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Obama: “Ninguém que trabalhe a tempo inteiro deve ter de criar uma família na pobreza”

O Presidente dos Estados Unidos voltou ontem a alertar para o crescimento das desigualdades e anunciou o aumento do salário mínimo de 7,25 para 10,10 dólares à hora.

Reuters
29 de Janeiro de 2014 às 08:03
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No seu quinto discurso do Estado da União (State of the Union), Barack Obama distanciou-se ainda mais da retórica do consenso, prometendo actuar sem o apoio do Partido Republicano para reduzir a pobreza e travar o aumento das desigualdades nos EUA. “Estou ansioso para trabalhar com todos vocês”, afirmou o Presidente, perante os congressistas de ambos os partidos. “Mas a América não fica parada, nem eu vou ficar. Portanto, onde quer que eu possa dar passos sem legislação para aumentar as oportunidades para mais famílias americanas, é isso que vou fazer.”

 

A declaração é um aviso claro para os republicanos: depois de anos de tensa luta política e impasse entre a Casa Branca e o Congresso, Obama tentará avançar com medidas unilateralmente, passando por cima do Congresso, através das chamadas “ordens executivas”. Ontem, anunciou a primeira. O aumento do salário mínimo federal de trabalhadores prestadores de serviços de 7,25 dólares (5,30 euros) para 10,10 dólares (7,39 euros), sob o argumento de que ele é hoje 20% mais baixo do que era durante a Presidência Reagan.

 

“Os americanos percebem que algumas pessoas vão ganhar mais dinheiro que outras e nós não temos rancor daqueles que, por virtude dos seus esforços, conseguem alcançar um sucesso incrível. A América é isso”, sublinhou o Presidente. “Mas os americanos concordam esmagadoramente que ninguém que trabalhe a tempo inteiro deve ter de criar uma família na pobreza.”

 

O objectivo é que a medida sirva como exemplo, uma vez que vai abranger apenas 560 mil dos 3,6 milhões de trabalhadores que recebem o salário mínimo federal. Para abranger todos os trabalhadores federais será necessário negociar com o Congresso. “Digam sim. Dêem um aumento à América”, pediu Obama entre os fortes aplausos do seu partido. “Dêem-lhes um aumento.”

 

Apesar da antecipação provocada pela Casa Branca nos últimos dias, o discurso acabou por não

Os americanos concordam esmagadoramente que ninguém que trabalhe a tempo inteiro deve ter de criar uma família na pobreza
 
Barack Obama

ser de ruptura com o Congresso. A ameaça de agir sozinho contrastou com o anúncio de apenas uma ordem executiva, que nem a liderança republicana contestou. Obama deu a entender que avançaria sozinho com outras medidas, por exemplo, que ajudem a poupar para a reforma, mas nada que faça os republicanos franzirem o sobrolho.  

 

A desigualdade e o “Sonho Americano”

 

Mais do que promover grandes projectos legislativos – que teriam de passar por um Congresso muito dividido – o Presidente democrata parece estar a desenhar a narrativa que irá acompanhar o seu partido durante as eleições intercalares de Novembro, esperando impedir que os republicanos reforcem a sua maioria da Câmara de Representantes ou que a conquistem no Senado.

 

A desigualdade social estará no centro deste discurso. “Hoje, depois de quatro anos de crescimento económico, os lucros das empresas e os preços das acções raramente estiveram mais altos e aqueles que estão no topo nunca estiveram tão bem. Mas os salários médios praticamente não mexeram”, explicou Obama. “A desigualdade aumentou. A mobilidade social estagnou. O facto é que, mesmo em plena recuperação, demasiados americanos estão a trabalhar mais que nunca apenas para sobreviver, quanto mais avançar.”

 

Em ocasiões anteriores, o Presidente já tinha dado a entender que a desigualdade social e económica seria o tema que iria acompanhar o seu segundo mandato, classificando-a como “o desafio definidor do nosso tempo”. Em 2012, os 1% americanos mais ricos detinham quase 20% do rendimento do País. Na década de 70, esse valor não chegava a 8%. Segundo a base de dados compilada por Emmanuel Saez, professor da Universidade de Berkeley, os 10% mais ricos detêm hoje 50,4% da riqueza, o valor mais elevado, pelo menos desde 1917, e uma subida drástica face aos 33% dos anos 70.

 

E o problema não está apenas na distribuição de riqueza mas no acesso a oportunidades. Uma criança que tenha tido a sorte de ter pais entre os 20% americanos mais ricos tem duas em três possibilidades de ficar no topo ou perto do topo, enquanto uma criança que tenha nascido nos 20% da base, tem uma hipótese em vinte de chegar ao topo. “A combinação das tendências de cada vez maior desigualdade e diminuição da mobilidade constituem uma ameaça de principio ao ‘Sonho Americano’, à nossa forma de vida e aquilo representamos em todo o mundo”, dizia Obama em Dezembro do ano passado.

 

 

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