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Golpe de Estado travado na Turquia deixa 265 mortos e mais de mil feridos

O primeiro-ministro da Turquia, Binali Yildirim, denunciou na sexta-feira ao início da noite uma "tentativa ilegal" de golpe de Estado por parte de um grupo militar. Uma hora depois, pelas 22h de Lisboa, o Exército do país anunciou a tomada do poder. Era perto da 1h da manhã quando o governo comunicou que a acção tinha sido travada.

Rendição de militares
Reuters
15 de Julho de 2016 às 21:17
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O primeiro-ministro turco denunciou na sexta-feira à noite, citado pela agência France Presse, uma "tentativa ilegal" de golpe de Estado por parte de um grupo de militares. Os meios de comunicação social centraram as atenções na Turquia e durante algumas horas foi descrito e testemunhado um cenário de tensão e grande violência.

De acordo com o balanço mais recente, divulgado ao final da tarde de sábado pelo gabinete do presidente Recep Tayyip Erdogan, a tentativa de golpe provocou 265 mortos, dos quais 161 civis - o número já tinha sido anteriormente avançado -, 20 dos quais "golpistas", a que há que juntar mais 104 militares envolvidos na tentativa de golpe. Dos militares sublevados, 2.839 acabaram por se render, indica a agência Lusa.


A BBC News começou por avançar que havia forças de segurança a bloquear as duas principais pontes de Istambul sobre o Bósforo, o estreito que separa os lados europeu e asiático da cidade, havendo também relatos de tiroteios em Ancara, capital do país.

Segundo a agência pró-governo Anadolu, citada pela AFP, o Chefe de Estado-Maior, general Hulusi Akar, teria sido feito refém dos militares golpistas. 


Corriam também informações de helicópteros e aviões militares a sobrevoarem a capital turca, o que veio a confirmar-se quando começaram a surgir os primeiros vídeos nas redes sociais.

Pouco depois do anúncio desta acção, o Exército turco anunciou em comunicado de imprensa que tinha tomado o poder no país. "O Exército assumiu totalmente o poder para restaurar a democracia. Todos os nossos acordos internacionais estão em vigor. Esperamos manter as boas relações com todos os países", referiu o Estado-Maior do Exército no comunicado citado pela Lusa.

Dizia a AFP que o comunicado do Exército decretava ainda o recolher obrigatório e a instauração da lei marcial [todas as leis das autoridades civis do país são substituídas por leis militares].

Por sua vez, a estação de televisão turca TRT dava conta de tanques militares destacados na zona exterior do aeroporto Ataturk, em Istambul - onde a 28 de Junho ocorreu um atentado. Foi por pouco mais tempo que a TRT emitiu. A televisão estatal foi tomada de assalto pelos revoltosos e "calou-se".

Mas as notícias continuavam a chegar. "Trata-se de um grupo dentro do Exército que se rebelou", afirmou o primeiro-ministro, citado pela Lusa. Binali Yildirim admitiu, nessa altura, que os referidos militares tinham cercado alguns dos principais edifícios de Ancara e a agência turca Dogan assinalou que várias ambulâncias se deslocaram para o quartel central do Estado-Maior, onde, segundo testemunhas, havia tiroteios.

A CNN Turk avançou, por seu turno, que o presidente Recep Tayyip Erdogan estava "em segurança", mas sem dar mais pormenores. Os militares cercaram o palácio presidencial, em Ancara, mas Erdogan não se encontrava no edifício.


Erdogan conseguiu entretanto falar à CNN Turk, via telemóvel, e declarou que a acção dos soldados era obra de uma "estrutura paralela" e que receberia a "resposta necessária". O presidente apelou ainda a que a população saísse à rua para se opor à sublevação militar.


Uma fonte presidencial disse ainda, citada pelo The Guardian, que a acção consistia numa "tentativa de golpe por parte do Movimento Gülen" e que "os perpetradores violaram a cadeia de comando".

 

O Movimento Gülen é um movimento da sociedade civil que começou como um grupo de serviço comunitário - composto por estudantes, professores, pais e proprietários de pequenas empresas - afecto ao académico turco e pregador Fethullah Gülen, na cidade de Izmir. Este grupo é chamado agora de Movimento Gülen, especialmente pelos académicos ocidentais, devido à sua principal fonte de inspiração. Contudo, é frequente os seus membros referirem-se-lhe como Hizmet ou Serviços Voluntários (Movimento). Quanto ao próprio Fethullah Gülen, prefere referir-se ao grupo como "movimento de seres humanos unidos em torno de valores humanos elevados."

Apesar das dificuldades de acesso às redes sociais que foram assinaladas por grupos de monitorização da actividade na Internet, muitos cidadãos conseguiram passar mensagens, especialmente através do Instagram, onde colocaram vídeos que mostravam o clima que se vivia, como foi o caso de um vídeo onde se percebiam disparos vindos de um helicóptero - neste caso, em direcção ao palácio presidencial.

Nicht normal !!!

Um vídeo publicado por Bünyamin Can (@bunyamincan_) a



Militares disparam sobre a população

A AFP dava conta, pelas 00:15 de Lisboa, que os soldados turcos estavam a disparar sobre as pessoas nas ruas de Istambul e que havia registo de feridos. E avançava que, do lado oposto, caças F-16 tinham abatido um helicóptero dos golpistas.

Vários meios de comunicação social diziam haver 17 polícias mortos e outros destacavam que o Parlamento tinha sido bombardeado. O diário espanhol ABC referia ainda que os golpistas teriam morto dois civis que se manifestavam em Istambul contra o acto de sublevação dos militares.





O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pronunciou-se e apelou à calma na Turquia, e nos Estados Unidos o presidente Barack Obama e o secretário de Estado John Kerry também pediram que se evitasse a violência.

Em comunicado da Casa Branca, Obama e Kerry sublinharam que todos os partidos na Turquia deviam apoiar o governo democraticamente eleito, mostrar contenção, e evitar qualquer tipo de violência e derramamento de sangue.

"Há muita tensão lá fora"


Ao Negócios, Ibrahim Al Ibrahim dizia conseguir aceder em condições ao Facebook. Foi, aliás, através dessa rede que se estabeleceu contacto com este jovem sírio que fugiu para a Turquia há dois anos.

Ibra - como gosta de ser chamado - vive em Gazi-Ayintap e mostrava-se bastante preocupado com o que estava a acontecer. "O governo está a perder o controlo", contou, relatando que muita gente estava a acorrer às ruas, tal como Erdogan tinha pedido, mas que o ambiente estava cada vez mais tenso. "As pessoas estão a recusar este golpe", acrescentou.

Para que aqui, deste lado, percebêssemos melhor, Ibra enviou um áudio onde podia ouvir-se muito ruído, vozes alteradas e buzinadelas. Muitas pessoas na rua. 

"Todos os políticos, e mesmo os principais opositores do actual governo, rejeitaram este golpe dos militares. Eles defendem a democracia", prosseguiu o jovem Ibra, que fugiu da Síria para a Turquia em busca da paz que lhe faltava na terra onde vivia - mas que hoje, uma vez mais, ouviu sons que desejava já ter esquecido.

Horas depois, o alívio chegava.


O golpe foi travado

Pela 1h da manhã em Lisboa (3h em Ancara), o primeiro-ministro e as secretas turcas garantiam que o golpe tinha sido travado.

Jon Williams, editor da secção de notícias internacionais na ABC News, escrevia na sua conta de Twitter, citando o chefe da polícia de Istambul, que 104 era o número de soldados envolvidos nesta tentativa de golpe de Estado.


Segundo a Reuters, a televisão estatal - que tinha estado ocupada pelos militares revoltosos - voltou a emitir e o aeroporto voltou a funcionar.

A TVI24, citando o El Diario, referia que o presidente Erdogan já estava a regressar. Era 1h30 em Lisboa quando surgiu a confirmação: Erdogan tinha aterrado em Istambul.

Pouco depois de chegar àquela cidade turca, Tayyip Erdogan, afirmou que a tentativa de golpe de Estado é como um "presente de Deus" que permitirá "limpar" o Exército.


"Este levantamento, este movimento é um grande presente de Deus para nós, porque o exército será limpo", disse, em conferência de imprensa, assegurando que os golpistas vão pagar caro pela sua "traição".

O Presidente turco culpou pelo golpe de Estado os apoiantes de Fethullah Gülen, mas o movimento que apoia Gülen (Hizmet) já condenou o golpe: "Há mais de 40 anos que Fethullah Gulen e o Hizmet têm defendido e demonstraram o seu compromisso com a paz e a democracia", defendeu.

Ao início deste sábado, foi noticiado que as forças de segurança turcas resgataram o chefe das Forças Armadas, o general Hulusi Akar, numa operação em Ancara e levaram-no para um lugar seguro.

Facebook, Twitter e YouTube "em baixo" O acesso na Turquia ao Facebook, Twitter e YouTube foi cortado quase logo a seguir às primeiras notícias do golpe militar, segundo dois grupos de monitorização das actividades na Internet citados pelo The Guardian.

A Reuters reportou que o Turkey Blocks, grupo que monitoriza cortes de Internet no país, e o Dyn, que analisa o desempenho da Internet e do tráfego a nível mundial, afirmaram que estava a ser difícil ou mesmo impossível aceder aos serviços de media sociais na Turquia.

Recorde-se que Erdogan já decretou, noutras ocasiões, a restrição do acesso a algumas plataformas de "social media".

(notícia actualizada pela última vez às 17:43 de sábado, 16 de Julho, com mais recente balanço do número de vítimas)

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