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Saraiva arrependido de ter assinado “Manifesto dos 70”
Presidente da CIP lamenta que a iniciativa tenha sido politizada. Por iniciativa de Francisco Louçã e de João Cravinho, o manifesto foi transformado em petição para ser votada no Parlamento.
António Saraiva diz que, se soubesse como a iniciativa iria ser politizada, não teria assinado o “Manifesto dos 70” a pedir a reestruturação da dívida pública portuguesa. Em entrevista na segunda-feira, 31 de Março, à noite à RTP Informação, o presidente da maior confederação patronal reitera que se juntou aos signatários porque “como cidadão, entendi que devíamos reflectir sobre o problema”. Mas perante “todo o bruaá que houve à volta do documento e as reacções que ele teve”, assim como “a politização que começa a existir à volta do documento que ganhou uma dinâmica própria”, o presidente da CIP conclui que, se fosse hoje, "não teria" assinado o manifesto.
A decisão de António Saraiva já tinha sido alvo de críticas dos quatro antigos dirigentes da confederação patronal - António Vasco de Mello, Francisco van Zeller, José Manuel Morais Cabral e Pedro Ferraz da Costa - que o acusaram de ter prejudicado os interesses das empresas portuguesas quando se juntou, envolvendo o nome da CIP, ao manifesto que pede a reestruturação da divida portuguesa. "Os Fundadores e ex-Presidentes da CIP, são legítimos defensores da memória histórica da CIP, desde a sua fundação no Verão de 74 até aos dias de hoje. Os combates, que travaram, na CIP, por um Portugal onde as empresas fossem reconhecidas, incentivadas e respeitadas, como um agente de mudança e da modernização estrutural do País, obriga-nos a vir, publicamente, repudiar a atitude do actual Presidente da CIP ao envolver-se e assinar um Manifesto que não defende, e prejudica, os interesses permanentes de Portugal", escreveram no "Expresso".
"Um presidente da CIP, que a título pessoal assina por uma instituição, fere o Património Histórico que deve respeitar, e cujo lema é, como sempre foi, a defesa intransigente da Iniciativa Privada. Ao subscrever o Manifesto, o Presidente da CIP, pôs em causa esse desígnio fundador, na ausência de consideração dos interesses globais da economia portuguesa", acrescentam.
Por iniciativa de Francisco Louçã, do BE, e de João Cravinho, do PS, o texto do Manifesto foi entretanto transformado em petição pública para ser entregue ao Parlamento para que este peça ao Governo que consiga junto dos credores internacionais um “abaixamento significativo da taxa média de juro do stock da dívida, a extensão de maturidades da dívida para 40 ou mais anos e a reestruturação, pelo menos, de dívida acima dos 60% do produto interno bruto (PIB), tendo na base a dívida oficial”.
Uma das grandes dúvidas que persiste é sobre o que os próprios signatários entendem por “reestruturação”: para Louçã e para o BE quererá dizer “perdão” de dívida, ao passo que Cravinho garante que “isso está completamente fora do consenso que se estabeleceu entre nós”. “O papão que se quer fazer a esse respeito, a confusão em que se diz ‘mas a reestruturação significa perdão de dívida’, isso é uma falsidade completa de má-fé”, assegura.