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Varoufakis assegura que as “negociações serão concluídas com sucesso”
A garantia dada pelo ministro das Finanças antecede o Conselho de Ministros extraordinário por si convocado para esta quinta-feira de forma a discutir uma lista de medidas. Em Bruxelas prosseguem hoje as negociações com uma equipa grega entretanto reforçada.
A necessidade terá aguçado o engenho do ministro grego das Finanças, Yanis Varoufakis, que deverá levar a discussão, ainda esta quinta-feira, 30 de Abril, uma lista de medidas ao Conselho de Ministros extraordinário marcado para as 16h, em Lisboa.
O To Vima adianta que esta "lista Varoufakis" pretende arrecadar receitas adicionais de entre 4,7 e 6,1 mil milhões de euros, mediante medidas que se aproximam das intenções dos credores. Entre as principais divergências permaneciam as intenções de Atenas em matéria de pensões, de ajudas a prestar às famílias no âmbito da habitação e das metas a definir para o excedente orçamental primário.
Varoufakis estará disponível, por exemplo, para se aproximar dos objectivos do Banco Central Europeu (BCE), abandonando o objectivo de proibir despejos de famílias cuja primeira habitação esteja avaliada até 300 mil euros e cujos rendimentos anuais não ultrapassem os 50 mil euros. Incrementar a luta contra a evasão fiscal ou aumentar os impostos sobre artigos de luxo também constarão desta lista.
Todavia, a Bloomberg escreve que Varoufakis terá assegurado que persistem "linhas vermelhas" inultrapassáveis, nomeadamente no que concerne às pensões, às reformas no mercado laboral e às privatizações. Também as medidas pretendidas pelo Governo grego nestas áreas haviam sido sinalizadas pelos parceiros gregos como "linhas vermelhas" a não ultrapassar.
Paralelamente, em Bruxelas, também as negociações ao nível técnico irão prosseguir esta quinta-feira entre os credores e a equipa negocial helénica, entretanto reforçada por assessores governamentais e tecnocratas gregos.
Quando se volta a aproximar a mais recente data limite definida para um acordo final, agendada para 11 de Maio, na véspera de um reembolso de cerca de 770 milhões de euros ao Fundo Monetário Internacional (FMI), Varoufakis, citado pela agência Bloomberg, assegurou esta manhã, no Parlamento helénico, que as "negociações serão concluídas com sucesso, o clima vai melhorar e, então, estaremos preparados para falar na recuperação pós-Junho".
O responsável pelas Finanças helénicas mostra-se ainda optimista que depois do fim do actual programa de assistência, que foi prolongado até Junho, Atenas terá capacidade para se financiar autonomamente nos mercados. A declaração de Varoufakis surge depois de ontem a agência Moody’s ter baixado a classificação da dívida soberana de longo prazo da Grécia, de Caa1 para Caa2, o oitavo nível do chamado lixo.
Pelo contrário, fontes relacionadas com o processo mantêm que depois de Junho a Grécia terá de preparar-se para negociar um terceiro resgate com as instituições credoras, algo que o Executivo liderado pelo Syriza assegura pretender evitar desde a primeira hora. Esta semana, também o presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, garantia que a Grécia não irá conseguir superar esta crise sem recorrer "a novos empréstimos", também ele aludindo à alegada inevitabilidade de um novo resgate.
Ao optimismo demonstrado por Varoufakis corresponde também a indicação dada à Bloomberg por fontes envolvidas nas negociações que decorrem em Bruxelas de que até domingo, 3 de Maio, será possível alcançar um acordo preliminar.
O prolongar do impasse no processo negocial entre Atenas e as instituições credoras, que levou o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, a promover uma remodelação na equipa negocial helénica, limitando o papel de Varoufakis e dando a coordenação ao vice-ministro dos Negócios Estrangeiros, Euclid Tsakalotos, terá contribuído para o desanuviar nas conversações.
Depois de Pierre Moscovici, comissário europeu para os Assuntos Económicos, admitir ver como boa a decisão da remodelação promovida por Tsipras, ontem, Martin Jaeger, porta-voz do ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble, considerava que a nova estrutura da equipa grega responsável pelas negociações com os parceiros "pode contribuir para acelerar [a chegada a uma conclusão] nas negociações".
Referendo sobre acordo provoca instabilidade
O aparente desanuviar nas conversações decorre, não apenas do papel de menor relevo agora desempenhado por Yanis varoufakis que, porém, continua a supervisionar o processo negocial, mas também do facto de Tsipras ter assumido uma postura mais interveniente.
No passado domingo, o chefe do Executivo helénico acordou manter com a chanceler alemã, Angela Merkel, um contacto directo e regular que permita facilitar a resolução de problemas e obstáculos que possam resultar das negociações ao nível técnico.
Mas além desta decisão, já na segunda-feira, Alexis Tsipras asseverou que irá promover um referendo popular sobre um eventual acordo que venha a ser alcançado com os credores, isto se as reformas inscritas no mesmo contrariarem ou forem além daquilo que o Syriza prometeu ou apresentou no seu programa eleitoral antes das eleições legislativas de 25 de Janeiro.
Quem se prontificou a criticar a garantia dada por Tsipras foi Jeroen Dijsselbloem, aludindo aos riscos e instabilidade política que uma consulta popular provocaria.
Os receios e dúvidas do político holandês são acompanhados pelo povo grego. Segundo indica uma sondagem da Mega TV divulgada ontem, 62% dos gregos estão contra a realização do dito referendo, enquanto 78% dos inquiridos querem que as autoridades atenienses consigam garantir um acordo com os credores. Na semana passada, um estudo da Universidade da Macedónia indicava que a taxa de aprovação do Governo liderado por Tsipras caiu de 72% em Março para 45,5% em Abril