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Draghi: Alemães têm de ter "paciência", estímulos estão para ficar

O recente aumento da inflação na Zona Euro não reflecte uma recuperação sustentada dos preços, falhando um dos quatro critérios centrais para o BCE mudar de política. Os riscos sobre a recuperação também parecem pelo lado negativo, diz Draghi.

8º Mario Draghi, 602 notícias - O BCE continuou este ano a ter um papel determinante no rumo dos mercados, com várias decisões relevantes a mexerem nos mercados. O presidente da autoridade monetária foi citado em mais de 600 notícias do Negócios este ano.
Reuters
19 de Janeiro de 2017 às 15:23
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O Banco Central Europeu (BCE) vai manter o programa de compra de activos pelo menos até ao final do ano, as taxas de juro ficarão no actual nível ou mais baixas bem para lá dessa data, e se os sinais da economia piorarem o banco central está pronto para reforçar os estímulos que tem no terreno. Esta foi a mensagem de Mario Draghi na primeira conferência de imprensa do ano em Frankfurt, na qual desvalorizou o recente aumento da inflação da Zona Euro como não sendo sustentável, e pediu paciência à opinião pública alemã. Com tempo, os juros subirão, mas esse tempo ainda não chegou, defendeu.
     

O presidente do BCE desvalorizou o recente aumento da inflação na Zona Euro, que diz reflectir "principalmente o forte aumento na inflação da energia, enquanto não há sinais de uma tendência crescente convincente na inflação subjacente". Draghi acrescentou que espera que a inflação global continue a subir nos próximos meses, avisando ao mesmo tempo que esse movimento também não chegará para levar a uma mudança de políticas em Frankfurt. "As medidas de inflação subjacente [que excluem energia e bens alimentares] devem crescer mais gradualmente no médio prazo", avisou.

Em reação à conferência de imprensa, o euro caiu, as principais bolsas europeias subiram, e as taxas de juro quase não reagiram.
 
Várias vezes confrontado com sugestões das últimas semanas no sentido do BCE iniciar o planeamento de uma redução de estímulos dada a recuperação da inflação – que em Dezembro subiu para 1,1% na média da Zona Euro, e para 1,7% na Alemanha – Draghi respondeu em dois planos, um de leitura mais política; o outro com implicações mais técnicas.

Por um lado, dirigiu-se à opinião pública alemã, explicando que têm de ter paciência e esperar por uma recuperação mais forte da Zona Euro: "As taxas de juro baixas agora são necessárias para garantir taxas de juro mais elevadas no futuro. A recuperação da Europa é positiva para todos, também para a Alemanha", afirmou, acrescentando: "É preciso ter paciência. À medida que a recuperação se afirmar, as taxas de juro também subirão. Isto acontecerá para a Alemanha e para todos os outros países".

Por outro lado, o presidente do BCE explicitou as quatro características que têm de estar reunidas para o BCE identificar uma recuperação sustentada da inflação que motive uma alteração da política monetária: em primeiro lugar, o que importa para o banco central é a perspectiva da inflação no médio prazo; em segundo lugar, a trajectória tem traduzir uma convergência duradoura e não transitória para a meta de 2%; em terceiro lugar, a recuperação tem de ser auto-sustentável – "ou seja, tem de se manter mesmo quando o nosso apoio monetário extraordinário já não estiver no terreno"– ; e, finalmente, a inflação tem de ser definida para a Zona Euro como um todo. 

Com a resposta Draghi procurou aliviar a pressão das últimas semanas, chegada por exemplo de economistas e políticos alemães, incluindo o ministro das Finanças Wolfgang Schäuble, que têm defendido que o banco central deve começar a planear uma retirada de estímulos, idealmente já este ano, visto que para os aforradores o pior contexto económico possível é uma economia com alta inflação e baixas taxas de juro.

Em sentido contrário, vários especialistas têm vindo a sublinhar que o ritmo de subida da inflação na Zona Euro se deve essencialmente aos efeitos dos preços dos combustíveis e bens alimentares (a inflação subjacente subiu de 0,8% para 0,9%), e que todas as medidas estão distantes da meta de 2% do BCE. Aos argumentos para uma política monetária expansionista junta-se a incerteza quanto os impactos na Europa do "Brexit" e das políticas da nova administração Trump.

O presidente do BCE foi aliás várias vezes questionado sobre que impactos espera quer do processo de saída do Reino Unido da UE, quer das novas políticas nos EUA, mas a ambas respondeu sempre que "é demasiado cedo" para comentar. 

O BCE garante assim que "a taxa de juro das operações principais de refinanciamento e as taxas de juro da facilidade permanente de cedência de liquidez e da facilidade permanente de depósitos permanecerão em 0%, 0,25% e -0,4% respectivamente", lê-se na nota enviada à imprensa onde se reafirma que por aí ficarão (ou até em níveis mais baixos) "por um longo período de tempo, e bem para lá do horizonte de compras" que em Dezembro foi estendido até ao final deste ano.


Sobre as medidas não convencionais, ou seja, o programa de compra de activos ao ritmo de 80 mil milhões de euros mensais até Abril, e 60 mil milhões de euros mensais daí até ao final do ano, o Conselho do BCE garante que é para cumprir até ao fim, reafirmando novamente que poderá até ser prolongado até que o Conselho "veja uma recuperação sustentada da inflação consistente com o seu objectivo de inflação".

O Negócios esteve em directo no Facebook a analisar a reuinão do BCE. Veja o vídeo:


Negócios analisa reunião do BCE
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Rui Peres Jorge, jornalista do Negócios, esteve em directo no Facebook a analisa a reunião do BCE. Veja o vídeo.
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