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Trump acusa imprensa de não noticiar atentados. Imprensa defende-se

Horas depois de o presidente norte-americano apontar o dedo à imprensa por, deliberadamente, não noticiar ataques terroristas, a Casa Branca divulgou uma lista de 78 incidentes alegadamente pouco visíveis. Os meios de comunicação social já vieram defender-se.

07 de Fevereiro de 2017 às 13:06
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Depois de uma das conselheiras de Donald Trump ter invocado um ataque que não existiu para justificar a ordem presidencial de restrição de entrada de alguns imigrantes no país, desta vez foi o próprio presidente a referir-se às ameaças terroristas, mas para acusar os média de, deliberadamente, não quererem dar a conhecer os ataques ao público.


"Viram o que aconteceu em Paris e em Nice. Está a acontecer por toda a Europa. Atingiu um ponto em que nem sequer é noticiado. E, em muitos casos, a imprensa muito, muito desonesta, não quer noticiá-lo. Eles têm as suas razões e vocês percebem-nas," afirmou Trump esta segunda-feira, 6 de Fevereiro, no final de uma visita ao comando central dos Estados Unidos na Florida.


Mais tarde, o responsável pela comunicação da Casa Branca, Sean Spicer, veio suavizar as declarações, corrigindo que os ataques tinham sido "pouco noticiados" em vez de "não noticiados" e que o que Trump quis foi questionar o equilíbrio entre a noticiabilidade de manifestações ou de ataques terroristas.


A Casa Branca havia mais tarde de divulgar a lista dos ataques que o presidente disse não terem merecido a devida cobertura jornalística. São 78, no período compreendido entre Setembro de 2014 e Dezembro de 2016, sendo que 13 deles ocorreram em solo dos EUA e cerca de três dezenas tiveram a Europa como palco. A resenha foi divulgada pelo jornalista da CNN, Kevin Liptak, através do Twitter.

No caso da Europa, constam da lista os atentados de Paris em Novembro de 2015, os ataques ao aeroporto de Bruxelas e os atropelamentos de dezenas de pessoas em Nice em Junho de 2016 e numa feira de Natal em Berlim em Dezembro do ano passado.

Nos EUA, dos dez ataques identificados, oito são apontados como tendo sido perpetrados por cidadãos norte-americanos. Dois deles (Nova Iorque e St Cloud, ambos em Setembro do ano passado) têm como autores cidadãos com nomes árabes: Ahmad Khan Rahami e Dahir Ahmed Adan. Rahami, nascido no Afeganistão, tornou-se cidadão dos EUA em 2011 e Ahmed Adan um refugiado somali que adquiriu a cidadania norte-americana em 2008.


Incidentes largamente reportados na Europa (sobretudo os ocorridos no Velho Continente), mas que a administração Trump sustenta que não tiveram igual eco junto da imprensa norte-americana.

O Washington Post discorda e diz que a lista "não parece encaixar na descrição original de Trump". Já o jornalista da CNN, Anderson Cooper, divulgou um vídeo de 45 segundos com imagens de notícias da estação de televisão que visaram muitos dos ataques invocados pelo presidente norte-americano.


"Não nos limitámos a noticiar muitos dos ataques que a Casa Branca divulgou, cobrimo-los intensivamente. Sei-o porque estava no terreno a noticiar alguns deles", afirmou Cooper na segunda-feira à noite, exemplificando com os casos de Ottawa (Canadá), Orlando e San Bernardino (EUA) e Paris.


A Associated Press - numa peça reproduzida no site da Fox News, conotada com a ala mais à direita da política norte-americana - faz um cruzamento entre alegações e factos para concluir que "estes ataques mortíferos na Europa receberam uma cobertura até à saturação durante dias. E até os mais pequenos e não letais actos de terrorismo receberam cobertura".

O New York Times sustenta por outro lado que as acusações de branqueamento noticioso dos atentados para proteger imigrantes muçulmanos são uma constante em vários meios de comunicação conotados com a direita radical norte-americana.

As declarações de Trump proferidas ontem surgem numa altura em que a sua ordem executiva, assinada para, alegadamente, travar a entrada de terroristas no país, está a ser judicialmente contestada. 

Esta terça-feira a partir das 23:00 (hora em Portugal Continental, menos oito horas em São Francisco) o tribunal de recurso daquela cidade vai pronunciar-se sobre a suspensão imposta pelo juiz James Robart à ordem que impede a entrada temporária de imigrantes de sete países de maioria muçulmana. Recurso após recurso, o caso poderá chegar até ao Supremo Tribunal.

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