Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Notícia

Dilma: Vedação erguida e mais de mil polícias mobilizados para o julgamento final

A segurança na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, foi fortemente reforçada. Ao fim de nove meses de processo e mais de 100 dias depois de ter sido afastada, a etapa final do "impeachment" arranca nesta quinta-feira. Temer já prepara tomada de posse.

Reuters
25 de Agosto de 2016 às 15:45
  • 1
  • ...

Um forte dispositivo de segurança, que inclui cerca de 1.300 elementos da polícia militar, foi destacado para minimizar o risco de tumultos durante a fase final do julgamento de Dilma Rousseff que arranca nesta quinta-feira, 25 de Agosto, em Brasília.


Na Esplanada dos Ministérios, em torno da qual se concentram as sedes das principais instituições brasileiras, entre as quais a do Senado a quem cabe a decisão final sobre o destino da presidente afastada, foi também reerguida uma longa estrutura metálica para separar os manifestantes pró e anti-Dilma, tal como sucedera durante a votação na Câmara dos Deputados, na primeira fase do processo de destituição. Do lado do Teatro Nacional, ficarão os manifestantes contra o impeachment e, no lado da Catedral, estarão os que o apoiam. No meio, as forças de segurança ocuparão uma área exclusiva, num corredor de um quilómetro de extensão. As autoridades antecipam que, de cada lado da barricada, possam vir a mobilizar-se até 30 mil manifestantes que não poderão carregar objectos pontiagudos, "nem fazer uso de bonecos insufláveis ou qualquer outro elemento que comprometa a segurança", escreve a imprensa brasileira. 

Nesta última fase, onde o julgamento deixará de ser estritamente político e passará a ser conduzido pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski, serão chamadas as testemunhas-chave e, por opção própria, a presidente fará a sua defesa de viva voz, provavelmente na segunda-feira. 

Para que se confirme a condenação definitiva de Dilma, que levará à perda do seu mandato e à sua inelegibilidade por oito anos, será necessário que 54 entre os 81 senadores, ou seja uma maioria qualificada, a julgue culpada dos crimes de responsabilidade orçamental e de gestão em violação das normas constitucionais que estiveram na base da denúncia acolhida pelo Congresso dos Deputados em meados de Abril. Segundo um levantamento feito nesta semana  pelo jornal O Globo, 51 senadores já declararam que votarão a favor do "impeachment", 19 anunciaram que votarão contra 19 e 11 não quiseram revelar o seu voto ou não foram encontrados. 

A presidente brasileira foi afastada em 13 de Maio após o primeiro voto no Senado, estando desde então o cargo a ser interinamente assumido pelo seu "vice" Michel Temer que, à partida, concluirá o mandato até ao fim de 2018. Segundo o jornal O Globo, o presidente interino não terá qualquer dúvida sobre o desfecho da votação e está já a preparar a tomada de posse oficial, que poderá acontecer ainda na próxima semana.

Dilma é acusada de, nas vésperas das eleições de 2014, ter  maquilhado as contas públicas, atrasando transferências do Tesouro federal para bancos públicos (as chamadas pedaladas fiscais) e publicado decretos que aumentaram a despesa sem a necessária autorização parlamentar numa altura em que o limite estabelecido para o défice orçamental já não estava a ser cumprido.

O seu processo de destituição deu o primeiro passo em Dezembro do ano passado 
quando Eduardo Cunha, então presidente do Congresso de Deputados, entretanto afastado do cargo por suspeitas de corrupção, aceitou a denúncia contra a conduta de Dilma apresentada por Hélio Bicudo, fundador do Partido dos Trabalhadores (partido da própria Dilma e de Lula da Silva); Miguel Reale Júnior, um dos mais respeitados juristas do país e ex-ministro da Justiça de Fernando Henrique Cardoso (PSDB, maior partido, então na oposição) e por Janaína Paschoal, professora de Direito. Escassos meses antes, o Tribunal de Contas do Brasil havia recomendado por unanimidade ao Congresso que chumbasse a execução do orçamento de 2014. As irregularidades detectadas pela entidade fiscalizadora - que, pela primeira vez desde 1937 rejeitou a prestação de contas de um governo federal - totalizam o equivalente a 24 mil milhões de euros e incluem manobras para ocultar dívida assumida pelo Estado usando dinheiro de bancos públicos, entre os quais o BNDES e a Caixa Económica.


Numa carta dirigida na semana passada aos brasileiros e ao Senado, Dilma volta a dizer-se inocente e diz-se disponível para consultar os eleitores sobre a possibilidade de convocar eleições antecipadas e sobre a "reforma política e eleitoral", considerando ser necessário mudar as regras perante o "número excessivo de partidos" e "práticas políticas questionáveis".  "Se consumado o 'impeachment' sem crime de responsabilidade, teríamos um golpe de estado", afirma, dizendo que está a ser alvo de um processo "frágil, juridicamente inconsistente", que "não há crime" nos seus actos, que são semelhantes aos executados pelos seus antecessores. "Não era crime na época deles, e também não é crime agora", frisa. "Jamais se encontrará na minha vida registro de desonestidade, covardia ou traição. Ao contrário dos que deram início a este processo injusto e ilegal, não tenho contas secretas no exterior, nunca desviei um único centavo do património público para meu enriquecimento pessoal ou de terceiros e não recebi propina de ninguém", acrescenta.


Apesar de estar afastada de funções, Dilma ainda conserva o foro privilegiado, só podendo ser julgada pelo Supremo, composto por juízes nomeados pelos presidentes. Se o Senado votar pelo "impeachment", perde esse estatuto e poderá ser investigada pelo juiz Sérgio Moro, que conduz na primeira instância operação anti-corrupção Lava Jato. Segundo escreve a Folha de São Paulo,  obstrução à justiça, na sequência da polémica nomeação (efemeramente consumada) de Lula da Silva para a Casa Civil, deverá ser o processo que segue, que envolverá também o seu antecessor.

Paralelamente, correm na justiça processos com base em índicios de que parte dos recursos desviados da Petrobras foram directamente para as contas do PT e para financiar as campanhas eleitorais de Dilma, que em 2014 foi reconduzida para o cargo apresentando Michel Temer (membro do PMDB) como candidato a vice-presidente. No cenário em que se conclua que a campanha do PT/PMBD foi financiada de forma ilegal, também Temer poderá perder o seu mandato, o que levará à convocação de eleições antecipadas.

Enquanto presidente do Conselho de Administração da Petrobras (cargo que ocupou nos dez anos anteriores a assumir a presidência do país, em 2011), Dilma corre ainda o risco de ser acusada de crime de responsabilidade contra a probidade na Administração. Em causa estão diversas operações, desde a compra que se revelou ruinosa da refinaria de Passadena passando pelo esquema de desvio de dinheiro para partidos e de corrupção montado com as grandes empreiteiras, teia que está no centro da operação Lava Jato.

Ver comentários
Saber mais Dilma Rousseff Brasília segurança voto final crime Lava Jato Câmara dos Deputados Senado Michel Temer Fernando Collor Jovair Arantes Partido Trabalhista Brasileiro Partido do Movimento Democrático Brasileiro política PMDB parlamento
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio