Notícia
Tchau Dilma, oi Temer - por quanto tempo?
Numa derradeira tentativa de travar o processo, a defesa de Dilma apelou ao Supremo. Mas o expediente dificilmente evitará o afastamento (quase) certo da presidente. É tempo de olhar para Temer.
Depois da pirueta de 360 graus de Waldir Maranhão, o incauto presidente interino da Câmara dos Deputados que, em menos de doze horas, rasgou a sua própria e solitária decisão de anular o pedido de "impeachment", o plenário do Senado começa nesta quarta-feira a votar, como previsto, a "admissibilidade" das denúncias que pesam contra Dilma Rousseff.
Excluindo a eventualidade de mais uma reviravolta inesperada – e a vida política brasileira tem sido fértil de episódios de suspense, tendo ontem mesmo a defesa da presidente enviado um pedido de anulação do processo ao Supremo Tribunal Federal (STF) - o cenário mais provável é que, o mais tardar amanhã, a votação estará concluída e resultará no afastamento automático da presidente por 180 dias. Para que isso aconteça é preciso que apenas uma maioria simples dos 81 senadores concorde na existência de indícios suficientes para a presidente ser julgada por "crimes de responsabilidade fiscal". A decisão final – que cabe ao mesmo Senado, mais por uma maioria de dois terços, num processo jurídico-político que será conduzido pelo presidente do Supremo – terá de ser anunciada durante esse período, ou seja, até ao fim do ano.
A delfina de Lula da Silva é acusada de ter ocultado empréstimos de bancos públicos e realizado despesa sem autorização do Congresso, em violação da Constituição, para mascarar a real situação financeira do país e ampliar as chances de ser reeleita. Se for condenada, perde definitivamente o segundo mandato eleitoral conquistado no Outono de 2014 e ficará inelegível por oito anos.
Quanto aguenta Temer?
Neste meio tempo - que pode oscilar entre seis meses e dois anos, em caso de condenação definitiva de Dilma - Michel Temer será o novo presidente do Brasil. A carreira de presidente do actual "vice" pode, no entanto, revelar-se ainda mais curta do que o previsto. Temer pode, entretanto, vir a ser atingido pelas mesmas razões que estão por detrás do "impeachment" de Dilma (porque assinou decretos alegadamente ilegais durante ausências da presidente), pela investigação da Lava Jato (embora o Ministério Público não tenha pedido a sua investigação, ao contrário da de Dilma e Lula), sendo que o Supremo Tribunal Eleitoral está, por seu turno, a investigar indícios de financiamento ilegal da campanha eleitoral de 2014, na qual concorreu coligado com Dilma, correndo (ambos) o risco de ver o seu mandato anulado e serem marcadas eleições antecipadas.