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Covid-19 ameaça calendário de Lagarde. Primeiro evento da revisão da estratégia do BCE adiado

Numa altura em que se especula sobre o que fará à política monetária por causa do Covid-19, o BCE já está a tomar precauções mas para proteger os seus funcionários. O adiamento de eventos pode colocar em causa o calendário traçado para a revisão da estratégia.

A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, apontou para dezembro deste ano como a primeira data para tirar algumas conclusões (e decisões) da revisão da estratégia. Reuters
Tiago Varzim tiagovarzim@negocios.pt 04 de Março de 2020 às 11:54
A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, cargo que assumiu em novembro, enfrenta o seu primeiro desafio com o Covid-19 a assombrar a economia europeia. Para já, não há mudanças surpresa na política monetária como fez a Fed, mas vão ser implementadas medidas para proteger os funcionários do vírus, o que poderá colocar em causa o calendário traçado por Lagarde para a revisão da estratégia.

O BCE anunciou esta quarta-feira, 4 de março, que todas as viagens que não sejam essenciais serão restringidas até (pelo menos) 20 de abril de 2020, que as conferências do banco central serão adiadas - com a exceção das conferência de imprensa após as reuniões de política monetária, como a do próximo dia 12 de março - e que todas as visitas às suas instalações que não sejam essenciais serão suspensas. A 20 de abril será feita uma avaliação da situação.

O objetivo das precauções é proteger o staff dos riscos da propagação do coronavírus, sendo que, até ao momento, não foi identificado nenhum funcionário do BCE com Covid-19. "Com as medidas de hoje, estamos a dar passos para assegurar a segurança e o bem-estar do nosso staff enquanto mantemos a operação total do banco central e a supervisão bancária a funcionar", diz Lagarde, no comunicado, referindo que a instituição pede a quem esteve nas áreas infetadas para trabalhar a partir de casa durante duas semanas. 

Estas restrições às viagens e os adiamentos das conferências podem colocar em causa o calendário que a presidente do BCE tinha traçado para a revisão da estratégia, a qual deveria estar completa (pelo menos em parte) em dezembro deste ano. Uma das iniciativas afetadas é o evento inaugural do "ECB Listens" que ia acontecer em Bruxelas a 26 de março, mas será adiado para uma nova data a ser anunciada.

Com o arranque da audição da sociedade civil atrasado, fica mais difícil cumprir o calendário dado que os eventos terão de percorrer os 19 países da Zona Euro em cerca de sete meses, além de todo o trabalho do staff do BCE e a discussão paralela que terá de ocorrer no Conselho do BCE. Essa série de eventos também incluirá Portugal, como o Negócios escreveu, mas ainda não se conhece o calendário.

Enquanto pensa no que vai mudar na forma como faz política monetária, o Conselho do BCE - órgão que junta a comissão executiva e os governadores dos bancos centrais da Zona Euro - terá de lidar com o potencial impacto económico do coronavírus, nomeadamente na pressão deflacionista que poderá exercer dado que uma taxa de inflação próxima mas abaixo de 2% continua a ser o objetivo central do mandato do banco central.

Com a descida surpresa dos juros em 50 pontos base por parte da Fed, os bancos centrais em todo o mundo ficaram mais pressionados para agir. No caso do BCE, tal como a própria presidente já admitiu, a margem de manobra para lidar com travagens ou recessões económicas reduziu-se significativamente. A expectativa dos analistas é que venha aí um aumento das compras mensais de ativos (dívida públicas e das empresas) e um reforço do financiamento barato para os bancos (TLTRO). O mercado especula sobre uma potencial descida dos juros diretores, que estão atualmente nos -0,5%, mas a acontecer o impacto pode ser limitado.
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