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Draghi está "confiante" nas negociações, mas estuda "Grexit"

"Com boa vontade" de todas as partes será possível encontrar uma forma de concluir o actual programa com sucesso, e essa deve ser a prioridade neste momento. Ainda assim Mario Draghi admite que dentro do BCE se estuda um cenário de saída da Grécia da Zona Euro.

Reuters
23 de Março de 2015 às 16:54
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A Grécia precisa de garantir que honrará as suas dívidas, e os parceiros europeus e o novo governo grego devem, de boa fé, empenhar-se em recuperar um mecanismo de diálogo que defina como as reformas vão avançar no país e como podem ser avaliadas. Estas são as condições necessárias para o BCE voltar a ter uma "perspectiva credível de conclusão com sucesso do actual programa" de ajustamento grego. E disso depende a libertação de dinheiro da troika mas também, e talvez mais importante, o regresso a dívida grega ao conjunto de activos aceites pelo BCE nas suas operações de política monetária, incluindo a compra de dívida pública.

 

A posição de Mario Draghi, que falou perante os deputados do Parlamento Europeu esta segunda-feira, dia 23 de Março, foi partilhada na mesma tarde em que Alexis Tsipras e Angela Merkel se reúnem em Berlim para debater as relações entre os dois países; e em que as autoridades gregas e as instituições da troika continuam em conversações sobre como implementar o acordo político de 20 Fevereiro, que determina a necessidade da Grécia de avançar com um conjunto de reformas, como condição para receber o dinheiro da última tranche da troika e ver a sua dívida ser novamente aceite pelo BCE.

 

Desde então, e já lá vai um mês, enquanto os gregos garantem que estão empenhados em cumprir o acordo, os parceiros europeus manifestam desconforto por falta de sinais de que tal esteja, de facto, a acontecer. Draghi, por seu lado, coloca a tónica na necessidade de garantir o funcionamento de um mecanismo de avaliação credível do acordo, sem o qual não será possível desbloquear o impasse.

 

"O que é preciso é colocar no terreno um processo que restaure o diálogo de políticas entre o governo grego e as três instituições, de forma a que consigamos obter uma perspectiva credível de uma conclusão com sucesso da avaliação", afirmou o presidente do BCE, que foi ainda mais claro sobre o que espera: clareza e compromisso sobre que medidas incluídas no actual programa de ajustamento avançarão, e quais as medidas que serão substituídas. "Isto tem de ser especificado e acordado" de tal forma que possam ser verificadas pelas três instituições (Comissão Europeia, FMI e BCE), explicou. Só assim o BCE poderá identificar o regresso das "condições necessárias para uma conclusão com sucesso do actual programa".

 

Perante os eurodeputados, que compõem a Comissão de Assuntos Económicos e Monetários, Draghi revelou que os "trabalhos nesse sentido estão a decorrer" e mostrou-se "confiante que, com boa vontade de todas as partes, seremos capazes de produzir o necessário para obter uma perspectiva credível". Se tal acordo for possível, então o BCE "está preparado" para voltar a considerar a dívida grega nas suas operações de política monetária – isto é, a aceitar as obrigações gregas como colateral dos empréstimos à banca e a comprar títulos no mercado secundário, ao abrigo do programa de "Quantitative Easing" (expansão monetária), como está já a fazer com os restantes estados-membros.

 

BCE estuda "Grexit"

A confiança do presidente do BCE não significa que as suas equipas de risco não estejam preparadas para o pior e estejam até já a estudar um cenário de saída da Grécia da Zona Euro (o que é conhecido pelo termo "Grexit"). Confrontado com um eurodeputado sobre o facto de o responsável máximo da gestão de risco do BCE ter dito que está a trabalhar com três cenários, os quais admitem a saída da Grécia da união monetária, Draghi admitiu que assim é, mas desvalorizou, garantindo que não podia ser de outra forma.

 

"O BCE emprega gestores de risco para gerir risco", respondeu, considerando que "essa é a prática normal no BCE", recusando entrar em detalhes sobre notícias de jornais ou valores que surgiram nesse sentido, e garantindo mais tarde que "esse não é um cenário em que estejamos a conversar".

 

Draghi reforçou que o essencial, nesta fase, é que "a Grécia e os seus parceiros internacionais se foquem na conclusão com sucesso da avaliação" e que "a Grécia se comprometa a honrar por completo todas as suas obrigações".

 

A garantia grega de que planeia o pagamento total da sua dívida é essencial para o BCE, pois dela depende a saúde dos bancos helénicos que detêm muita dívida grega nos seus balanços. Uma reestruturação poderia pôr em causa a solvabilidade das instituições e limitar o financiamento que o BCE lhes poderá prestar, explicou ainda o responsável máximo pelo banco central.

 

Desde 4 de Fevereiro, a data em que o BCE deixou de aceitar dívida pública grega como garantia nas suas operações regulares de política monetária, que os bancos gregos se viram obrigados a obter o seu financiamento através de um mecanismo de emergência a funcionar no banco central do país (conhecido por ELA), mas que carece de aprovação pelo BCE, e está condicionado a uma avaliação positiva sobre a solvabilidade dos bancos gregos. O limite da ELA está agora definido em 69,8 mil milhões de euros.

 

 

 

 

 

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