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Executiva alemã no BCE quer debate "em breve" sobre retirada de estímulos
Sabine Lautenschlaeger, o elemento alemão nos seis que compõem o Conselho Executivo do BCE, não parece convencida com as recentes explicações de Mario Draghi para manter estímulos, e diz que estão garantidas as "precondições" para uma subida de inflação.
É pouco conhecida em Portugal mas é uma das pessoas influentes na condução das políticas em Frankfurt e não parece alinhada com a recente avaliação de Mario Draghi, presidente do Conselho Executivo de seis membros, do qual Sabine Lautenschlaeger faz parte. Numa intervenção terça-feira em Hamburgo, citada pela principais agências internacionais, e já disponível no site do BCE, afirmou que "existem todas as precondições para um aumento estável da inflação", pelo que "está optimista que em breve possam virar-se para a questão da retirada de estímulos".
Lautenschlaeger, que sempre criticou a compra de dívida pública pelo BCE, diz que as medidas de estímulo, em particular as taxas de juro zero e até negativas nos depósitos foram necessárias, mas tal como acontece com a dosagem de medicamentos é importante saber quando parar face à recuperação do paciente. Na sua opinião esse momento está a chegar, afirmou num conhecido clube de reflexão em Hamburgo, reconhecendo que – e continuando com a sua metáfora – ela "é um médica optimista que acredita nos poderes de auto-recuperação e que alegremente pára com a prescrição de medicamentos mais cedo do que tarde".
A inflação na Zona Euro subiu para 1,1% em Dezembro, e atingiu os 1,7% na Alemanha, o que está a provocar um aumento da impaciência entre políticos e economistas alemães que argumentam que inflação alta e juros baixos é o pior cenário possível para os aforradores.
Draghi por seu lado defende que o aumento da inflação se deve essencialmente aos preços da energia, e mesmo assim o BCE está longe da meta de inflação de 2% para a média da Zona Euro. Na conferência de imprensa de quinta-feira, que se seguiu à decisão de reafirmar que os estímulos do BCE se manterão até para lá do final de 2017, Draghi elencou até as quatro condições que considera necessárias para que a política monetária reaja. São elas, em primeiro lugar, garantir que a inflação se aproxima dos 2% no médio prazo e não no momento actual; em segundo lugar, ter a certeza que trajectória traduz uma convergência duradoura e não transitória para a meta de 2%; em terceiro lugar, assegurar que a recuperação tem de ser auto-sustentável – "ou seja, tem de se manter mesmo quando o nosso apoio monetário extraordinário já não estiver no terreno"– ; e, finalmente, a ter presente que a inflação relevante para o BCE é definida para a Zona Euro como um todo.
Para o presidente do BCE estas condições estão longe de estar garantidas. Já Sabine Lautenschlaeger parece discordar, e defende que a cautela necessária em Frankfurt "não significa esperar até que a última dúvida sobre o regresso da inflação tenha sido dissipada".