Notícia
BCE reavalia política de estímulos no início de 2015 (act.)
Mario Draghi garante que o BCE "não tolerará desvios significativos" face à meta de inflação, mas diz que guarda decisões para início de 2015. Bloomberg diz que plano estará pronto para ser aprovado na reunião de 22 de Janeiro.
Mario Draghi atirou para o "início 2015" uma decisão sobre medidas adicionais de estímulo monetário na Zona Euro. O presidente do BCE diz que precisa de mais tempo para avaliar os impactos da recente descida do preço do petróleo nas expectativas de inflação na Zona Euro, assim como o impacto das novas medidas de estímulo que já aplicou este ano (compras de dívida privada e empréstimos de longo prazo). No entanto, ao mesmo tempo, endureceu o discurso sobre a intolerância do banco central à inflação baixa na região, num sinal de que poderá mesmo vir a comprar dívida pública, mesmo sem unanimidade entre os Governadores da autoridade monetária.
As significativas revisões em baixa do crescimento (de 1,6% para 1% em 2015) e da inflação (de 1,1% para 0,7% em 2015) apresentadas na conferência de imprensa de 4 de Dezembro, aliada à falta de compromisso do BCE em avançar com mais estímulos monetários (ou pelo menos com um calendário) foram mal recebidos nos mercados, com uma valorização do euro, quedas nas bolsas e um aumento de juros. No entanto, o discurso deixou o BCE à beira de uma intervenção mais musculada em Janeiro ou Março.
"O BCE parece no caminho para anunciar mais estímulos a 22 de Janeiro ou a 5 de Março", avaliou por exemplo Christian Schulz, economista do Berenberg Bank em Londres, numa nota enviada a clientes, onde explica que as "fortes revisões em baixa da inflação e das previsões de crescimento traçam uma perspectiva para inflação muito mais fraca" para a Zona Euro, o que "deverá conduzir a mais estímulos monetários do que os anunciados até agora".
Vários outros elementos da conferência de imprensa de quinta-feira, dia 4 de Dezembro , suportam a análise de uma provável intervenção do banco central na linha do que já fizeram Banco de Inglaterra e Reserva Federal norte-americana.
Por um lado, Mario Draghi reforçou que o banco central não admitirá desvios significativos na inflação face à meta do BCE – o que para muitos analistas já está a acontecer: "Não toleraremos desvios prolongados face à estabilidade de preços", afirmou, explicando que tal não é admissível uma vez que "poderia alimentar expectativas de inflação mais baixas" a médio prazo. Ora, isso não só contrariaria o mandado do BCE – de garantir uma inflação abaixo, mas próxima de 2% – como seria equivalente, na prática, a um aperto monetário, defendeu (uma taxa de juro nominal de 0%, com inflação a 2%, corresponde a uma taxa real negativa de -2%; mas se expectativa nos mercados for que uma taxa de inflação de 1%, então a taxa nominal corresponde a uma taxa real de -1% – e, logo, menos expansionista).
Por outro lado, o Presidente do BCE deixou claro que o banco central poderá avançar com novos programas de compras de activos mesmo sem unanimidade entre os governadores. Uma primeira prova disso é que o objectivo de aumentar o balanço do BCE para 3 biliões de euros (dois actuais dois biliões), que até agora tinha sido apresentado apenas como uma "expectativa", passou a descrito pelo presidente do BCE como uma "intenção". A mudança para uma palavra mais forte não foi unânime, mesmo entre os seis elementos do Conselho Executivo, reconheceu Draghi. E questionado sobre poderia avançar com um programa de compra de dívida sem unanimidade, respondeu que sim: "não precisamos de unanimidade", disse, acrescentando que "o programa pode ser desenhado para termos um consenso e ainda penso que é possível". Mas, se não for possível, e for necessário, acontecerá na mesma: "temos de nos lembrar: temos um mandato". O recado está dado aos críticos da compra de dívida, liderados pelo cepticismo alemão.
Quando e como?
Apesar do agravamento das perspectivas de crescimento e inflação e do endurecimento retórico, Mario Draghi não conseguiu responder às duas perguntas mais importantes: se avançar, será quando e como?
Sobre datas, limitou-se a apontar para uma reavaliação da situação no "início de 2015", recusando ir mais longe. O responsável pela política monetária diz precisar de avaliar a procura de empréstimos de longo prazo pelos bancos da zona euro – cuja segunda volta acontece na próxima semana – e também perceber melhor quais os impactos da recente descida dos preços do petróleo nas expectativas de inflação, e na actividade económica da zona euro.
Duas membros do Conselho do BCE não identificadas garantiram à Bloomberg que na reunião de 22 de Janeiro o BCE espera ter preparada, para decisão, uma proposta de compra de activos, incluindo dívida pública e outros títulos, mas excluindo acções.
Relativamente ao reforço dos actuais programas de estímulo (compra de obrigações titularizadas sobre hipotecas, dívida do sector publico e de empresas), Draghi afirmou claramente que um programa de alívio quantitativo admite a compra de dívida pública, mas não exclui a aquisição de outros activos, como obrigações de empresas, por exemplo. "Discutimos várias versões de alívio quantitativo no Conselho, mas é preciso mais trabalho", afirmou, acrescentando que "discutimos todos os activos, com a excepção do ouro" e deixando claro que "um programa de alívio quantitativo que inclua obrigações do Tesouro, está dentro do nosso mandato".
(Notícia actualizada às 16h20, com reformulação do segundo parágrafo, e novos parágrafos e às 19:58 com informação da Bloomberg)