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Margem de manobra do BCE para combater crises reduziu-se "significativamente", avisa Lagarde

A presidente do BCE alertou os eurodeputados para a pouca margem de manobra que o BCE tem atualmente para combater crises, repetindo os apelos aos Governos para entrarem em jogo com a política orçamental e as reformas estruturais.

Reuters
06 de Fevereiro de 2020 às 11:21
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A presidente do Banco Central Europeu (BCE) alertou esta quinta-feira, 6 de fevereiro, para a redução "significativa" da margem de manobra do BCE e dos bancos centrais a nível mundial para combater crises no futuro. 

Na audição trimestral no Parlamento Europeu, Christine Lagarde explicou que a redução do crescimento da produtividade e do PIB, o envelhecimento da população e o legado da crise financeira levou as taxas de juro diretoras, que são definidas pelos bancos centrais, para níveis historicamente baixos. E assim se irão manter dado que "a economia da Zona Euro continua a precisar do suporte da nossa política monetária, a qual serve de escudo aos ventos adversos mundiais", notou.

Mas esse escudo poderá não ser suficiente no futuro. "Este ambiente de juros baixos e inflação baixa reduziu significativamente a margem para o BCE e outros bancos centrais a nível mundial flexibilizarem a política monetária face a uma recessão económica", disse Lagarde aos eurodeputados para justificar o porquê do banco central da Zona Euro ter entrado numa fase de introspeção que vai durar até ao final do ano e deverá trazer mudanças ao seu "modus operandi". 

Além da dificuldade em combater crises, há também outras mudanças estruturais que têm de ser tidas em conta: é o caso da sustentabilidade ambiental, a rápida digitalização, a globalização ou as alterações nas estruturas financeiras. "À luz destas mudanças, agora é a altura apropriada para fazer uma revisão da estratégia com um âmbito alargado para assegurar que vamos continuar a cumprir o nosso mandato no melhor interesse dos europeus", afirmou Lagarde. 

A presidente do BCE garantiu que durante a fase das discussões irá ouvir opiniões diversas em todos os Estados-membros da Zona Euro, incluindo a dos eurodeputados com os quais já tem reuniões marcadas. A primeira sessão pública do BCE - um evento semelhante ao "Fed Listens" que a Reserva Federal realizou durante a sua revisão da estratégia - será em Bruxelas no final de março. Tal como o Negócios noticiou, esta iniciativa passará também por Portugal.

Lagarde atenta aos efeitos secundários
O argumento de que as taxas de juro negativas trouxeram "muitos benefícios" à economia da Zona Euro continua sólido na opinião do BCE, mas também é preciso "monitorizar de perto os potenciais efeitos secundários" das medidas tomadas. 

"Os baixos custos de financiamento encorajaram mais endividamento por empresas já altamente alavancadas e maior tomada de risco por parte do [sistema financeiro] não bancário, como os fundos de investimento, seguradoras e fundos de pensões", explicou a presidente do BCE, referindo também que o mercado imobiliário em vários países da Zona Euro "têm visto aumentos persistentes dos preços". 

Para Lagarde, perante este ambiente, os bancos centrais nacionais têm de continuar a usar "medidas macroprudenciais direcionadas" para lidar com os riscos relativos à estabilidade financeira.

E, mais uma vez, o BCE chama à atenção dos Governos para a importância da política orçamental e das reformas estruturais, as quais ajudariam a aumentar a eficácia da política monetária e "a subir as taxas de juro novamente oportunamente". Ontem, a Comissão Europeia deu o primeiro passo para mudar as regras orçamentais da Zona Euro, sendo uma das preocupações a necessidade dos orçamentos nacionais coordenarem-se para entrarem em jogo e darem folga ao BCE.
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