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Qual pode ser o real poder de influência de Centeno?

Não obstante o favoritismo atribuído à candidatura de Mário Centeno, subsistem dúvidas sobre a verdadeira capacidade do português, ou mesmo dos restantes candidatos, para influenciar as políticas no seio da moeda única.

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02 de Dezembro de 2017 às 15:00
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Se Mário Centeno vencer a corrida à liderança do Eurogrupo, poderá o ministro português das Finanças ser consequente? Ou será um mero peão dependente de directrizes superiores?

Olhando para o poder exercido pela Alemanha, a maior economia europeia, Francisco Seixas da Costa começa por notar que a presidência do grupo de ministros das Finanças da Zona Euro é muitas vezes vista como tratando-se de um "papel tutelado". Porém, mais do que o exercício de poder, o embaixador realça que a função principal do líder do Eurogrupo passa por "gerar consensos".

Mas o antigo secretário de Estado dos Assuntos Europeus deixa desde já um aviso: "não vale a pena pensar que o Eurogrupo muda pela presença de Centeno". Desde logo, a condicionar a acção do líder da instituição surge o Grupo de Trabalho do Eurogrupo, responsável pela preparação das reuniões com os ministros das Finanças e que dá um importante contributo para a tomada de decisão.

Pedro Adão e Silva acrescenta que a capacidade de acção do líder do Eurogrupo dependerá de quem vier a ocupar o cargo de ministro das Finanças da Alemanha. Para confirmar esta tese, o sociólogo recorda o papel desempenhado por Wolfgang Schäuble na crise grega. No entanto, o actual momento político na Alemanha pode ajudar os intentos de Centeno. Numa fase ainda prematura das negociações para a formação de governo, entre a CDU da chanceler Angela Merkel e o SPD de Martin Schulz, um eventual reforço do peso dos social-democratas no próximo executivo pode favorecer a agenda do ministro luso.

Outro factor decisivo para a capacidade de acção do líder da instituição, salienta Paulo Sande, ex-director do gabinete do Parlamento Europeu em Lisboa, dependerá do modelo que assumir a reforma para uma União Europeia mais unida: "a acção do presidente do Eurogrupo será mais ou menos eficaz consoante a reforma proposta for para a frente".

Ainda assim, Adão e Silva considera que o líder do Eurogrupo dispõe de "margem de manobra", embora esta dependa muito do perfil de quem ocupa o lugar. Para já, sabe-se que Centeno, sem excluir a procura de "consensos", mas com sentido "crítico", pretende replicar à escala europeia as políticas seguidas pelo Governo português, mostrando que "na Europa é possível aliar objectivos de consolidação orçamental ao crescimento inclusivo". Na análise ao perfil do ministro português, Seixas da Costa diz que "Centeno não deixa de ser ortodoxo relativamente às finalidades, mas é heterodoxo em relação aos meios".

Se a nova realidade trazida por Centeno para o debate europeu pode ajudá-lo a ser um líder mais consequente, o português pode ser um "factor para acelerar e consolidar" as propostas para reformar a UE, conclui Sande.


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