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Turquia critica ONU e garante que as suas tropas “estão preparadas”

Oficial do Ministério da defesa turco admite que apesar de “improvável, é possível”, referindo-se a um eventual ataque sírio contra o território turco.

26 de Agosto de 2013 às 18:21
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A revista “Der Spiegel” noticia, esta segunda-feira, aquilo que para além de uma pressão aos seus pares internacionais é, também, uma tentativa de ameaça ao regime sírio e a assunção de uma posição de força na região. Segundo a revista alemã, confrontado com uma eventual retaliação, do regime de Assad contra a zona sul da Turquia, que faz fronteira com a Síria, a uma possível intervenção internacional, este oficial do Ministério de Ancara, considera-a como “possível” mas garante que “as nossas forças armadas estão preparadas”. Este artigo revela, também, que os meios de comunicação social turcos têm vindo a noticiar que o exército local tem executado manobras de treino militar como preparação para o pior.

 

Ancara tem criticado as Nações Unidas e a comunidade internacional. O primeiro-ministro turco, Recep Erdogan, acusou, recentemente, as Nações Unidas de inacção. Erdogan tem-se assumido como um dos principais críticos do regime de Assad. Por exemplo, em Junho de 2012, anunciou que iria apoiar o povo sírio a libertar-se do “ditador Assad”.

 

Seguindo esta tendência, o ministro dos Negócios Estrangeiros turco, Ahmet Davutoglu, em entrevista a um jornal turco, recordava que “desde o início a Turquia tem argumentado que a comunidade internacional não pode ficar, simplesmente, sem fazer nada perante os massacres do regime de Assad”. Davutoglu defende que quem comete crimes contra a humanidade “deve ser punido”, em referência ao executivo sírio. E avisa que "se for formada uma coligação contra a Síria, a Turquia participará”.

 

Erdogan aumentou a parada, alargando o leque de críticas a vários “players” da região. Por exemplo, em relação ao Egipto, acusou aqueles que nada disseram sobre o golpe militar de “serem tão culpados” como aqueles que executaram o golpe. “Vocês ficaram calados em Gaza, na Síria e agora no Egipto. Como podem falar de democracia, valores e direitos humanos?”, acusou. “Deus punirá aqueles, no mundo islâmico, que traírem os seus irmãos e irmãs egípcios”, concluiu. Esta é uma postura de risco do primeiro-ministro turco, ao acusar, de forma quase directa, parceiros económicos como a Arábia Saudita e o Qatar. Este posicionamento pode afectar a estabilidade política e regional da Turquia, segundo alguns analistas internacionais. 

 

As críticas da Turquia ao imobilismo internacional acontecem num momento de indefinição. As Nações Unidas receberam esta segunda-feira, autorização para investigar o local do suposto bombardeamento com recurso a armamento químico. O veículo dos investigadores internacionais, quando se deslocava para o local, foi alvo de vários tiros. O regime de Assad já veio acusar os rebeldes de serem os autores deste ataque. Citado pelo “The Guardian”, em declarações feita em Seul esta segunda-feira, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, tinha avisado que “não pode haver impunidade” perante o recurso a armas químicas. Adensa-se a complexidade da situação.

 

Também esta segunda-feira, o ministro dos Negócios Estrangeiros inglês, William Hague, admitiu uma resposta militar contra a Síria, mesmo sem o enquadramento do Conselho de Segurança das Nações Unidas. François Hollande, Presidente francês, disse, ao “Le Parisien”, que existem “várias opções em cima da mesa, que vão do reforço das sanções internacionais até incursões aéreas, passando por armar os rebeldes".

 

Bashar al-Assad, Presidente sírio, ameaçou os Estados Unidos ao afirmar categoricamente que qualquer intervenção militar está condenada “ao fracasso”, até porque, como afirma, “qualquer problema, em qualquer ponto que seja, terá impacto em toda a região, porque a situação na Síria é complexa e complicada".

 

Os principais aliados internacionais de Assad, a Rússia, o Irão e a China assumindo posições diferentes, concordam com o essencial – não deve avançar-se com um ataque militar contra Assad. A China lembrou, na sexta-feira passada, que “antes que a investigação [das Nações Unidas] apure realmente os factos, todas as partes devem evitar juízos sobre o resultado final”. O Irão e a Rússia já referiram, em mais do que uma ocasião, a oposição a qualquer tipo de ofensiva militar contra Damasco.

 

O conflito sírio dura há cerca de dois anos. Os combates conheceram momentos de maior e menor intensidade, acompanhados por repercussões internacionais também com maior e menor preocupação evidenciada. Contudo, depois do bombardeamento nos arredores de Damasco, com eventual recurso a armas químicas, tem-se assistido ao escalar de reacções internacionais, mormente de repúdio, outras com pedidos de calma e contenção.

 

Depois de Barack Obama, Presidente americano, ter garantido que a utilização de armamento químico seria a “linha vermelha” que os Estados Unidos não poderiam deixar passar, afirmação acompanhada por aliados como o Reino Unido e a França, a comunidade internacional ficará em suspenso até ser conhecido o relatório que os investigadores das Nações Unidas irão produzir.

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