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Grécia arrisca perder acesso a dinheiro barato do BCE após saída limpa
A concretizar-se a saída limpa do programa de assistência grego em curso, os bancos helénicos poderão perder acesso ao financiamento de dinheiro barato do BCE. Tsipras confirma que está para breve acordo para alívio da dívida grega.
A confirmar-se uma saída limpa do programa de assistência financeira concedido à Grécia, nem tudo serão boas notícias para Atenas, isto porque o sistema financeiro helénico poderá perder acesso ao dinheiro barato do Banco Central Europeu.
Por partes. Tal como confirmou esta quinta-feira, 26 de Abril, o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, numa visita à capital grega, a Grécia está bem posicionada para assegurar uma saída limpa do memorando, sem necessidade de recorrer a uma linha precaucionária. A confirmar-se, esta será certamente uma boa notícia e terá efeitos positivos na percepção dos mercados em relação à saúde financeira do país.
Porém, ao deixar de estar sob assistência externa e numa condição considerada de emergência, a Grécia perderá o acesso à isenção concedida pelo Banco Central Europeu relativamente aos mínimos exigidos na concessão de créditos. Ou seja, os bancos gregos deixariam de poder utilizar as obrigações soberanas helénicas - classificadas pelas agências de rating como investimento especulativo ("lixo") – como colateral para acederem às operações regulares de financiamento do BCE, adianta a Reuters com base em fontes envolvidas no processo.
Desta forma, os bancos helénicos deixariam de se financiar nas operações regulares do BCE, cuja principal taxa de juro praticada é de 0%, para terem de garantir financiamento através da Assistência de Liquidez de Emergência (ELA) com juros de 1,25%.
As fontes referidas pela Reuters recordam que foi precisamente este o procedimento da instituição liderada por Mario Draghi no início de 2016 relativamente aos bancos cipriotas, altura em que o BCE revogou a isenção concedida ao sistema financeiro do Chipre após o país fechar com sucesso o respectivo resgate. Actualmente, os bancos gregos garantem entre 4,5 e 5 mil milhões de euros de financiamento através das operações regulares do BCE. Yannis Stournaras, governador do banco central grego, defendeu na semana passada a manutenção da isenção em vigor. Contudo, o Governo liderado por Alxis Tsipras mantém como grande objectivo assegurar uma saída limpa.
Através da ELA, os bancos da Grécia já tinham garantido 13,55 mil milhões de euros até Março, o que se deve ao facto de durante 2015 e 2016 (pico da crise em torno do terceiro programa), o sistema helénico ter ficado afastado do programa regular de financiamento do BCE.
Paralelamente, a Grécia continuará, pelo menos no imediato, inelegível para o programa de compra de activos do BCE, já que para ter acesso precisa que pelo menos uma das quatro principais agências de notação financeira classifiquem a dívida helénica num patamar não especulativo, o que não se perspectiva para os meses subsequentes ao final do programa. Esta quinta-feira, o BCE manteve o programa mensal de compras de activos em 30 mil milhões de euros. O programa termina em Setembro.
Juncker nunca foi "fã da austeridade"
De visita à Grécia, o presidente da Comissão Europeia considerou "excelente" a capacidade demonstrada pelas autoridades gregas na implementação das reformas previstas no memorando de entendimento assinado com a troika no Verão de 2015 e que prevê um resgate de até 86 mil milhões de euros num período de três anos. O final do programa está previsto para Agosto.
"Faremos todos os esforços para assegurar que a Grécia tenha uma saída limpa do resgate. E isso significa sem uma linha de crédito cautelar", declarou Juncker aos jornalistas antes de garantir nunca ter sido um "fã da austeridade".
Já o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, reiterou o compromisso de Atenas em prosseguir o trilho de consolidação orçamental que garanta o ajustamento estrutural definido pelos credores. Tsipras adiantou ainda que a Grécia e os credores estão próximos de alcançar um acordo sobre as medidas a adoptar no sentido de garantir um alívio do fardo da dívida pública helénica, a maior entre os Estados-membros da União Europeia e também da Zona Euro, podendo escalar até aos 180% do PIB no final deste ano.
No início deste mês, o Negócios noticiou que os ministros das Finanças do euro vão finalmente recuperar as medidas definidas pelo Eurogrupo em Junho do ano passado, entre as quais figura a possibilidade de fazer depender o pagamento da dívida helénica da evolução do produto interno bruto (PIB) do país.
Apesar do optimismo demontrado por Juncker e Tsipras quanto às possibilidade de completar com sucesso o memorando, em Março o Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE) aprovou a quarta tranche, no valor de 6,7 mil milhões de euros, mas apenas libertou 5,7 mil milhões de euros, tendo a libertação dos restantes mil milhões ficado condicionada à capacidade de Atenas aplicar medidas para reduzir o stock de pagamentos em atraso, melhorar o sistema electrónico de licitação de propriedades estatais, e agilizar o programa de privatizações.