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Erdogan incapaz de acalmar mercados

As declarações que o presidente turco proferiu durante o fim-de-semana foram tudo menos de acalmia.

Tatyana Zenkovich/EPA
Alexandra Machado amachado@negocios.pt 12 de Agosto de 2018 às 21:18

Se os investidores e analistas estavam à espera de conforto nas palavras do fim-de-semana do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, saíram defraudados. Em três discursos públicos, não tiveram mais do que ataques aos Estados Unidos da América, ameaçando-os de irem procurar novas alianças e novos mercados. Como escreve a Bloomberg, os discursos foram o oposto do que os mercados pretendiam para acalmarem agora que a semana vai arrancar.


No final da semana a lira despencou. Chegou a perder 17% face ao dólar, elevando a queda anual aos 40%. No arranque das negociações desta segunda-feira na Ásia, a moeda turca fixou novo mínimo, dando expressão, mais uma vez, aos temores dos investidores sobre a economia do país e a deterioração das relações com os Estados Unidos.


Erdogan não se cansa de pedir aos seus concidadãos que comprem liras, e se desfaçam dos dólares. Garantiu que não ia mexer nas taxas de juro centrais, afastando que a economia turca esteja em crise. E fala em conspiração política, desafiando os Estados Unidos, o aliado na NATO e que tem uma base importante em Incirlik, no sul do país. O confronto entre os dois países intensificou-se depois das sanções impostas pelos EUA com a recusa da Turquia de libertar um pastor norte-americana, tendo-se agravado com o anúncio de Trump de que vai duplicar as taxas nas importações de aço e alumínio turcas. E foi a esta ameaça que Erdogan replicou: "Estamos a trabalhar dia e noite para encontrar mercados alternativos".

Os analistas, citados pela Bloomberg, falam em atirar gasolina para um fogo. Mas se o espoletar dos episódios actuais foram as sanções norte-americanas, muitos investidores vão dizendo que a economia de 900 mil milhões de dólares já estava debilitada, e a entrar em crise. Erdogan recusa qualquer ideia de que poderá pedir ajuda financeira internacional. Mas os efeitos já se sentem, com a retirada de dinheiro de obrigações nacionais por parte dos investidores. E por arrasto os bancos na Europa sofreram, com os receios das suas exposições à Turquia.

Por isso, os analistas têm apontado para a necessidade do banco central turco de contrariar a vontade de Erdogan aumentando as taxas, para travar a queda da lira. "Parece um ‘crash’, por isso precisam de agir já", declarou à Bloomberg, Morten Lund, do Nordea Bank AB, em Copenhaga, salientando que "a lira continuará a cair se não subirem as taxas".

Mas Erdogan não quer nem ouvir falar do assunto: "As taxas de juro são uma ferramenta que faz os ricos mais ricos e os pobres mais pobres. Ninguém deve tentar que caíamos na armadilha".

Entretanto, ao final da noite de domingo, o ministro turco das Finanças, Berat Albayrak, disse que a Turquia já delineou um plano de acção que começará a implementar na segunda-feira de manhã com vista a aliviar os receios dos investidores.

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