracos, contêm alguns sinais positivos, apontando para uma estabilização do crescimento da Zona Euro", sintetizam as atas.
O mesmo tom é utilizado para descrever a evolução da inflação, o indicador a que o BCE dá mais valor e que define o seu mandato de uma inflação próxima mas abaixo de 2%. "Foi notado que, excluindo os preços voláteis dos pacotes de férias da maior economia da Zona Euro [Alemanha], tem existido um movimento ascendente sólido na inflação subjacente, suportado pelos níveis elevados da utilização da capacidade [de produção], o aumento dos preços dos bens energéticos e o aperto do mercado de trabalho", explica o banco central.
Apesar destes sinais serem positivos, as atas avisam que é preciso "dar tempo ao tempo": "Foi destacado que deve ser dado tempo às medidas [pacote de estímulos de setembro de 2019] para estas exercerem o seu impacto total na economia da Zona Euro". Ainda assim, os membros pediram "vigilância" sobre a eficácia dessas medidas e a adequação da atual posição da política monetária expansionista.
É nesta área que já se vê a "mão" de Christine Lagarde. Ao contrário das atas anteriores - apesar de este tema já ter sido discutido no passado -, este texto admite que alguns membros destacaram a necessidade de o BCE estar atento aos "principais efeitos secundários" das medidas aprovadas. "Algumas preocupações foram levantadas em relação ao potencial impacto das taxas de juro negativas nas famílias da Zona Euro, requerendo a monitorização apertadas das poupanças e das dinâmicas de consumo", lê-se nas atas, que abrem a porta ao "ajuste" da política monetária para reduzir "efeitos secundários indesejados".
Esta tem sido uma das maiores polémicas do banco central nos últimos anos por este ser acusado, principalmente em países como a Alemanha e a Holanda, de estar a "apropriar-se" das poupanças dos aforradores dado que as taxas de juro estão em níveis historicamente baixos, o que reduz o rendimento de instrumentos financeiros como os depósitos a prazo ou as obrigações soberanas.
Apesar das críticas, o BCE reitera novamente que as taxas ainda não alcançaram a chamada "reversal rate" [taxa de inversão, numa tradução livre] em que as taxas baixas provocam uma redução do consumo, em vez do seu aumento (o objetivo inicial), por deteriorarem o rendimento disponível.
Clima entra oficialmente na discussão do BCE
O tema chegou a ser referido pontualmente por Mario Draghi, ex-presidente do BCE, mas foi Lagarde quem o trouxe para o topo da agenda. Ao contrário das atas anteriores, esta contém um parágrafo inteiro dedicado às discussões entre os governadores e os membros do BCE sobre as alterações climáticas, nomeadamente o Pacto Verde Europeu apresentado recentemente pela Comissão Europeia.
As atas relatam que o Conselho do BCE discutiu sobre como é que as políticas relacionadas com o clima devem ser tidas em conta nas projeções que se fazem periodicamente, referindo que é preciso entender melhor as consequências económicas das alterações climáticas. Os membros admitiram que estas políticas podem ter um efeito negativo na oferta, mas que também podem ter um efeito positivo no investimento. Não houve referências à forma como o BCE poderá, no futuro, ajudar na tarefa de combate ao aquecimento global através da finança verde.
Isso deverá ser discutido na revisão da estratégia que o banco central irá iniciar e concluir durante este ano. Na próxima reunião do BCE, a 23 de janeiro, Lagarde deverá abrir as hostes oficialmente.
Até lá, a mensagem é de discrição, tal como referem as atas que relatam a mensagem transmitida aos presentes na última reunião: "Foi visto na generalidade como aconselhável evitar-se discussões públicas sobre a estratégia antes do lançamento previsto da revisão pelo Conselho do BCE no início de 2020", lê-se nas atas, o que confirma uma notícia que tinha sido avançada pela Bloomberg no início deste ano.
É com otimismo moderado que as atas descrevem o estado da economia europeia e da inflação. Após um período de travagem, o crescimento económico deverá "continuar fraco mas estável". "Os membros [do Conselho do BCE] concordaram em geral que os dados económicos recentes, ainda que se mantenham fracos, contêm alguns sinais positivos, apontando para uma estabilização do crescimento da Zona Euro", sintetizam as atas.
Apesar destes sinais serem positivos, as atas avisam que é preciso "dar tempo ao tempo": "Foi destacado que deve ser dado tempo às medidas [pacote de estímulos de setembro de 2019] para estas exercerem o seu impacto total na economia da Zona Euro". Ainda assim, os membros pediram "vigilância" sobre a eficácia dessas medidas e a adequação da atual posição da política monetária expansionista.
É nesta área que já se vê a "mão" de Christine Lagarde. Ao contrário das atas anteriores - apesar de este tema já ter sido discutido no passado -, este texto admite que alguns membros destacaram a necessidade de o BCE estar atento aos "principais efeitos secundários" das medidas aprovadas. "Algumas preocupações foram levantadas em relação ao potencial impacto das taxas de juro negativas nas famílias da Zona Euro, requerendo a monitorização apertadas das poupanças e das dinâmicas de consumo", lê-se nas atas, que abrem a porta ao "ajuste" da política monetária para reduzir "efeitos secundários indesejados".
Esta tem sido uma das maiores polémicas do banco central nos últimos anos por este ser acusado, principalmente em países como a Alemanha e a Holanda, de estar a "apropriar-se" das poupanças dos aforradores dado que as taxas de juro estão em níveis historicamente baixos, o que reduz o rendimento de instrumentos financeiros como os depósitos a prazo ou as obrigações soberanas.
Apesar das críticas, o BCE reitera novamente que as taxas ainda não alcançaram a chamada "reversal rate" [taxa de inversão, numa tradução livre] em que as taxas baixas provocam uma redução do consumo, em vez do seu aumento (o objetivo inicial), por deteriorarem o rendimento disponível.
Clima entra oficialmente na discussão do BCE
O tema chegou a ser referido pontualmente por Mario Draghi, ex-presidente do BCE, mas foi Lagarde quem o trouxe para o topo da agenda. Ao contrário das atas anteriores, esta contém um parágrafo inteiro dedicado às discussões entre os governadores e os membros do BCE sobre as alterações climáticas, nomeadamente o Pacto Verde Europeu apresentado recentemente pela Comissão Europeia.
As atas relatam que o Conselho do BCE discutiu sobre como é que as políticas relacionadas com o clima devem ser tidas em conta nas projeções que se fazem periodicamente, referindo que é preciso entender melhor as consequências económicas das alterações climáticas. Os membros admitiram que estas políticas podem ter um efeito negativo na oferta, mas que também podem ter um efeito positivo no investimento. Não houve referências à forma como o BCE poderá, no futuro, ajudar na tarefa de combate ao aquecimento global através da finança verde.
Isso deverá ser discutido na revisão da estratégia que o banco central irá iniciar e concluir durante este ano. Na próxima reunião do BCE, a 23 de janeiro, Lagarde deverá abrir as hostes oficialmente.
Até lá, a mensagem é de discrição, tal como referem as atas que relatam a mensagem transmitida aos presentes na última reunião: "Foi visto na generalidade como aconselhável evitar-se discussões públicas sobre a estratégia antes do lançamento previsto da revisão pelo Conselho do BCE no início de 2020", lê-se nas atas, o que confirma uma notícia que tinha sido avançada pela Bloomberg no início deste ano.