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Quando a China ameaça com tarifas, cumpre?

"Business is business", disse o vice-ministro das Finanças chinês. Um histórico com exemplos de disputas mostra porquê.

Reuters
A disputa entre os Estados Unidos e a China sobre comércio – ninguém lhe quer chamar ainda uma guerra comercial, nem mesmo o presidente Trump – tem vindo a subir de tom. Esta quarta-feira, em resposta à lista de 1.300 produtos chineses que passam a ter tarifas acrescidas para entrar no mercado norte-americano, o Executivo chinês divulgou a retaliação: uma lista de 106 bens norte-americanos, que representam 50 mil milhões de dólares em exportações dos EUA. Chegará a resposta ao terreno?

Quando a administração Trump introduziu as tarifas ao aço e alumínio, excluindo os principais mercados de importação norte-americana, mas mantendo a medida para a China, o Executivo chinês prometeu resposta. E deu: aplicou tarifas adicionais a um conjunto de bens norte-americanos, de importação estimada em três mil milhões de dólares – fruta, nozes, porco, vinho.

Perante a resposta, a administração Trump apresentou na terça-feira uma lista de 1.300 bens chineses, que passarão a estar sujeitos a tarifas adicionais de 25%, sobre quaisquer outras tarifas já existentes. E no dia seguinte a China respondeu com uma lista de 106 produtos – muito menos tipos de bens, mas de valor estimado idêntico ao da lista dos Estados Unidos, ou seja, cerca de 50 mil milhões de dólares. Estão lá a soja, automóveis, aviões, produtos químicos.

O Executivo chinês avisou que a data de implementação destas tarifas está dependente da chegada ao terreno das medidas norte-americanas. Entretanto, desafiou a administração Trump junto da Organização Mundial do Comércio.

Perante a resposta e contra-resposta, Wall Street deu uma boa imagem do pessimismo dos investidores e teve os principais índices no vermelho. Mas será assim tão certo que a China passará das palavras à acção? "Business is business", avisou ontem o vice-ministro das Finanças chinês, Zhu Guangyao.

Um histórico de disputas comerciais entre os EUA e China, compilado pela Bloomberg, dá uma boa imagem das palavras do governante chinês. Por exemplo, em Setembro de 2016 os EUA impuseram tarifas sobre o aço inoxidável importado à China (em Maio já tinham aplicado tarifas noutros produtos de aço). E em Outubro, a China alargou as tarifas sobre o caprolactam, um composto orgânico usado na indústria têxtil.

Mas há mais exemplos. Em 2009 os EUA impuseram tarifas sobre os pneus chineses. No ano seguinte a China impôs tarifas sobre o frango norte-americano. Na altura, relatou a Bloomberg, os Estados Unidos apresentaram queixa à OMC, argumentando que as tarifas prejudicaram cerca de 300 mil trabalhadores norte-americanos. A disputa manteve-se com a China a responder de forma pronta e à altura. Em Agosto de 2015 o Executivo chinês decidiu tarifas sobre o frango dos EUA de 73,8%, durante cinco anos.

A indústria aeronáutica é outro palco comum de ameaças. Mas a China já foi para lá das palavras. Em 1995, ameaçou, mas não concretizou, cancelar encomendas à norte-americana Boeing no valor de dois mil milhões de dólares. Seja como for, no ano seguinte encomendou 1,5 mil milhões de euros em aviões à europeia Airbus.

E os exemplos continuam, na área da energia solar, das tecnologias de informação – onde se inclui a lei que obriga as empresas norte-americanas a darem acesso a parte da sua tecnologia para entrarem no mercado chinês, um dos argumentos de Trump para avançar com as tarifas – ou até mesmo das pescas.
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