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Argentina: Derrota do presidente Macri nas primárias afunda obrigações, moeda e bolsa
O "peronista" Alberto Fernandez, que concorre com a ex-presidente Cristina Kirchner como número dois, derrotou por larga margem o atual presidente Macri nas primárias argentinas. Juros da dívida argentina reagiram em forte alta.
Nas primárias argentinas que decorreram este domingo, os eleitores do país deram um cartão vermelho ao presidente Mauricio Macri e respetivas políticas de austeridade, dando uma clara vitória ao "peronista" Alberto Fernandez. Mercados não reagiram bem.
A coligação da oposição Frente de Todos, encabeçada por Fernandez e que leva a ex-presidente Cristina Kirchner como número dois na candidatura às presidenciais de outubro, obteve 47,3% dos votos com 88% dos votos contabilizados.
Já a candidatura Juntos pela Mudança do presidente Macri não foi além dos 32,5% dos votos, enquanto no terceiro lugar ficou o antigo ministro Roberto Lavagna com 8,4%.
Este resultado mostra uma ampla rejeição à política de consolidação das contas públicas levada a cabo pelo atual presidente.
O presidente Macri já reconheceu o "mau resultado", isto depois de antes das primárias ter defendido que as presidenciais de outubro vão "definir os próximos 30 anos".
Em jogo está o caminho que a Argentina vai seguir e os que estão em jogo são opostos. Macri propõe manter orçamentos equilibrados e continuar a abrir a economia argentina, enquanto a dupla candidatura de Fernández e Kirchner quer reforçar o papel do Estado na economia com políticas mais intervencionistas.
Alberto Fernández, que chegou a ser chefe de gabinete do antigo presidente Néstor Krichner, com quem se incompatibilizou, concorre em conjunto com a também ex-presidente Cristina Kirchner, envolta em diversos casos relacionados com corrupção.
No entanto, o "peronista" parece beneficiar do cansaço dos argentinos em relação a uma economia ainda em recessão e com elevados níveis de inflação. Por outro lado, salienta a Reuters, a reeleição de Macri significaria que o programa de corte na despesa pública vai prosseguir tal como acordado no programa de apoio financeiro de 57 mil milhões de dólares negociado, em 2018, com o Fundo Monetário Internacional.
Peso em mínimos
Os mercados estão a reagir com preocupação à perspetiva de Alberto Fernández como presidente, em particular por temerem que a atual economia de mercado dê lugar às políticas de nacionalizações levadas a cabo por Kirchner.
No mercado cambial a moeda argentina abriu a afundar mais de 15%. No início da sessão eram necessários 55 pesos argentinos para comprar um dólar, quando na sexta-feira bastavam 45. A moeda continuou a afundar, com a queda a aproximar-se dos 30% para 65 pesos por dólar, o que representa o valor mais baixo de sempre, segundo a Reuters. Com a volatilidade a tomar conta da moeda, o peso segue (pelas 16:00, hora de Lisboa) a desvalorizar em torno de 20% para 57 pesos por dólar.
No mercado acionista as quedas também são violentas. O principal índice bolsista do país (Merval) afunda 11%, estando a ser pressionado sobretudo pelo setor financeiro, em especial depois do Morgan Stanley ter cortado a recomendação para os bancos do país de "overweight" para "underweight". O temor quanto a um efeito de contágio provocado pela instabilidade na segunda maior economia da América Latina atinge já o real brasileiro, que deprecia nos mercados cambiais. Já são necessários quatro reais para comprar 1 dólar.
Primeira volta a 27 de outubro
A primeira volta das presidenciais decorre no próximo dia 27 de outubro, sendo que só é eleito um presidente se este conseguir 45% ou mais dos votos ou 40% dos votos com pelo menos 10 pontos de vantagem sobre o segundo classificado. Caso contrário, há direito a uma segunda volta a 24 de novembro.
As primárias argentinas têm como objetivo definir quais os partidos que vão disputar as eleições para, posteriormente, escolher qual o candidato de cada partido.
Porém, a ausência de concorrência interna (dentro de cada partido) fez com que estas primárias sejam sobretudo uma espécie de sondagem nas urnas daquilo que poderá ser o resultado das presidenciais.