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A cidade onde 60% da iluminação pública está desligada

É o maior pedido de protecção contra credores alguma vez feito por uma cidade norte-americana. Detroit protagoniza um novo capítulo negativo da sua história. Para esquecimento, ficam os anos de glória, quando crescia a indústria automóvel.

22 de Julho de 2013 às 17:40
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Uma cidade onde mais de metade da iluminação pública não está a funcionar. Uma cidade onde apenas um terço das ambulâncias circula. Uma cidade com 700 mil habitantes quando, nos anos 50, aí residiam 1,85 milhões. Uma cidade com 78 mil edifícios vazios, 38 mil dos quais considerados em perigo. Uma cidade com uma dívida de, pensa-se, cerca de 18 mil milhões de dólares (13,7 mil milhões de euros).

 

São estes os números de Detroit. Os números que descrevem a cidade norte-americana que, esta quinta-feira, solicitou a protecção contra credores. A maior cidade dos Estados Unidos que alguma vez o fez.

 

Houve um tempo em que Detroit estava ligada a outra palavra que não uma eventual falência. “Automóvel”, era essa palavra. Na verdade, ainda está. Detroit é a sede da General Motors. Ainda se realiza aí o mítico Salão Automóvel de Detroit. Mas os cortes no emprego na indústria automóvel nesta cidade do Estado de Michigan foram muitos. Nos últimos 50 anos, muitas fabricantes abandonaram o local de produção – em busca de áreas mais atractivas. E contribuíram para o declínio da zona.

 

Sem habitantes

 

A população caiu e, com isso, diminuiu o número dos que pagam impostos. “Com a base tributária deteriorada, os serviços básicos na cidade deterioraram-se. [Detroit] é tão grande em termos geográficos face à diminuta e empobrecida base tributária que a apoia”, explica Scott Martelle, autor “Detroit: A Biography”, num e-mail enviado para a agência Bloomberg. Além do desaparecimento populacional, também há um elevado desemprego. A taxa de desemprego estava, em Junho do ano passado, em 18,3%.

 

Janelas partidas, vidros inexistentes, arame farpado à volta. Inaugurada em 1913, a estação central de Michigan, a principal estação ferroviária de Detroit, está sem qualquer utilização desde 1988. É uma imagem central do actual estado da cidade. Também o são as escolas abandonadas ou os hotéis fechados.

 

Edifícios em ruínas, lotes vazios, edifícios a precisar de restauro, áreas desabitadas, edifícios a cair, população a fugir para os subúrbios. Com poucas ambulâncias, com poucos polícias. A cidade tem a maior taxa de crimes violentos por cada 200 mil habitantes, segundo dados do FBI citados pelo “Wall Street Journal”. Detroit é uma área demasiado grande para manter.

 

Sem receitas e com custos. Custos elevados com pensões e cuidados de saúde. Uma bolha imobiliária. Corrupção e gestão danosa. Uma dívida elevada cuja cura foi sempre adquirir mais dívida. O que resultou em défices orçamentais nos últimos anos.

 

Estas serão algumas das razões que conduziram o gestor de emergência de Detroit – que negociava há vários meses com os credores em busca de uma solução – a solicitar a protecção contra credores. A Bloomberg escreve que uma das propostas aos credores era a de, para pagar uma dívida de 11 milhões de dólares, emitir títulos de dívida apenas na ordem dos 2 mil milhões de dólares.

 

Ficar sem arte para ficar sem dívida

 

Uma das preocupações na cidade, conta a agência Reuters, é a possibilidade de serem vendidas obras de arte ou outros activos aos credores. Mas há garantia de que nada está à venda.

 

“Nada vai mudar na perspectiva de um cidadão normal da cidade. Os serviços vão permanecer em funcionamento, os salários serão pagos, as contas serão saldadas”, explicou o gestor de emergência de Detroit, Kevyn Orr.

 

Orr é o homem que pediu a protecção contra credores da cidade. “Sem uma reestruturação significativa da dívida, a cidade não será capaz de quebrar o ciclo de cortes prejudiciais em serviços e investimentos municipais que são essenciais”, justificou.

 

Uma ideia subscrita pelo governador do Estado de Michigan, Rick Snyder, que aprovou o pedido do gestor de emergência de Detroit. “É óbvio que a situação de emergência financeira em Detroit não pode ser respondida de uma forma bem sucedida sem ser através deste pedido. É a única alternativa razoável disponível”, diz. A ser aceite o pedido, a expectativa é que o retorno da bancarrota ocorra no Verão ou Outono de 2014.

 

Não é um resgate, tem sido defendido. É uma forma de fazer com que o governo de Detroit passe a ser responsável pelos seus actos. Há quem diga que o pedido é inconstitucional. Mas a expectativa transmitida pela CBS é que o caso chegue mesmo a tribunais federais.

 

Detroit segue-se a Vallejo, San Bernardino e Stockton a pedir a protecção contra credores. E também a Central Falls. Os dados não são certos entre todos os órgãos de comunicação social. Mas há um elemento que reúne consenso. Detroit é a maior cidade norte-americana a fazê-lo na história.

 

Os pensionistas que saem a perder 


Há vidas em Detroit que sofrem com este objectivo. Os pensionistas arriscam-se a perder parte das reformas. Os sindicatos já colocaram as garras de fora para protegerem os direitos de quem trabalhou décadas para ter a sua pensão.

 

As palavras de um polícia reformado, William Shine, 76 anos, ao “New York Times”, mostram o outro lado de um pedido de protecção contra credores. “Detroit tem problemas? Absolutamente. Fui eu que os criei? Acho que não. Fizeram-me promessas, eu fiz promessas. Eu mantive as minhas. Eles não vão manter as deles”. 

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